07 maio 2008

Será que Geldof insultou mesmo?

(Geldof e Bono; imagem daqui)

Costumo a dizer e a reafirmar que a mim – e penso que, de uma maneira geral, a qualquer pessoa de bem – não insulta quem quer, mas quem pode!
Esta introdução se deve a “sensibilidade” de algumas pessoas, umas próximas e outras desconhecidas e sobre as quais limpei logo o e-mail por não estar com disposição em encher o meu computador e os meus suportes electrónicos de mensagens imbecis e desconexas, a maioria, relativamente à minha tomada de posição – leia-se ao artigo de Opinião publicado ontem no Notícias Lusófonas e que podem ler parte no apontamento anterior – sobre as palavras de Bob Geldof relativamente a Angola.
Pessoalmente não reconheço ao senhor Geldof moral, nomeadamente após a sua tomada de posição favorável – a que se juntou Bono, o líder dos U2, – face ao Plano Brown, de 2005, – o actual primeiro-ministro do reino Unido era, na altura, o chanceler do tesouro do Governo de Sua Majestade – que, na prática, serviu de base ao projecto europeu apresentado na Cimeira UE-União Africana e que mereceu a contestação dos principais e mais esclarecidos líderes africanos e que logra, agora, obter também a contestação do senhor Geldof.
Como disse no início a mim não insulta quem quer mas só quem reconheço capacidade para tal.
Por isso, estranha-se que o senhor embaixador de Angola, Assunção do Anjos, tenha saído da reunião onde palestrava o senhor Bob Geldof.
Ou será que havia razões para isso?...
As mesmas que levaram o BES, um dos organizadores da Palestra a dizerem que nada tinham a ver com as palavras “injuriosas” do senhor Geldof…
Pois, só insulta, ou xinga, quem pode…
.
NOTA COMPLEMENTAR: a Lusa veio dar o dito por não dito e pedir desculpas por ter prestado uma informação errada. Afinal, e ao contrário do que, inicialmente, tinha propalado, o senhor embaixador de Angola, Assunção dos Anjos, não esteve presente na Conferência proferida por Geldof a convite do BES (num Estado democrático não é habitual se saber antecipadamente o teor da Conferência; só o tema).
.
Isso não evita eu continuar a afirmar que não insulta quem quer mas quem pode e apesar de muito do que Geldof disse ser do domínio público, embora as púdicas mentes de alguns - que só falam em surdina em certos sítos e dobram-se em mesuras em outros - procurem dizer alto que ele não sabe do que disse; e, provavelmente, não sabe. Mas deve saber ler e ouvir...

1 comentário:

Anónimo disse...

Esta minha publicação não foi provocada pelas palavras de Bob Geldof, que declarou que "Angola é gerida por criminosos", mas pela reacção anónima publicada no Jornal de Angola, que me fizeram recordar textos soviéticos de triste memória.
Gostaria de saber como é que o Jornal de Angola reagiria ao artigo publicado pelo diário russo "Kommersant" no dia 01 de Novembro de 2006, aquando da visita de José Eduardo dos Santos a Moscovo.
Ao que eu saiba, o jornal oficioso angolano não reagiu, porque talvez os serviços de imprensa da Embaixada de Angola na capital russa não tenham tido coragem de traduzir o citado artigo e enviá-lo para Luanda.
Tentando colmatar esse lapso, embora com bastante atraso, publico a tradução do artigo. Deste já previno que não acrescentei uma palavra minha ou comentário ao que foi escrito.

“Ontem, o Presidente da Rússia (Vladimir Putin) encontrou-se com o seu homólogo angolano, José Eduardo dos Santos, e condecorou-o com a Ordem da Amizade, cerimónia que, segundo os analistas, esteve na origem da visita” – escreve Andrei Kolesnikov, jornalista do influente diário “Kommersant”.
Kolesnikov recorreu à ironia e sarcasmo para descrever a presença do dirigente angolano no Kremlin: “No início das conversações, o Presidente de Angola disse ao Presidente da Rússia: - Nós não viemos apenas pedir-vos ajuda. Ou seja, José Eduardo dos Santos tinha também outro objectivo. O facto é que o principal acontecimento deveria ser a entrega ao Presidente de culto de Angola a Ordem da Amizade. Segundo informações recolhidas pelo “Kommersant” foi decidido condecorar o Presidente de Angola depois de Vladimir Putin não ter visitado esse país durante o périplo por África em Setembro passado”.
Quanto à razão de Putin não ter parado em Luanda durante a viagem entre a África do Sul e Marrocos, o Kommersant escreve: “Avançaram-se numerosas versões. Mas eu considero que isso aconteceu, porque foi proposto a Vladimir Putin fazer uma vacina, sem a qual o voo para Angola e, depois, a viagem para um país mais ou menos desenvolvido, mesmo que a República da África do Sul, simplesmente não teria perspectivas de se realizar. Como se veio a saber, no caso do Presidente Putin, a proposta de que tinha de se vacinar também deu em beco sem saída”.
“Os angolanos – continua o diário russo – ficaram ofendidos por Putin não ter querido tomar a vacina e foi-lhes prometido uma visita do seu Presidente à Rússia para breve. Os que lhes fizeram esssa proposta estavam convencidos de que a viagem à Rússia é um bónus para qualquer estrangeiro”.
Segundo o “Kommersant”, “o Presidente de Angola, José Eduardo dos Santos, que governa o seu país desde 1978 e venceu a guerra pela sua independência, tencionava lutar pela honra do seu país neste caso. Ele exigiu que a sua visita fosse uma visita de Estado”.
“Os diplomatas russos – revela o jornal – sabendo que o Presidente de Angola não podia ter esperanças no mais alto nível da visita, que o dirigente desse país só pode conquistar com um comportamento exemplar ou pelo menos com a envergadura do Produto Interno Bruto do seu país, propôs aos angolanos um compromisso atractivo: a visita não seria de Estado, mas oficial, e Vladimir Putin, como compensação, condecoria Eduardo dos Santos com a Ordem da Amizade. Além disso, subentendia-se que o estatuto dessa ordem era mais ao menos igual ao da visita”.
O jornalista Andrei Kolesnikov constatou, nos corredores e salas do Kremlin que não foi fácil o diálogo entre os dirigentes russo e angolano: “Ao lado, junto à porta de um corredor que conduz a uma casa de banho, trocavam sussuros os assessores dos participantes das conversações, que, de tempos a tempos, entravam na sala: - Não há inimigos mais irreconciliáveis do que os antigos amigos...”
“Pensei precisamente nisso – continua Kolesnikov – ao ver as caras dos dois Presidentes quando entraram na Sala de Malaquite e se sentaram a uma distância de meio metro. Tratava-se de caras de pessoas não muito contentes com a vida. Elas simplesmente não olhavam um para o outro. Elas não trocaram uma só frase durante a meia hora em que foram assinados dez acordos”.
Kolesnikov ficou mais surpreendido ainda quando José Eduardo dos Santos afirmou que para ele era uma grande honra receber “dentro de alguns instantes a Ordem da Amizade”.
“Nunca ouvi dizer que uma pessoa agradeça a outra pela ordem que ainda não lhe foi dada” - comenta o jornalista.
“Quando os Presidentes da Rússia e Angola, finalmente, se levantaram, os membros das delegações e jornalistas fizeram o mesmo. Todos compreenderam que iam assistir a um acontecimento comparável à entrega da mais alta condecoração de Estado por Leonid Brejnev, Secretário-geral do Partido Comunista da União Soviética, ao imperador da República Centro-Africana, Bokassa”.

Publicada por Jose Milhazes em 17:24 2 comentários