07 março 2014

Na crise ucraniana: a península de Qirin...

"Ponto prévio, a península de Qirin não é mais que o nome tártaro da região (os cita-tauri), e que foi traduzido pelos primeiros conquistadores modernos, os gregos (dórios e jónios), por Krimaia, ou seja, a península da Crimeia.

A península foi, sucessivamente, ocupada por cimérios (assírios), citas-sármatas (antigos povos persas), dórios e jónios (gregos), godos e hunos (germânicos), russos, turcos-bizantinos e mongóis, genoveses e turcos otomanos, estes até 1777, tornando-se, definitivamente, ocupado pelos russos em 1783.

A sua posição geoestratégica – autêntico checkpoint entre o Bósforo e o Mar Negro –, tal como hoje, sempre despertou o interesse das potências da altura. Recordemos a primeira guerra da Crimeia, entre 1853 e 1856, e que opôs os russos às forças conjuntas anglo-franco-sarda (Inglaterra, França e Sardenha) e otomanas com o apoio do império austro-húngaro. Apesar de, militarmente, os russos terem sido derrotados no cerco de Sebastopol (ontem, como hoje, sede da flotilha russa do Mar Negro) na realidade a coligação anglo-francesa acabou por ser arruinada por efeitos de várias doenças colhidas na região.

E se, apesar de, militarmente, o Império russo nunca ter aceitado os termos de rendição – oficialmente o conflito só terminou com o Tratado de Paris de 1856 que impedia a Rússia de ter bases navais na região e abandonar as pretensões expansionistas para os Balcãs –, politicamente a península ficou sempre na órbita russa até meados dos anos 50 do século passado (concretamente, até à declaração do Soviete Supremo de 19 de Fevereiro de 1954) quando o então secretário-geral do PCUS, Nikita Kruschev, por acaso originário de Kalinovka, aldeia localizada na fronteira russo-ucraniana, e antigo governador da Ucrânia, decidiu oferecer a península à República Socialista da Ucrânia.

Note-se que por volta de 1917/1918, aproveitando a revolução bolchevique, os tártaros quiseram recuperar a sua antiga independência política e anunciaram o restabelecimento da república independente da Canato da Crimeia – chegou a ser, por volta do século XVIII, uma das maiores potências regionais –, mas sem sucesso.

Nesta doação à Ucrânia ficou salvaguardada a manutenção da frota russa do Mar Negro, em Sebastopol, com a presença de vários batalhões do exército russo. Todavia, a queda do Muro de Berlim e a subsequente independência da Ucrânia, tornou necessário um acordo entre os então presidentes Boris Yeltsin (Rússia), e Leonidas Kravchuk (Ucrânia), sobre a base naval de Sebastopol, ajuste que incluiu a divisão da antiga Frota Soviética do Mar Negro entre as duas Nações, em Junho de 1992, pelo acordo de Yalta. Em Maio de 1997, com a ratificação das novas fronteiras entre os dois países, Moscovo ficou com 80% da frota do Mar Negro e um acordo para conservar a base naval de Sebastopol por 20 anos, até 2017, bem como outras 77 importantes e estratégicas instalações. (...)" (continuar a ler aqui)

Publicado no semanário Novo Jornal, edição  319, de 7-Março-2014 (1º Caderno, pág. 22)

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