21 setembro 2012

Huambo centenária


(Huambo, cidade-viva; foto daqui)

A cidade do Huambo comemora hoje o seu centenário desde que foi fundada pelo antigo governador-geral de Angola, gen. Norton de Matos.

Tendo como mentor geónimo Uambo (ou Wambo) Kalunga, um renomado caçador de elefantes e príncipe local, a cidade foi fundada faz hoje, precisamente, 100 anos!

Talvez que, por causa do seu topónimo, haja quem defenda que a cidade dever-se-ia chamar de Uambo e não Huambo, mas…

Parabéns à bela cidade-coração de Angola, hoje novamente ligada à cidade-litoral irmã do Lobito (mais nova um ano…) pelo CFB!

1 comentário:

  1. Quando eu regressar


    Sabes, meu amigo,

    faltou-me sempre o tempo para regressar

    e se muitas vez voltei ao mesmo lugar

    não foi para matar saudades,

    levou-me a vontade de aprender histórias de futuro

    para poder contar

    a todas as pessoas boas,

    as que entendem as nossas linguagens

    em diferentes paragens.

    Houve um dia

    em que ouvi a Júlia,

    a minha Mãe Negra, a chorar

    porque os meninos iam para o Puto

    para não regressar.

    Nas suas lágrima vi luto.

    Hoje digo-lhe, sem mentir,

    que estou a residir

    em todos os lugares de todos os continentes

    onde vivem pessoas decentes e inteligentes,

    incapazes de serem subservientes,

    enojadas pela proliferação de trintadinheiros

    instalados em dourados poleiros.

    Também me lembro

    quando, na Emissora Oficial de Angola,

    nos tempos de antena dos diferentes partidos,

    pediam ao meu pai para ficar,

    porque tratou sempre os “pretos” com dignidade

    e porque ele era necessário para o desenvolvimento dessa terra.

    Senti um misto de melancolia, de orgulho e de felicidade.

    Eu não sabia que eles mentiam,

    estavam a preparar-se para uma outra guerra,

    entre irmãos,

    com uma ambição indecente,

    como se em Angola não houvesse lugar para toda a gente.

    O meu pai ensinou-me comportamentos e gestos

    onde não havia discriminações

    entre “brancos, amarelos, encarnados ou pretos”,

    nem as pessoas eram catalogadas por regiões.

    O meu pai acreditava só nas pessoas coerentes,

    capazes de olhar olhos nos olhos,

    e ensinou-me a desvalorizar gente

    incapaz de olhar de frente

    ou com muitos trejeitos, a falar e a gesticular,

    só para tentar disfarçar

    a impossibilidade de ser decente.

    É esse o principal motivo

    porque eu tenho a vocação para ser mestiço

    e a ambição de habitar o infinito,

    onde todas as pessoas têm deveres e direitos iguais,

    e são autênticas, simples, normais.

    A vida ensinou-me as definições de simplicidade,

    de justiça, sinceridade

    e, sobretudo, de lealdade e liberdade

    para os diálogos próximos e distantes

    que desaguam em simpatias, empatias ou antipatias

    autênticas, dinâmicas, construtivas.

    Até nas minhas situações depressivas

    foi sempre a alegria

    quem alumiou e guiou o meu dia-a-dia.

    Os que tentaram matar-me,

    com um comportamento obsceno,

    já morreram todos,

    vítimas do seu próprio veneno.

    Eu gostei sempre de povoar a minha harmonia

    e os meus desejos e esperanças

    de paisagens com muitas flores e crianças,

    que desafiam a minha imaginação

    e proporcionam-me o dom da levitação

    e a capacidade de voar, alto, distante,

    com a minha gente.

    Um dia,

    quando eu voltar,

    desejo que me leves a ver o mar

    que aproxima as pessoas

    e faz as crianças a sorrir,

    com todas traquinices próprias da infância.

    Não me leves ao Cemitério da Vingança

    para ver as campas do ódio e da ganância,

    da injustiça, do nepotismo e da prepotência

    porque, para isso, falta-me o tempo e a paciência.

    Quando eu voltar, fala-me da tua felicidade

    de viveres finalmente em liberdade,

    depois de terem sido destronados

    os trintadinheiros, os mascarados

    em donos de todos os impérios e ciências,

    os que pretendem impor os seus ideais e vontades

    em todas as consciências.

    Depois regressarei à minha viagem

    que só terá fim

    quando não tiverem valor as memórias

    das mais perfeitas vitórias

    que guardo dentro de mim,

    porque o altruísmo, a harmonia,

    a solidariedade, a alegria,

    a liberdade e a fraternidade

    perderam o estatuto de raridade.


    Jose Filipe Rodrigues

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