20 maio 2014

Peça de teatro cancelada em Luanda, mas…

A Ministra da Cultura, Rosa Cruz e Silva, por acaso uma patrícia lobitanga e reconhecida defensora da cultura angolana, decidiu suspender – leia-se, proibir, – no dia que ia ser representada, uma peça de teatro “P-STAGE – IV Estágio Internacional de Actores”, intitulada “As Orações de Mansata”.

A P-STAGE é uma cooperação com a Cena Lusófona, o Elinga Teatro (Angola), a Companhia de Teatro de Braga e a Escola da Noite (Portugal) e o teatro Vila Velha (Salvador da Baía) e tinha o apoio da União Europeia.

Segundo o despacho que dizem ter sido emitido pela Ministra, esta terá justificado o impedimento da apresentação da peça no Cine-Teatro Nacional porque, o edifício não dar garantias de segurança nem aos actores nem, tão-pouco, aos espectadores.

É interessante porque ainda há poucos – dois ou três dias – foi mostrada a Ministra no mesmo recinto a afirmar que ir-se-ia fazer a recuperação do velhinho Cine-Teatro Nacional – não sei onde descobriram que só tem 40 anos, quando cheguei a Luanda, proveniente do Lobito, em 1968, ele já estava naquele sítio – já depois de terem reconstruído o muro de sustentação que estava muito periclitante e punha em causa o próprio edifício.

Ora esta é uma das evocações para a representação ter sido suspensa!... E não me pareceu que a Ministra, por quem prezo, desse imagem de estar preocupada em permanecer no tal local devido às tais «razões de segurança do Teatro»… Ainda que um relatório de uma construtora portuguesa apontasse falhas de segurança estrutural na cobertura e palco do Cine-Teatro.

Que se saiba, não existe só o Cine-Teatro Nacional na capital angolana para este tipo de espectáculos; além de que já houve mais que tempo para o Governo intervir na recuperação dos meios de fomento de Cultura.

E não acredito que a nossa Ministra seja daquelas que evoquem que a Cultura é um perigoso meio para engradecer a inteligência e sabedoria dos Povos. Pelo contrário, e isso seria censura…

A peça, em questão, note-se e registe-se, embora seja focada na Guiné-Bissau – é a primeira peça dramaturga impresso da literatura Bissau-guineense – fala-nos e retrata a luta pelo poder, corrupção, violência e traição.

Embora este país nunca seja claramente identificado ao longo da representação – ou por isso mesmo – pode ser extrapolada para qualquer país, onde as eternas lutas pelo Poder e contra a Corrupção, a Violência e a Traição são uma constante.


E esta inusitada suspensão só leva a dúbias interpretações…

Sem comentários: