Segundo
as últimas notícias mais de 72,28% do petróleo de Angola vai para a China,
sendo o principal exportador para este país, algo que já vem desde 2017, quando
ultrapassámos a Rússia, sendo que a India,
é o nosso segundo comprador (10% das exportações), seguidos de Portugal e África
do Sul.
Mas
nada disto me surpreende e por duas fortes (e interligadas) razões:
- 1) temos uma colossal – a palavra é esta mesmo – dívida para com a China. Segundo uns, anda na roda dos 23 mil milhões de dólares (valores de Setembro de 2018 e segundo o Ministro Archer Mangueira), e de acordo com outras expectativas, andarão muito próximo ou mesmo acima dos 30 mil milhões de dólares (talvez o mais real, depois dos novos empréstimos chineses que ocorreram após aquela data); algo que é difícil de quantificar até mesmo pelo FMI.
- 2) o Orçamento Geral do Estado (OGE) para 2019 foi elaborado tendo por base o crude a 68 dólares o barril. Como se sabe, actualmente, e desde há muito tempo, que o crude anda pelos 50 a 55 dólares/o barril (há momentos, a cotação, em tempo real, estava nos 54,81 USD/barril (compra) e 54,79 USD/barril (venda) ). Já na altura a Oposição – sim, de vez em quando ela dá um ar da sua graça – afirmava que o OGE estava eivada de fraude ou "embuste" e "nada transparente", pelo que o objectivo de crescer 2,4% este ano começa a ser demasiado optimista no que já se considera viável haver necessidade de uma possível revisão do OGE, talvez no final deste trimestre, caso os valores do petróleo se mantenham.
- Ora com o petróleo tão baixo, é natural que, para fazer face à dívida e a poder amortizar teremos de entregar mais petróleo aos chineses.
Amigos,
solidários, prontos para a cooperação, mas… paguem!
É
o que se pode chamar de, "os bons
negócios de e com China” (NJ569); não esquecer que a dívida inclui empréstimos,
serviço da dívida (juros) e, em alguns casos até obras que deveriam estar
subordinadas aos tais empréstimos por cooperação, mas que surgem como fora
destes e dívidas a empresas chinesas – a grande maioria, ou a quase
totalidade, como são as grandes empresas chinesas, detidas, maioritariamente,
pelo Estado chinês.
Acresce a estes factos
que, de acordo com o presidente da
Comissão Executiva da Sonangol Comercialização Internacional (SONACI), Luís
Manuel, registou, no «quarto
trimestre de 2018, um decréscimo de dois milhões de barris, “perdendo-se 512
milhões de dólares (445 milhões de euros) em exportações”» a que não serão alheias as, ainda, tensões políticas
e económicas internacionais que envolvem os EUA, a China e o Irão, aliado à
ascensão dos norte-americanos à categoria de grandes exportadores.
Com as boas práxis chinesas de “amizade,
solidariedade e cooperação” é bom que os países africanos comecem a pensar duas
vezes. Talvez fosse assim, ainda que com algumas – boas – reservas e
condicionantes – antes de Xi Jiping. Com esse, primeiro a China, a sua economia
e as políticas económica externa e diplomáticas chinesas visando um próximo –
ainda que não declarado – estatuto de superpotência, como poderão ler na 2ª
parte do meu artigo “A
Geopolítica e Geofinanças da China em África: depois de 2018, segue-se 2019” cuja 1ª
parte foi publicada no Novo Jornal, edição 569, de 25 de Janeiro de 2019.
Reproduzido no Jornal Folha 8, com o título «Solidários e Cooperantes, mas... paguem!» (https://jornalf8.net/2019/solidarios-e-cooperantes-mas-paguem/)
Reproduzido no Jornal Folha 8, com o título «Solidários e Cooperantes, mas... paguem!» (https://jornalf8.net/2019/solidarios-e-cooperantes-mas-paguem/)