"Ponto prévio, a península de Qirin não é mais que o nome
tártaro da região (os cita-tauri), e que foi traduzido pelos primeiros
conquistadores modernos, os gregos (dórios e jónios), por Krimaia, ou seja, a
península da Crimeia.
A península foi, sucessivamente, ocupada por
cimérios (assírios), citas-sármatas (antigos povos persas), dórios e jónios
(gregos), godos e hunos (germânicos), russos, turcos-bizantinos e mongóis,
genoveses e turcos otomanos, estes até 1777, tornando-se, definitivamente,
ocupado pelos russos em 1783.
A sua posição geoestratégica – autêntico checkpoint entre o Bósforo e o Mar Negro
–, tal como hoje, sempre despertou o interesse das potências da altura. Recordemos
a primeira guerra da Crimeia, entre 1853 e 1856, e que opôs os russos às forças
conjuntas anglo-franco-sarda (Inglaterra, França e Sardenha) e otomanas com o
apoio do império austro-húngaro. Apesar de, militarmente, os russos terem sido
derrotados no cerco de Sebastopol (ontem, como hoje, sede da flotilha russa do
Mar Negro) na realidade a coligação anglo-francesa acabou por ser arruinada por
efeitos de várias doenças colhidas na região.
E se, apesar de, militarmente, o Império russo nunca
ter aceitado os termos de rendição – oficialmente o conflito só terminou com o
Tratado de Paris de 1856 que impedia a Rússia de ter bases navais na região e
abandonar as pretensões expansionistas para os Balcãs –, politicamente a
península ficou sempre na órbita russa até meados dos anos 50 do século passado
(concretamente, até à declaração do Soviete Supremo de 19 de Fevereiro de 1954)
quando o então secretário-geral do PCUS, Nikita Kruschev, por acaso originário de Kalinovka, aldeia localizada na
fronteira russo-ucraniana, e antigo governador da Ucrânia, decidiu oferecer a
península à República Socialista da Ucrânia.
Note-se que por volta de 1917/1918, aproveitando a
revolução bolchevique, os tártaros quiseram recuperar a sua antiga
independência política e anunciaram o restabelecimento da república
independente da Canato da Crimeia
– chegou a ser, por volta do século XVIII, uma das maiores potências regionais
–, mas sem sucesso.
Nesta doação à Ucrânia ficou salvaguardada a
manutenção da frota russa do Mar Negro, em Sebastopol, com a presença de vários
batalhões do exército russo. Todavia, a queda do Muro de Berlim e a subsequente independência da Ucrânia, tornou
necessário um acordo entre os então presidentes Boris Yeltsin (Rússia), e
Leonidas Kravchuk (Ucrânia), sobre a base naval de Sebastopol, ajuste que
incluiu a divisão da antiga Frota Soviética do Mar Negro entre as duas Nações,
em Junho de 1992, pelo acordo de Yalta. Em Maio de 1997, com a ratificação das
novas fronteiras entre os dois países, Moscovo ficou com 80% da frota do Mar
Negro e um acordo para conservar a base naval de Sebastopol por 20 anos, até
2017, bem como outras 77 importantes e estratégicas instalações. (...)" (continuar a ler aqui)
Publicado no semanário Novo Jornal, edição 319, de 7-Março-2014 (1º Caderno, pág. 22)
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