09 maio 2014

E as eleições sul-africanas vão para... (artigo)

"20 anos depois das primeiras eleições multirraciais, os sul-africanos vão às urnas (estou a escrever na véspera do acto eleitoral) sem que se preveja alterações significativas na pirâmide política do país do arco-íris.

Uma vez mais, o ANC vai obter, quase seguramente, a maioria absoluta dos lugares do Parlamento em disputa, quase, talvez, repita a aproximação à maioria qualificada, a presidência (foram dos sul-africanos que saiu a ideia à nossa eleição presidencial) e uma parte significativa dos dirigentes regionais e provinciais.

O que está em causa é como se afirmará a coligação Aliança Democrática (DA) – se conseguirá esbater um pouco a sua habitual e abismal diferença para o ANC – e como será a votação do carismático e radical chaviano Julius Malema – até na forma de se vestir, o antigo líder juvenil do ANC imita Hugo Chavez – do Partido para a Emancipação da Liberdade Económica (EFF).

Do radical Congresso Pan-Africano (PAC) e do Partido Inkhata (IFP) só esperam manter a sua presença no Parlamento e, no caso deste último, não perder alguma da sua força grupal junto dos zulus, em particular no KwaZulu-Nataal.

Claramente que não está em causa a votação do partido de Madiba – são as primeiras eleições desde o passamento físico de Mandela – mesmo que o seu actual líder, o muito descredibilizado Jacob Zuma, seja visto mais como um empecilho ao desenvolvimento político, social e económico do país. Segundo uma sondagem feita no final do ano passado só 46% dos sul-africanos concordava com as políticas de Zuma. Nem o facto de um dos últimos comícios de Zuma, no Estádio FNB (ou Soccer City) que durou cerca de uma hora, tenha ficado marcado pelo abandono de grande parte dos 100 mil simpatizantes presentes.

Também a desistência de Mamphela Ramphele, viúva de Steve Biko, e candidata da oposição (na altura apoiada pela Aliança Democrática e pelo Agang), bem como a perspectiva de uma subida exponencial do radicalismo de Malema e a pálida campanha dos democratas ajudam à reeleição de Zuma. Nem, também, pelo facto do consulado de Zuma estar marcado por vários escândalos, como o das obras realizadas em sua residência privada em Nkandla (a Leste) às custas dos contribuintes, ou pelo facto do presidente ter suas mãos manchadas de sangue desde que a polícia abriu fogo contra os grevistas da mina de Marikana (no Norte), em Agosto de 2012, e que provocou a morte de 34 pessoas. E são 11 os candidatos à cadeira que foi ocupada por Mandela…

O problema está no que o ANC, além de se basear nas figuras políticas de Mandela, Oliver Tambo, Walter Sisulu, Chris Hani ou Solomon Mahlangu, vai tentar fazer que não o conseguiu até agora. (...)" (continuar a ler aqui)

Publicado na edição 328, de hoje, do Novo Jornal.

Sem comentários: