07 dezembro 2006

Salazar, eu? – parte II

Tanta polémica e afinal parece, uma vez mais, que a montanha pariu não um rato mas uma grande ratazana.
Pelas mãos simpáticas de um colega deste aparelho global que é o blogue, tive acesso ao discurso de Isaías Samakuva, pela VI Reunião da Comissão Política, realizada em finais de Novembro passado.
Ora segundo aquele documento escrito, o presidente da UNITA nada mais fez do que copiar uma atitude do Papa Bento (ou Benedito) XVI ao citar uma terceira pessoa para qualificar o actual regime angolano.
Em nenhum momento do seu discurso ele diz que o presidente de Angola é parecido a Oliveira Salazar mas que pelo facto de Angola vir, nos últimos tempos, a assistir “…à degradação do estado de direito, ao aumento da pobreza e à vertiginosa perda de confiança dos cidadãos nas instituições” aliados ao facto da Lei constitucional ser “…sistemàticamente violada” da corrupção estar institucionalizada e não ser devidamente combatida, do País estar sem rumo e do regime persistir “… na sua gestão casuística do poder, ora promovendo uma fachada de democracia, ora subvertendo a mesma” aliado ao facto do sagrado princípio constitucional que são as eleições estarem a ser coordenadas por “órgão não participado e não isento, a CIPE” é de molde a constatar que Angola não estará no bom caminho.
Por isso, não surpreendeu que, a dado momento, Samakuva, citando uma página do livro de José Freire Antunes "1961 - Kennedy e Salazar - O leão e a raposa", tenha aproveitado para afirmar que o actual regime angolano se parece com o regime de Salazar, principalmente nos artifícios jurídico-constitucionais para levar a água ao seu moinho. Ou seja, para perpetuar o actual “status quo” que só interessará a quem tem tudo e tudo mais quer sem se preocupar, realmente, com aqueles que nada ou quase nada têm; e são alguns quantos milhões.
A mim não me cabe fazer política. Como analista político deverei somente analisar actos e atitudes políticas.
Daí que se estranhe que alguns analistas políticos tenham vindo a terreiro clamar que estavam a insultar o presidente dos Santos chamando-lhe ditador em comparação dom Salazar.
Se lerem calmamente o discurso verão que Samakuva fala sempre no regime e nunca no Presidente. O presidente da UNITA só fala em dos Santos no terceiro parágrafo junto ao Secretário-geral das NU e no último parágrafo antes do fecho da sua palestra para falar, e ainda, no regime.
Porque será que quando convém a certos sectores, falar em regime é como se falasse no Presidente? Será que assim, já que ninguém já lhes liga, se tornaa mais fácil de serem ouvidos?
Por mim acho que o Presidente já deve estar farto de “ser mandado para a frente” quando a outros lhes convém.

1 comentário:

ANGOLA disse...

Está tudo dito!
É de ler e chorar por mais...
Faça um desenho! Talvez percebam melhor, já que chumbaram na interpretação.