11 dezembro 2006

Um já foi…

(Allende e Pinochet)
Um dos maiores ditadores da era moderna faleceu ontem na sequência de um enfarte de miocárdio tido há pouco tempo.
Augusto Pinochet, para muitos o maior ditador da América Latina – há quem queira, convenientemente, esquecer outros – e para outros uma vítima do sistema e, por isso, continuam a manter-lhe a auréola de um grande patriota, morreu como viveu: na ribalta do conflito. Ou seja, até às portas da morte e quando terá recebido a extrema-unção havia dúvidas da sua debilidade física.
Não foi julgado pelos crimes cometidos durante o seu regime pretoriano mas não conseguiu justificar muita da fortuna que acumulou no estrangeiro.
Não foi julgado pelo Golpe de 11 de Setembro de 1973, contra o governo do socialista Salvador Allende e dos morticínios que se seguiram. Mas se tivesse sido julgado, teria sido realmente condenado?
Relembro um livro que li em finais de 1974, para um trabalho escolar, editado, salvo erro, pela Edições 70, precisamente sobre o Golpe e os momentos que o antecederam, nomeadamente a greve dos camionistas que foi o rastilho final. Nesse livro, do que, lamentavelmente, não me recordo nem autor nem o título, há um capítulo onde Allende chama ao palácio presidencial as cúpulas militares que, mais tarde, tomariam o poder e disse-lhes na cara que sabia que estavam a preparar um Golpe com a conivência da CIA. Disse-lhes quem participava e quem era o chefe, bem assim, quem era o operacional que os estava a ajudar.
Allende tinha, na altura, o corpo militar presidencial a seu lado. Porque não impediu, na altura, o golpe e deteve os militares?
Ele tinha tudo nas mãos. Porque deixou o país cair no abismo como caiu?
Esta é uma das dúvidas que desde sempre me assaltou e que também o autor, no fim colocava.
Um já morreu, mas na América Latina ainda persistem outros da mesma época ou mais velhos, alguns doentes - muito doentes que nem se sabe se chegarão ao Natal, mas que não deixam de dar nome a localidades -, e que nunca foram alvo de condenações judiciais ou ainda persistem em mandar nos seus países como coutadas pessoais se tratassem.

1 comentário:

Orlando Castro disse...

Pois. Um já foi... mas será que todos os ditadores vão agora durar até aos 91 anos?

Kandandu