A Ministra da
Cultura, Rosa Cruz e Silva, por acaso uma patrícia lobitanga e reconhecida
defensora da cultura angolana, decidiu suspender – leia-se, proibir, – no dia
que ia ser representada, uma peça de teatro “P-STAGE – IV Estágio Internacional de Actores”,
intitulada “As Orações de Mansata”.
A P-STAGE é uma cooperação com a Cena Lusófona, o Elinga Teatro
(Angola), a Companhia de Teatro de Braga e a Escola da Noite (Portugal) e o teatro
Vila Velha (Salvador da Baía) e tinha o apoio da União Europeia.
Segundo o despacho que
dizem ter sido emitido pela Ministra, esta terá justificado o impedimento da
apresentação da peça no Cine-Teatro Nacional porque, o edifício não dar
garantias de segurança nem aos actores nem, tão-pouco, aos espectadores.
É interessante porque ainda há poucos – dois
ou três dias – foi mostrada a Ministra no mesmo recinto a afirmar que ir-se-ia
fazer a recuperação do velhinho Cine-Teatro Nacional – não sei onde descobriram
que só tem 40 anos, quando cheguei a Luanda, proveniente do Lobito, em 1968,
ele já estava naquele sítio – já depois de terem reconstruído o muro de
sustentação que estava muito periclitante e punha em causa o próprio edifício.
Ora esta é uma das evocações para a
representação ter sido suspensa!... E não me pareceu que a Ministra, por quem
prezo, desse imagem de estar preocupada em permanecer no tal local devido às
tais «razões de segurança do Teatro»… Ainda que um relatório de uma
construtora portuguesa apontasse falhas de segurança estrutural na cobertura e
palco do Cine-Teatro.
Que se saiba, não
existe só o Cine-Teatro Nacional na capital angolana para este tipo de
espectáculos; além de que já houve mais que tempo para o Governo intervir na
recuperação dos meios de fomento de Cultura.
E não acredito
que a nossa Ministra seja daquelas que evoquem que a Cultura é um perigoso meio
para engradecer a inteligência e sabedoria dos Povos. Pelo contrário, e isso seria censura…
A peça, em questão, note-se e registe-se,
embora seja focada na Guiné-Bissau – é a primeira peça dramaturga impresso da literatura Bissau-guineense
– fala-nos e retrata a luta pelo poder, corrupção, violência e traição.
Embora este país
nunca seja claramente identificado ao longo da representação – ou por isso
mesmo – pode ser extrapolada para qualquer país, onde as eternas lutas pelo
Poder e contra a Corrupção, a Violência e a Traição são uma constante.
E esta inusitada
suspensão só leva a dúbias interpretações…
Sem comentários:
Enviar um comentário