28 julho 2017

Mbanza Kongo para Dia Nacional da Cultura - artigo

O 8 de Julho de 2017 vai ficar na História Cultural de Angola como o dia em que, pela primeira vez, uma área nacional é elevada a Património Mundial, Cultural e Material da Humanidade, pela UNESCO. O Centro Histórico de Mbanza Congo foi quem obteve, e por direito, este “nosso pioneiro” importante galardão.


Um marcante dia da Cultura Nacional que deve ser recordado e preservado.

Foram vários anos de luta burocrática e de inconsequentes e inacabados projectos para que Mbanza Congo chegasse a tão bom porto. É certo que coisas feitas à pressa acabam por resvalar no nada e no vazio. Talvez tenham sido bons estes desenvolvimentos desencontrados ao longo dos anos.

Mas, agora não nos basta ficar com o nome nos Patrimónios Mundiais da Humanidade se não protegermos, devidamente, a área protegida.

E isso tem custos e não são poucos.

Primeiro, há que educar e sensibilizar as populações locais e administrativas que não são possíveis alterações paisagísticas e estruturais à estrutura (área envolvente e física) que levou ao galardão; segundo há que preservar essa área; terceiro, há que dar e assegurar condições técnicas, como acessibilidades, estruturas hoteleiras, saneamento básico, e humanas, como formação de pessoal ligado à hotelaria, ao turismo, a administração pública de monumentos, etc.

É certo que tudo isto tem custos, e não são poucos. Mas havendo tudo isto, haverá um fluxo de turismo que irá suportar não só todos estes custos como, ainda, dará para desenvolver a cidade e toda uma região envolvente.

Mas este galardão acaba por não contemplar só o Centro Histórico de Mbanza Congo. Ao fazê-lo a UNESCO está, também, a alertar para a preservação e solidificação de todo um complexo antropológico e etnolinguístico, geográfico e histórico do antigo e ancestral Reino do Kongo que ocupava territórios de Angola, República Democrática do Congo, República do Congo e há claros vestígios da zona sul do Gabão, ainda que alguns recentes historiadores – principalmente entre os afro-brasileiros, e talvez não estejam tão errados (não esquecer que parte da História do reino é-nos transmitida por historiadores europeus baseados, muitas vezes, em deturpadas fontes orais) – admitam que os reinos que estavam estabelecidos onde hoje é o Gabão, seriam reinos suserados do Reino do Kongo.

Ainda que nos cinjamos à área galardoada como Património Mundial, não esqueçamos que esta é sede da região etnolinguística Bakongo (Ba – Os – Kongo – Caçadores), cuja língua é o kikongo que predomina entre a grande maioria dos habitantes da província do Zaire e de algumas áreas que se estendem até à província de Luanda.

Por tudo isto, é que todos nós teremos de preservar o que tanto nos custou conseguir: ser incluídos na vasta lista de áreas Património da Humanidade.

E temos outras áreas no País que pode fazer companhia ao Centro Histórico de Mbanza Congo como Património Mundial Material e Cultural da Humanidade. Estava a recordar o centro histórico de Benguela, a Zona Alta da cidade de Luanda, e muitas outras zonas etno-históricas.

Há, ainda, não esquecer, a defesa do nosso diferenciado mosaico etnográfico que pode ser um natural candidato a vários galardões de Património Imaterial da humanidade.

Cabem aos nossos Governos centrais e provinciais, tomarem medidas que os conduzam nesse sentido. Não desprezar um facto importante, principalmente, a nível económico: que a Cultura e o Turismo estão, muitas vezes interligados! E ambos permitem, economicamente, desenvolver regiões, localidades, países! E trás felicidade às pessoas.

Pois, foi o 8 de Julho de 2017 que nos faz recordar que quando a vontade predomina, não há burocracias e abrolhos que nos fazem esmorecer, parar!

E porque isso é verdade deveríamos, já a partir do próximo ano – e por certo que todos os concordarão –, comemorar e celebrar este dia, como o Dia Nacional da Cultura!


NOTA: E em termos de Cultura, recordar dois excelentes livros apresentados em Lisboa, para os quais, ainda que de matérias diferentes, aconselho um franca, aberta e ponderada leitura: de Jonuel Gonçalves “Franco-atiradores: Clandestinidade e Informalidade nos Combates Democráticos em Angola (Abril de 1958 – Abril de 2017)” – uma obra quase autobiográfica política e de cidadania – :a outra de William Tonet “Cartilha do Delegado de lista” – como o próprio título evidencia, uma proposta de leitura a todos os que vão ser Delegados no acto eleitoral do próximo dia 23 de Agosto de 2017!

Publicado no semanário Novo Jornal, edição 492, de 21.Julho.2017, página 19

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