31 dezembro 2010

Adeus Lula bem-vinda Dilma!

Brasil, no primeiro dia do ano de 2011 vai ver mudar de inquilino no Palácio do Planalto.

Depois de 2 mandatos consecutivos, Luís Inácio “Lula da Silva deixa, naturalmente, o seu assento presidencial e transmite-o a Dilma Rousseff, vencedora das eleições presidenciais de Novembro de 2010, sua “natural sucessora” dentro do PT, com cerca de 56% dos votos contra os cerca de 44% obtidos por José Serra, do PSDB.


Para este facto solicitei ao jornalista e bloguista Rildo Ferreira uma opinião sobre a nova presidente (e não presidenta como gosta de se intitular porque em português todos os verbos que definam “acção”, como presidir, por exemplo, derivam em particípios activos com os sufixos “ante”,”ente” ou “inte”; logo, presidir dá presidente!) bem assim como se posicionará face a África.


Ficam aqui, pois, os dois textos de Rildo Ferreira!

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Descendente de Búlgaros é eleita a primeira mulher presidenta da República Federativa do Brasil

Por Rildo Ferreira [Rio de Janeiro, Brasil]


Filha de Pedro Rousseff e da carioca(1) Dilma Jane, Dilma Rousseff nasceu em Belo Horizonte (MG) no dia 14 de dezembro de 1947. Na juventude, a vida da nova presidenta do Brasil ficou marcada pela militância contra a ditadura atuando no movimento estudantil, e chegou a ser presa e torturada.


Em 1973, deixa a prisão e se muda para Porto Alegre, capital do Estado do Rio Grande do Sul, onde estava preso o marido Carlos Araújo, também militante contra a ditadura.


Cursou Economia na Universidade Federal do Rio Grande do Sul e, no Rio Grande do Sul, ajuda na fundação do Partido Democrático Trabalhista (PDT). Em 1986, foi secretária de Fazenda da prefeitura de Porto Alegre e secretária estadual de Minas, Energia e Comunicações do Estado gaúcho. Em 2000, filiou-se ao Partido dos Trabalhadores (PT), legenda que lhe garantiu o direito de concorrer e ser eleita a primeira presidenta da República Federativa do Brasil com 56,05% dos votos válidos (55.744.942 votos).


O atual presidente Luis Inácio LULA da Silva a conheceu por intermédio do então governador do Rio Grande do Sul Olívio Dutra (PT-RS) e ficou impressionado como a secretária de Minas, Energia e Comunicação daquele Estado driblou o apagão energético ocorrido em 2001, durante o governo do então presidente Fernando Henrique Cardoso, garantindo aos gaúchos energia suficiente para não se submeter ao racionamento proposto pelo governo federal.


O Presidente LULA a convidou para assumir o Ministério de Minas e Energia da União com um orçamento de R$ 20 bilhões. Em seguida, assumiu a chefia da Casa Civil e um orçamento anual de R$ 540 bilhões e a responsabilidade de conduzir o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) com obras importantes de infra estrutura, recuperação da indústria naval e o maior programa de habitação já realizado no país. Em março deste ano, coube a Dilma Rousseff anunciar o PAC-2, um conjunto de projetos para os próximos quatro anos e um orçamento de R$ 1 trilhão, recursos que serão garantidos com a descoberta de uma grande reserva de Petróleo na camada do préssal.


Para chegar à condição de primeira presidenta do Brasil, Dilma Rousseff superou preconceitos:


- porque era mulher e chegou a ser questionada pela oposição se teria condições de dar conta aos problemas que o país tenta superar.

- porque em 2009 teve que se submeter a uma cirurgia para a retirada de um tumor na axila direita. O tratamento quimioterápico a levou a perder pelos obrigando-a a usar uma peruca por um longo período. Então a oposição questiona a saúde da candidata Dilma Rousseff, mesmo tendo a equipe médica divulgado um laudo conclusivo dizendo que Dilma estava “livre de qualquer evidência de linfoma”.

- porque é filha de Búlgaros. A oposição usou do expediente mais odioso e usou a manipulação para tentar fraudar a vontade do eleitorado. Numa montagem profissional falseou uma reportagem húngara para afirmar que Dilma não tinha naturalidade brasileira.

- por ter lutado contra a ditadura a imprensa brasileira, de voto declarado na oposição, falseia uma ficha policial dos tempos da ditadura para afirmar que a candidata petista tinha sido uma guerrilheira com relações amiúdes com o narcotráfico e com as FARC, Força Armada Revolucionária da Colômbia.

- porque declarou que era contra a criminalização do aborto, embora não aprovasse o ato abortivo, a oposição se valeu da afirmação da candidata para instigar o ódio e o preconceito religioso. A esposa do candidato da oposição, dona Monica Serra, chegou a afirmar em via pública que Dilma era “a favor de matar criancinhas”.


Mas nem tudo foram pedras no caminho da candidata petista. Seu principal cabo eleitoral foi o presidente LULA que tem a aprovação popular com índices que superam os 80 pontos em todas as pesquisas realizadas. O bom momento econômico que o país vive também foi decisivo. As pessoas querem a continuidade do que está dando certo.


Sob o governo do presidente LULA, 28 milhões de pessoas deixaram a extrema pobreza, graças ao maior programa de distribuição de renda já realizado no país: o Bolsa-Família. O programa oferece uma ajuda em dinheiro para as famílias com renda per-capita de R$ 90. Os beneficiários tem a obrigação de levar crianças menores de 7 anos regularmente para o atendimento médico e obrigando aos que tiverem idade a freqüentarem a escola com presença de, no mínimo, de 75% do ano letivo.


Outros 32 milhões de pessoas passaram a ocupar a classe média brasileira. O consumo interno aumentou; facilitou-se o crédito para os mais pobres e o que é mais importante: criou-se cerca de 15 milhões de novos empregos com carteira assinada. O programa Luz para todos levou energia elétrica para o campo beneficiando cerca de 3 milhões de pequenos agricultores. O desmatamento da Amazônia reduziu de 47 milhões de hectares ano, para cerca de 17 milhões de hectares ano. Está em andamento o maior programa habitacional já implementado pelo governo federal: o programa Minha Casa, Minha Vida. Neste programa, o governo federal garante 23 mil reais para a compra da casa própria para quem ganha até 3 salários mínimos.


O presidente LULA que jamais negou ter sido escolarizado com apenas 4 anos de estudo foi o presidente que mais investiu na educação dos brasileiros e brasileiras. Foram 14 universidades construídas e muitos outros campus avançados. Até o final do ano serão 214 escolas técnicas em todo o país. O Programa Universidade Para Todos (ProUni) garante a todos e todas o acesso ao ensino universitário quando o pretendente não consegue vaga nas universidade públicas e já beneficiou 700 mil estudantes. Neste caso, o governo garante bolsas de estudos de 50% do valor da mensalidade, ou Integral, de acordo com a renda familiar, para que o aluno possa estudar numa universidade privada.


Tudo isso foi determinante para que a maioria da população tivesse o desejo de continuidade de um governo popular e democrático. José Serra (PSDB-SP), o oponente de Dilma Rousseff, embora dissesse garantir a continuidade dos programas do governo LULA, seus principais assessores declaravam mudanças na economia e nos programas sociais. A própria dona Monica Serra, esposa do candidato da oposição, chamou o Bolsa Família de bolsa-esmola. Seus aliados diziam que o Bolsa Família criava vagabundos e, portanto, deveria ser extinto. O partido aliado do candidato tucano, o DEM, que indicou o candidato a vice presidente na chapa, entrou no Supremo Tribunal Federal (STF) com um pedido de inconstitucionalidade do Programa Universidade Para Todos.


Essas ações conjugadas com declarações contundentes deixavam dúvidas sobre o compromisso do candidato da oposição em manter os programas sociais implantados pelo presidente LULA.


A 31 de outubro, 106.593.365(2) foram às urnas e deram à Dilma Rousseff 55.744.942 votos (56,05%) contra 43.707.036 votos (43,95%) do candidato José Serra. Às 20 horas e 17 minutos, o ministro do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) Ricardo Lewandowsky anunciou que matematicamente Dilma Rousseff estava eleita presidenta do Brasil.


A eleição transcorreu normalmente e foram poucas as urnas eletrônicas a serem substituídas. Cada eleitor demorou aproximadamente 30 segundos na seção eleitoral para votar no seu candidato. 686 urnas eletrônicas tiveram de ser substituídas em todo o país até por volta das 10h30 (horário de Brasília), o que representa 0,171% das urnas do país.


Como comparação, em todo o dia de votações no primeiro turno, no último dia 3, 2.244 urnas tiveram de ser substituídas por problemas técnicos, o equivalente a 0,56 por cento dos equipamentos de todo o país.


Foram registradas, ainda, 34 ocorrências de crime eleitoral neste domingo, sendo que 13 delas resultaram em prisões, de acordo com o boletim do TSE (Reuters).


Petistas e simpatizantes da candidatura Dilma foram às ruas com bandeiras e buzinas para comemorar a eleição da primeira mulher presidenta do Brasil. Com este advento, o Brasil se torna uma das maiores democracias do mundo. Em seu primeiro discurso como presidenta, Dilma disse que vai honrar todas as mulheres brasileiras; que conversará com todos os brasileiros e brasileiras; que governará com responsabilidade e justiça: Não podemos descansar enquanto houver brasileiros com fome, enquanto houver famílias morando nas ruas, enquanto crianças pobres estiverem abandonadas à própria sorte. A erradicação da miséria nos próximos anos é, assim, uma meta que assumo, mas para a qual peço humildemente o apoio de todos que possam ajudar o país no trabalho de superar esse abismo que ainda nos separa de ser uma nação desenvolvida.” Disse.


Na primeira viagem depois de eleita, Dilma estava previsto acompanhar o presidente LULA numa viagem à Coreia do Sul para o encontro do G20 em Seul com passagem por Maputo, em Moçambique, na África, onde LULA vai conhecer o local onde será instalada uma fábrica de medicamentos antirretrovirais, para tratamento da AIDS, a ser administrada pela Fundação Osvaldo Cruz (Fiocruz) (3).


Notas:

1 Termo atribuído aos nascidos no Estado do Rio de Janeiro.

2 Dados de 99,98% das urnas apuradas. A apuração não tinha sido totalizada no fechamento do artigo.

3 O texto foi escrito ainda em inícios de Novembro.

1 comentário:

Rildo Ferreira disse...

Caro amigo.

Muito me honra ler em Pululu um artigo assinado por mim, quiçá dois. Nossa amizade começou com minha curiosidade sobre os países de Língua Portuguesa no continente africano e segue se consolidando com troca de informações das nações que nos abrigam em seus seios.
Entretanto, tenho que discordar quanto a introdução que fazes neste artigo em especial. Para o nosso lexicógrafo, filólogo, professor, tradutor e ensaísta brasileiro, Aurélio Buarque de Holanda Ferreira reconhece o verbete Presidenta como sendo [Feminino de presidente] um substantivo feminino:
1.Mulher que preside.
2.Mulher de um presidente.
Hoje mesmo, durante discurso de posse, a própria presidenta utilizou este verbete para um tratamento pessoal ao referir-se a si mesma, logo, nós brasileiros, reconhecemos a forma como sendo igualmente correta.
Quero que considere essas informações, não para influenciar vossa cultura, mas para que conheça pormenorizada a minha.
Um grande abraço e obrigado pelo presente ao publicar meus artigos.
Que o nobre Doutor e seus familiares, assim como todos os homens e todas as mulheres que falam o Português segundo o seu dialeto, em qualquer parte do mundo, tenham um excelente ano de prosperidade, muito trabalho, muita saúde e infinita paz interior.
Rildo Ferreira