30 abril 2011

Cabinda, obra literária de Orlando Castro apresentada

Tive hoje na apresentação da nova obra literária de Orlando Castro "Cabinda, Ontem Protectorado, hoje Colónia , amanhã Nação" ocorrida no salão Artur Portela, da Casa de Imprensa, com uma boa moldura humana a quase enchê-la.

Uma obra que, como se pode conferir pelo título, tem todos os condicionamentos para ser polémico mas nunca indiferente.

E por ser polémico, sobre uma matéria quase desconhecida de uma significativa parte da lusofonia e, por ter sido apresentada na “sua” casa, estranha-se que a Comunicação Social portuguesa tenha pautado – também não compreendo porque estranho, já que é habitual quando os assuntos mexem com certos interesses – pela ausência.

E não podem evocar desconhecimento porque, honra lhe seja feita, a agência portuguesa Lusa divulgou este acontecimento. A prova disso, é que houve uma honrosa excepção, na presença de uma rádio internacional no evento.

Esperemos que agora haja alguém que leia também a obra e apresente uma visão diferente para manter bem viva a problemática e o debate: Cabinda, ser Angola ou autónoma.

Eu, por mim, mantenho a minha posição e que consiste em permitir um maior debate com vista a uma solução que interesse a todas as partes por igual!!

27 abril 2011

O fim de um regime? (artigo bloqueado...)

O 11 de Abril de 2011, com a detenção do antigo presidente ivoirense Gbagbo pelas forças conjuntas franco-onusianas, pode ter marcado não só o fim de um regime e a alteração de um rumo de uma potência regional como a reafirmação de uma antiga potência colonial e um novo estatuto das Nações Unidas.

Não foi só a queda, inevitável deposição, de Gbagbo e do seu consolado que se verificou na tarde deste dia face ao ataque das forças aerotransportadas francesas e da ONU sob ordem do Secretário-geral, Ban Ki-moon, apoiando as milícias republicadas de Ouattara como também o persistente apoio angolano, à revelia do que dimanava das cúpulas da União Africana, foi posto em causa e a afirmação de Angola, na região seriamente afectada com claros benefícios para a Nigéria, desde o início apoiante da causa de Ouattara.

Mas foi também uma alteração da posição da França como potência fiscalizadora e suserana, apesar das autoridades diplomáticas francesas persistirem que as suas forças somente “bombardearam alvos militares” em Abidjan e que depois foram os soldados milicianos leais ao presidente reconhecido pela comunidade internacional, Alessane Ouattara, quem entraram no palácio presidencial e detiveram Laurent Gbagbo, familiares e alguns dirigentes, tendo os franceses, segundo estes, se limitado a respeitar as “resoluções do Conselho de Segurança; nada mais e nada menos”, é evidente que a sua participação mais não foi que uma revanche face às “derrotas” da diplomacia francesa na crise dos finais de 90 que ocorreram na Côte d’Ivoire e que levaram, posteriormente, à afirmação do poder de Gbagbo questionada em eleições de Novembro passado e que deram a vitória, internacionalmente reconhecida como tal, de Ouattara.

Por outro lado, surpreendeu o persistente apoio de Angola ao presidente vencido, apesar da maioria da comunidade internacional ter aceite como vitorioso Ouattara, correndo por fora, como define e bem, o académico Celso Malavoneke, à Rádio Ecclesia, Emissora Católica de Angola. Uma posição questionável na estratégia do país para a região do Golfo.

Não surpreendeu num ponto de vista jurídico-institucional, porque aí Angola evidenciava bom senso face às posições do Comissão Eleitoral Independente e do Conselho Constitucional (apesar deste ser constituído, em maioria, por elementos afectos a Gbagbo) mas porque o presidente deposto tinha sido um dos maiores apoiantes – e quem afirme co-financiador – de Savimbi e da UNITA. E já nem se fala no propalado mujimbo de haver forças angolanas a apoiar a tropa de elite de Gbagbo o que a confirmar-se – e não se verificou até agora – seria, por certo, explorado pelas milícias de Ouattara e certa imprensa francófona.

Por fim a tomada de posição das Nações Unidas em solicitar – leia-se, ordenar – às forças francesas estacionadas em Abidjan que apoiassem um ataque à residência presidencial para desalojar o presidente declarado vencido e destruíssem as armas pesadas que provocavam inúmeras vítimas. Não se questiona a benignidade do acto, mas já se questiona porquês só as armas pesadas de Gbagbgo e não, também, as de Ouattara. Veremos se esta posição de Ki-moon se irá também estender à questão da Líbia e, assim, termos uma nova filosofia onusiana.

Para já parece ter o apoio de um largo leque de países, como da França, da China (que não criticou) e dos EUA, nomeadamente da Secretária de Estado Hillary Clinton que, judiciosamente, foi adiantando – e para bons entendedores parece-me bem clara – que a detenção de Gbagbo foi um “forte recado aos ditadores da região no sentido de que não deveriam ignorar as vozes de seus povos, que pedem eleições livres e justas” e reforçando “que haverá consequências para aqueles que se agarrarem ao poder”.

Aguardemos, agora, que Ouattara cumpra o que prometeu e não haja uma indiscriminada “caça às bruxas” porque, como em todas as crises militares, não houve só culpados de um lado…

NOTA: O artigo acima foi elaborado, a pedido, para um órgão informação angolano mas que, posteriormente, os seus "patrões" optaram por o não fazer evocando que o mesmo era "demasiado cru". Quem manda, pode... e eu «aceito» este... "bloqueio"!!

Este artigo foi posteriormente citado no Club-K e no semanário Folha8

18 abril 2011

Burkina Faso em chamas?

O Continente africano continua a ser varrido por ventos anti-dinossauros do poder.

Desta feita foi no Burkina Faso, onde Blaise Campaorá, no poder há cerca de 24 anos, viu-se na necessidade de fugir da capital Ouagadougou depois dos militares, nomadamente da seu regimento presidencial, se terem revoltado, tal como já tinha acontecido em finais de Março passado, por causa do não pagamento de um subsídio prometido.

E para que a situação seja mais escaldante, estudantes andam em protesto para saberem as razões que levaram à morte, em condições ditas obscuras, de um aluno em Koudougou, localidade do centro oeste do país.

Segundo algumas notícias de agências de informação estrangeiras, no local, os militares terão saqueado e queimado casas de assessores do presidente Campaoré.

O certo é que a revolta já se estendeu a várias cidades do Burkina Faso o que levou Campaoré a declarar a demissão do Governo liderado por dissolveu nesta sexta-feira por decreto o Governo do primeiro-ministro Tertius Zongo e nomear o coronel Honoré Naberé Traoré como novo chefe do Estado-Maior das Forças Armadas, em substituição ao general Dominique Dienderé, bem assim declarar o recolher obrigatório na capital burkinassa.

Entretanto, comerciantes irritados com os ataques dos militares atacaram e incendiaram a sede do partido de Campaoré, o Congresso para a Democracia e o Progresso (CDP), bem assim a sede do Governo.

Bem podem outros dinossauros declarar que alguém anda a querer criar confusões por África que isso parece já não ser importunável para os ventos da mudança…

Na Nigéria, Goodluck mantém-se?

Tudo aponta para que o presidente Goodluck Jonathan se mantenha no cargo após as eleições presidenciais deste fim-de-semana na Nigéria.

Até ao momento Goodluck já terá conquistado 31 dos 36 Estados nigerianos, além do Distrito federal que inclui a capital Abuja, derrotando o candidato proveniente dos Estados norte muçulmanos, Muhammadu Buhari, ex-comandante militar.

Apesar dos observadores terem afirmado que estas foram as mais livres, justas e críveiseleições, ultimamente registadas, no mais populoso país de África e principal exportador de crude do continente, no dia de hoje jovens, na maioria, estudantes e nas cidades do norte islâmico, manifestaram-se contra a propalada reeleição, levando a uma intervenção dos militares que terão disparado para o ar.

Só esperemos que as balas não tenham, eventualmente, ricocheteado nas nuvens e provocado vítimas entre os manifestantes…

12 abril 2011

A queda de Gbagbo...

O 11 de Abril de 2011, pode ter marcado não só o fim de um regime com a detenção do antigo presidente ivoirense Laurent Gbagbo pelas forças conjuntas franco-onusianas, como pode, ainda, potenciado a alteração de um rumo de uma determinada potência regional, no caso, Angola, como ter aliado a reafirmação de uma antiga potência colonial, a França, e de um novo estatuto das Nações Unidas. pela intervenção clara e inequívoca de forças da ONU num conflito.

É certo que, de acordo com as autoridades francesas, teriam sido as forças milicianas de Alessane Ouattara, declarado internacionalmente como vencedor das eleições de Novembro passado, a deter Gbagbo. Mas também é certo que isso só terá acontecido devido ao apoio aerotransportado das forças francesas num ataque promovido contra a residência presidencial onde estava acoitado o declarado vencido presidente após solicitação do secretário-geral das nações Unidas, Ban Ki-moon, para que fosse evitado um massacre das populações civis.

Mas se Gabgbo foi o derrotado e franceses e milicianos de Ouattara os grandes vencedores numa refrega onde o povo foi quem mais sofreu, é também certo que a estratégia de Angola, na região, saiu fortemente beliscada. Veremos como os parceiros da União Africana verão, no futuro, esta atitude angolana de persistir na manutenção de Gbagbo como presidente, apesar dos esforços da comunidade internacional no sentido contrário.

E as palavras da senhora Clinton, ontem, foram bem elucidativas quanto a um certo futuro…

04 abril 2011

E são 9 anos de Paz

Faz hoje 9 anos que as armas se calaram, oficialmente – mas, infelizmente, não totalmente, porque Cabinda ainda vê a guerra nas suas terras – em todo o território nacional com a assinatura do Memorando de Paz de 2002.

Em 9 anos muito aconteceu e muito há ainda por se fazer.

- Desenvolveu-se o Pais – é um eterno estaleiro de obras –, mas ainda faltam muitas casas para a população, água e luz e um saneamento básico por incrementar;
- Há uma Constituição, um Governo, mas ainda não há total justiça social;
- Há muito dinheiro resultante da, talvez, excessiva extracção do petróleo, dos diamantes, de alguns minérios, mas o seu espólio está dividido por muitos poucos em detrimento de muitos que ainda subsistem na miséria;
- Há partidos e organizações políticas legais, mas quem ouve, lê ou televê as notícias fica com a ideia que só há um partido no País;
- Em breve as principais vias-férreas estarão totalmente operacionais, mas não teria sido mais aconselhável ter modernizado as linhas ferroviárias tornando-as mais apelativas aos utilizadores (passageiros e aos exportadores/importadores) electrificando os caminhos-de-ferro? ganharia o País por duas vias: mais rentabilidade ferroviária, portuária e incremento da electrificação do País;

E, de certeza, muito mais se poderia acrescentar como, por exemplo, a Paz permitiu que voltasse ao meu País alguns anos depois, mas porque hoje é Dia da Paz, que haja Paz, fraternidade, liberdade e bom senso!

01 abril 2011

Quem perde na Cote d’Ivoire?

(Foto © Jean-Philippe Ksiazek/AFP/Getty Images, in Zwela Angola)
A Cote d’ Ivoire está a ferro e fogo total e isso já todos sabemos.


O vencedor internacional – que não institucional – das eleições presidenciais de Novembro de 2010, Alassane Ouattara, está a avançar inexoravelmente para Abidjan a fim de forçar a destituição do antigo presidente e declarado vencido nas citadas eleições, Laurent Gbagbo.


As forças de elite presidenciais e as milícias de Gbagbo estão impotentes face à vantagem adquirida pelas milícias e pelas Forças Republicanas da Costa do Marfim, o novo exército criado por Ouattara, que já conquistaram a capital política, Yamoussoukro, o principal veículo de escoamento da fonte de subsistência de Gbagbo, o cacau, o porto de San Pedro, e terão ocupado a televisão ivoirense aproximando-se do palácio presidencial, no bairro do Plateau, onde estará acoitado Gbagbo.


Quase toda a comunidade internacional tem pedido ao cessante e derrotado presidente que entregue pacificamente o poder a Ouattara. Quase toda até ontem quando as duas maiores potências austrais fizeram uma “fleec-flack” á retaguarda e decidiram apoiar os esforços da União Africana a favor da Paz e da entrega do poder a Ouattara.

É que tanto Angola como África do Sul reconheciam Gbagbo como o presidente da Cote d’Ivoire dado que afirmavam que teria havido uma precipitação da comunidade internacional em reconhecer a vitória de Ouattara, declarada pela Comissão Eleitoral Independente, quando ainda decorriam contagens finais dos votos pelo que achavam que a declaração final do Conselho Constitucional, próxima de Gbagbo, é que validava as eleições e estas davam o presidente cessante como vencedor.


Posteriormente, primeiro Zuma, numa declaração pública, e quase logo de seguida apoiada por Angola, começaram a propor que Gbagbo ficasse no poder como presidente transitório até serem efectuadas novas eleições presidenciais no país, sob supervisão da comunidade africana, o que foi liminarmente rejeitado quer por Ouattara, quer pela Nigéria, com interesses potenciais na região – que disputa com Angola – quer, sem espanto, pela França, um dos principais apoiantes d Ouattara e suporte das forças das Nações Unidas que, desde o fim da guerra-civil, em 2009, se encontram na terra do cacau.


É certo que os grandes derrotados desta situação caótica e violenta são o povo iroirense – mais que um derrotado, é a maior vítima –, porque o fim da crise trará, inevitavelmente, actos vingativos tais como “Saques, extorsões e, mais graves, raptos, detenções arbitrárias e maus tratos aos adversários”, que já estará acontecer como alertam as Nações Unidas, através da ONUCI, bem assim o presidente cessante renitente Gbagbo.


No entanto, é fatal que tanto Angola como a África do Sul pautam-se como as grandes derrotadas da questão ivoirense ao verem as suas pretensões pró-Gbagbo serem “condenadas” pela União Africana ao apoiarem Ouattara e a sua caminhada para o palácio presidencial, apesar do presidente em exercício da UA ser Teodoro Nguema Obiang, o autocrata chefe de Estado da Guiné-Equatorial, um dos sete países africanos que Gbagbo afirma ainda o apoiarem (África do Sul, Angola, Congo Democrático, Gâmbia, Gana, Guiné Equatorial e Uganda).

Citado no Zwela Angola, na coluna "Malambas de Kamutangre"