12 junho 2014

Al-Sisi, o novo faraó do Egipto

(Tão colegas que nós éramos...; foto Internet)

Numa cerimónia perante o Tribunal Constitucional e transmitida pela televisão, o senhor marechal, na reforma Abdel al-Sisi (de seu nome completo, Abdel Fattah Saeed Hussein Khalil al-Sisi) que ganhou as presidenciais de 26 a 28 de Maio com cerca de 97% dos votos expressos, onde apenas pouco mais de 47% dos eleitores inscritos a votar, tomou posse o segundo presidente egípcio eleito democraticamente, declarando “em nome de Deus, respeitar a lei e a Constituição” egípcias e defender a independência da nação e a sua integridade territorial. Se não fosse dramático, tendo em linha de conta como a sua eleição ocorreu e como ela teve início – com o Coupe d’État (golpe de estado) contra o anterior e primeiro presidente eleito pelo voto secreto directo e universal, Mohammed Morsi, – a tomada de posse seria risível.

Acontece que o novo presidente egípcio é conhecido pelas suas inúmeras reencarnações. Ele já foi, logo após o golpe, a reencarnação de Muhammad Naguib, o general que liderou a revolta para derrubar a monarquia egípcia em 1952; posteriormente, se transformou em Gamal Abdel Nasser, o coronel que derrubou Naguib e construiu um sistema socialista ambicioso e manipulou o processo árabe e o médio oriente face às superpotências; agora, acha-se próximo de um tipo de líder mais autocrata e autoritário exemplificada em... pasme-se, António de Oliveira Salazar, um professor de economia política que governou, sob mão-rígida, Portugal durante quase quatro décadas, com início na década de 1930. Um sistema político que durou até 25 de Abril de 1974…

Coitado dos egípcios, coitada de África!

Só falta vir dizer que também é uma reencarnação de um qualquer faraó do Egipto antigo; ainda está a tempo de descobrir um cartomante que o diga ou ateste…

De recordar que o senhor marechal na reserva, al-Sisi, tomou o poder em 03 de Junho de 2013, com o derrube de Mohammed Morsi e do governo do Partido da Liberdade e da Justiça, umbilicalmente ligado à Irmandade Islâmica (dito, também, Fraternidade Islâmica ou Muçulmana) e eliminou toda a oposição, islamita, liberal ou laica. Um amor de pessoa que está, efectivamente e “de jure”, no poder desde aquela data…

De evocar que Al-Sissi – na altura do derrube governamental era o chefe do exército – estabeleceu, logo após o golpe, um governo interino, que instalou uma implacável e sangrenta repressão sobre os apoiantes de Morsi, em particular da congregação islamita, Irmandade Islâmica, que venceu todas as eleições desde a queda de Hosni Mubarak, no início de 2011, após as crises da Praça Tahrir.

Este é um mesmo senhor que, antes das eleições presidenciais (até aí foi, sucessivamente, primeiro vice-primeiro-Ministro e Ministro da Defesa), aceitou que os tribunais egípcios – levou bem à letra a separação de poderes entre o legislativo-governativo e o judicial, principalmente quando isso lhe convém – condenassem à morte centenas de egípcios, ditos próximos dos islamitas.

Pobre África que continua a ter dirigentes como o egípcio al-Sisi, ou Bissau-guineense António Indjai, que decidem superintender os destinos dos seus países através de golpes de Estado e da manutenção subsequente do status quo, directa ou indirectamente, sem que a União Africana consiga, de facto e de jure, anular estas alterações constitucionais de forma imperativa e justificada.

Em ambos os casos nenhum dos países foi suspenso da UA ou tornados párias. E não foi por razões de capacidade potencial; nesse aspecto tanto o Egipto, como a Guiné-Bissau são bem diametralmente opostos!


Talvez que pelas costas dos outros vejamos as nossas…

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