10 agosto 2007

Eduardo dos Santos em Cabinda

(DDR)
Apesar de não subscrever totalmente o conteúdo da Manchete, de hoje, do Notícias Lusófonas – o assunto “Cabinda” é o único que não nos permite ter e gozar da unanimidade, o que se compreende quando em presença existem pessoas que pensam e se exprimem pelas suas cabeças e não precisam dos dedos dos outros para contar para além dos dez – parece que algo não estará bem na visita de Estado que José Eduardo dos Santos iniciou hoje na província mais setentrional de Angola.
Desde manhã que se houve nas rádios a presença inusitada de militares e polícias na rua para saudar o “libertador, arquitecto da paz e da concórdia” da Nação. Quando se adora e idolatra alguém, esse alguém não precisa de estar protegido numa qualquer redoma de vidro como se de uma delicada peça de porcelana se tratasse.
O papa João Paulo II, que era o Papa, e a quem já tinham tentado matar por mais de uma vez, só admitia o “papamóvel” com vidros à prova de bala unicamente para não causar engulhos nos países que visitava; porque há-de o presidente Dos Santos ter de se submeter a esta situação ao ponto do programa de visita (uns afirmam ter sido divulgado, outros afiançam que não é público) parecer estar no segredo dos deuses?
Será que ao contrário do que divulgam alguns órgãos informativos e membros do Governo a situação em Cabinda não está tão serena como fazem crer? Será que aquilo que, segundo se ouve murmurar, com mais acuidade, ultimamente, que Miala queria advertir Dos Santos para a realidade nacional e que alguns que gravitam à volta deste não só não deixaram, como tudo fizeram para que o antigo general fosse preso, parece que será verdade?
Pelo que se sabe à imprensa não-oficial – como parecem ter sido os casos de Cristóvão Luemba, da Rádio Ecclesia, e José Manuel, da Voz da América – foi vedada a cobertura da visita do Presidente. A ser verdade e nada mostra o contrário, é muito grave e predispõe os que estão contra a presença de Luanda em Cabinda para mais e, infelizmente, justas, críticas.
E porque ainda há indivíduos contrários à situação administrativa de Cabinda detidos?
Angola se quer ser levada a sério como uma potência Democrática e cumpridora dos mais elementares Direitos Humanos, e não como potência colonial como acusam os que estão contrários à sua presença em Cabinda, deve comportar-se como tal!

1 comentário:

altohama disse...

Meu caro Eugénio,

Como sabes, entendo que Cabinda não pertence a Angola. Creio que, no mínimo, os naturais de Cabinda deveriam ter o mais legítimo direito de escolher o seu destino, seja ele a independência, a autonomia ou a integração pura e simples em Angola.

Para além das nossas divergências mais ou menos académicas sobre o assunto, registo que a tua análise é uma forte tese no sentido de que Cabinda se sente colonizada por Angola.

Também não creio que a linguagem das armas seja a mais adequada. Mas não é, na minha opinião, adequada nos dois sentidos. O regime de Angola não pode querer ter o direito a usá-las, negando-o à outra parte.

Tal como no passado recente, a paz em Cabinda nunca será conseguida contra os cabindas, mesmo que se vá comprando um ou outro dirigente local.

Se a tudo isto se juntar o perigo de, olhando para o petróleo, alguma potência africana ou não apoiar a luta da resistência, teremos o caldo entornado.

Aceita um forte, cada vez mais forte, kandandu do

Orlando Castro