O 8 de
Julho de 2017 vai ficar na História Cultural de Angola como o dia em que, pela
primeira vez, uma área nacional é elevada a Património Mundial, Cultural e Material
da Humanidade, pela UNESCO. O Centro Histórico de Mbanza Congo foi quem obteve,
e por direito, este “nosso pioneiro” importante galardão.
Um marcante
dia da Cultura Nacional que deve ser recordado e preservado.
Foram
vários anos de luta burocrática e de inconsequentes e inacabados projectos para
que Mbanza Congo chegasse a tão bom porto. É certo que coisas feitas à pressa
acabam por resvalar no nada e no vazio. Talvez tenham sido bons estes
desenvolvimentos desencontrados ao longo dos anos.
Mas,
agora não nos basta ficar com o nome nos Patrimónios Mundiais da Humanidade se
não protegermos, devidamente, a área protegida.
E isso
tem custos e não são poucos.
Primeiro,
há que educar e sensibilizar as populações locais e administrativas que não são
possíveis alterações paisagísticas e estruturais à estrutura (área envolvente e
física) que levou ao galardão; segundo há que preservar essa área; terceiro, há
que dar e assegurar condições técnicas, como acessibilidades, estruturas
hoteleiras, saneamento básico, e humanas, como formação de pessoal ligado à
hotelaria, ao turismo, a administração pública de monumentos, etc.
É certo
que tudo isto tem custos, e não são poucos. Mas havendo tudo isto, haverá um
fluxo de turismo que irá suportar não só todos estes custos como, ainda, dará
para desenvolver a cidade e toda uma região envolvente.
Mas este
galardão acaba por não contemplar só o Centro Histórico de Mbanza Congo. Ao
fazê-lo a UNESCO está, também, a alertar para a preservação e solidificação de
todo um complexo antropológico e etnolinguístico, geográfico e histórico do
antigo e ancestral Reino do Kongo que ocupava territórios de Angola, República Democrática
do Congo, República do Congo e há claros vestígios da zona sul do Gabão, ainda
que alguns recentes historiadores – principalmente entre os afro-brasileiros, e
talvez não estejam tão errados (não esquecer que parte da História do reino
é-nos transmitida por historiadores europeus baseados, muitas vezes, em
deturpadas fontes orais) – admitam que os reinos que estavam estabelecidos onde
hoje é o Gabão, seriam reinos suserados do Reino do Kongo.
Ainda
que nos cinjamos à área galardoada como Património Mundial, não esqueçamos que
esta é sede da região etnolinguística Bakongo (Ba – Os – Kongo – Caçadores),
cuja língua é o kikongo que predomina entre a grande maioria dos habitantes da
província do Zaire e de algumas áreas que se estendem até à província de
Luanda.
Por tudo
isto, é que todos nós teremos de preservar o que tanto nos custou conseguir:
ser incluídos na vasta lista de áreas Património da Humanidade.
E temos
outras áreas no País que pode fazer companhia ao Centro Histórico de Mbanza
Congo como Património Mundial Material e Cultural da Humanidade. Estava a
recordar o centro histórico de Benguela, a Zona Alta da cidade de Luanda, e
muitas outras zonas etno-históricas.
Há,
ainda, não esquecer, a defesa do nosso diferenciado mosaico etnográfico que
pode ser um natural candidato a vários galardões de Património Imaterial da humanidade.
Cabem
aos nossos Governos centrais e provinciais, tomarem medidas que os conduzam
nesse sentido. Não desprezar um facto importante, principalmente, a nível
económico: que a Cultura e o Turismo estão, muitas vezes interligados! E ambos
permitem, economicamente, desenvolver regiões, localidades, países! E trás
felicidade às pessoas.
Pois,
foi o 8 de Julho de 2017 que nos faz recordar que quando a vontade predomina,
não há burocracias e abrolhos que nos fazem esmorecer, parar!
E porque
isso é verdade deveríamos, já a partir do próximo ano – e por certo que todos
os concordarão –, comemorar e celebrar este dia, como o Dia Nacional da
Cultura!
NOTA: E
em termos de Cultura, recordar dois excelentes livros apresentados em Lisboa,
para os quais, ainda que de matérias diferentes, aconselho um franca, aberta e
ponderada leitura: de Jonuel Gonçalves “Franco-atiradores: Clandestinidade e
Informalidade nos Combates Democráticos em Angola (Abril de 1958 – Abril de
2017)” – uma obra quase autobiográfica política e de cidadania – :a outra de
William Tonet “Cartilha do Delegado de lista” – como o próprio título
evidencia, uma proposta de leitura a todos os que vão ser Delegados no acto
eleitoral do próximo dia 23 de Agosto de 2017!
Publicado no semanário Novo Jornal, edição 492, de 21.Julho.2017, página 19