15 outubro 2005

O Celeiro de África secou

Aquele que já foi, em tempos, considerado “o celeiro de África” caminha a passo largos para a degradação total.
Segundo o relatório da FMI, agora divulgado, a África sub-sahariana será a região que menos desenvolverá este ano. Não deverá ultrapassar os 4,6% contra os 5,3% de 2004.
Para isso muito contribui (contribuirá) o Zimbabué.

De facto, o antigo celeiro que o regime e os amigos do senhor Mugabe ajudaram a destruir apresentou uma economia em completa regressão. O Produto Interno Bruto (PIB) zimbabueano terá um crescimento negativo de 7,1%.
O pior de África e o pior dos últimos anos. Já o ano de 2004 tinha registado um crescimento negativo de cerca de 2,5%. E 2006 não prevê uma melhoria, já que o relatório estima a queda do PIB em 5%.
Aliado a este deficiente clima económico o Zimbabué regista uma inflação acima dos 200%, prevendo-se que, até ao fim do ano, a mesma ultrapasse os 350% de 2004.
A política de expropriações dos terrenos agrícolas nas posse dos brancos – que começa a ter seguidores em outros Estados, embora, segundo pareça em moldes economicamente “mais humanizados” – sob a acusação – na maioria dos casos, verdade seja dita, justamente – de ocupação fraudulenta e abusiva de terrenos agrícolas; a desocupação e expulsão extemporânea de pessoas de suas casas – cujo o único crime foi terem apoiado candidatos da oposição – sob a justificação de condições de inhabitabilidade, mas que foram deixados ao abandono e sem tecto; as sanções económicas que Comunidade Internacional lhe impôs, têm ajudado a afundar, cada vez mais, a difícil economia zimbabueana.
Em compensação, a economia angolana regista o maior crescimento da região. No corrente ano, Angola deverá ver crescer o seu PIB para valores acima dos 10%. Beneficia, claramente, dos 3 anos de paz e dos sino-dólares que têm entrado no país, muito à custa do petróleo.
Em compensação, o maior produtor africano (Nigéria) não regista mais que 4%, ligeiramente abaixo do verificado em 2004, e idêntica à da maior economia africana, a sul-africana, que ainda almeja atingir a meta dos quase inacessíveis 6%.
Se Angola tem o maior crescimento de África, e um dos maiores do Mundo, outros países há que também começam a atingir valores significativos. Casos de Moçambique, Serra Leoa, Etiópia que poderão atingirem os 6-7%.
Mas para isso deverão controlar os endémicos problemas alimentares por que padecem.
Face a estas perspectivas nada animadoras para a região sub-sahariana, o FMI não deixa de alertar que ao ritmo actual, dificilmente, ou nunca, África atingirá a meta prevista para 2015, ou seja, atingir os compilados Objectivos do Milénio.

E alguém ainda se lembra – ou relembrará – quais eles são?

2 comentários:

Brigida Rocha Brito disse...

Excelente análise. Obrigada, Eugénio. Bjs

Cacusso disse...

Brilhante!
Espera-se que não ocorra o mesmo na África do Sul.
Kandandu