08 abril 2017

Síria, do ataque aéreo químico à retaliação norte-americana: breve análise

(imagem de © UOL Notícias)

O presidente norte-americano Donald Trump considerou o eventual ataque químico na Síria como a “linha vermelha” para “acolher”, sem possíveis e imediatas retaliações, o que se pass(ava)ou no país de Bashar al-Assad.

Recorde-se que há cerca de 4 dias ocorreu um eventual ataque aéreo, à localidade síria de Khan Sheikhoun (Idlib), controlada pelos rebeldes sírios, com produtos químicos (especulou-se, eventualmente, gás sarin???!!!), tendo provocado várias largas dezenas de vítimas, entre feridas e mortas, entre elas, crianças.

Como se sabe, Trump terá dado ordens à marinha norte-americana para atacar, ontem, uma base aérea de Al-Shaayrate, (em Homs, norte da Síria) de onde, supostamente, teriam partido os ataques com armas químicas, bombardeando-a com misseis, de médio-longo alcance e grande precisão, Tomahawk.

Pelas imagens logo se verificou que se a ideia era torná-la inoperacional, saltavam à vista a presença de 3 ou 4 aviões de caças Sukhoi (pelo menos pareciam) intactos. O comunicado russo, lido por um porta-vos oficial,  disso deu logo a entender, ainda que admita terem sido destruídos alguns aparelhos, além de contestar o ataque como sendo perigoso, como a presença de um navio russo nos limites dos barcos norte-americano o comprovam, o governo russo acrescentou que o ataque. além de um "pretexto" para "agredir" a Síria, foi, também ele, uma violação do Direito Internacional (recorde-se que o ataque norte-americano ocorreu sem a chancela da ONU, dado que o Conselho de Segurança da ONU ainda está a negociar os termos da condenação do ataque químico).

Por isso não surpreende esta notícia, de hoje, que «Dois aviões militares descolaram da base aérea síria atacada pelos Estados Unidos esta manhã e realizaram bombardeamentos nas proximidades» em ataques a zonas controladas pelo Estado Islâmico/DAESH, conforme terá confirmado o director do Observatório Sírio dos Direitos Humanos (OSDH), Rami Abdel Rahmane, que terá sabido precisar se os aviões seriam sírios ou russos.

Acresce que o ataque foi precedido de um aviso prévio norte-americano aos russos. Se a base atacada fosse importante, por certo que estes teriam impedido o ataque, ou mandado retirar todo o material importante. E não o fizeram. Daí que...

Daí creio se poder inferir duas coisas:
1. Trump aproveitou esta oportunidade para dar recados internamente, do tipo, se necessário tomo iniciativas que vos faça ponderar as vossas atitudes anti-administração, bem como um sério aviso, das suas ideias belígeras, ao Irão e à Coreia do Norte!

2. A outra, e esta é meramente conspirativa, a partir de alguns comentários que se vai v(l)endo nas páginas sociais, e que não deixam de ter o seu quê de eventual razão, prende-se com a necessidade dos “aliados” dos rebeldes sírios afastar possíveis interpretações que teriam sido aqueles a dar material químico aos rebeldes (agora falta saber quais os aliados, sendo que um deles foi muito pronto, ainda antes de haver qualquer notícia comprovativa do possível ataque, a denunciar este, a Turquia; e colocando a Rússia no papel de apoiante; bem como sendo a única que foi pronta a identificar o já citado possível agente químico utilizado...).

Nota complementar: Digo eventual ataque aéreo químico, porque há duas versões: uma, inicialmente, dita por pessoas não afectas às partes que o produto químico não teria sido devido a um ataque aéreo, mas devido à explosão de um armazém, facto posteriormente confirmado, posteriormente, pelos russos ao reconhecerem que teriam atacado um armazém rebelde não sabendo que estes tinham produtos químicos armazenados; e outra, a versão dos rebeldes e bem aceite pelos que o apoiam, que teria sido um ataque aéreo da força aérea de al-Assad; ainda que análises independentes questionem a oportunidade desta versão.

Até agora, nenhuma fonte independente atestou qual das duas versões é a mais correcta.

Conhecendo as ideias e atitudes de ambos os lados, em actividades bélicas anteriores, não me admiraria que ambas as probabilidades pudessem ter alguma base de razão…


A aumentar as dúvidas, o recente artigo do portal russo Sputnik que recorda um antigo artigo do jornal britânico Daily Mail, datado de 29 de janeiro de 2013, e que entretanto já o removeu do seu portal, intitulado de “EUA apoiam plano para realizar ataque químico na Síria e culpar o regime de [Bashar] Assad”. Russos, mesmo que “apoiantes ou simpatizantes” de Trump, não perdoam uma oportunidade de afrontar políticas norte-americanas. É o actual e arriscado populismo versus populismo que se não for travado pode colocar a população mundial numa perigosa espiral bélica…

04 abril 2017

4 de Abril 2017, Dia da Paz e Reconciliação Nacional



Hoje, é 4 de Abril , Dia da Paz e da Reconciliação Nacional.

Passados que são 15 anos de Paz, penso que continua a fazer sentido este artigo que, há 3 anos, escrevi para o Novo Jornal «Há 12 anos de Paz militar mas não faltará a Paz social?...»

E este texto hoje do Novo Jornal, «Dia da Paz comemorado longe da guerra, mas ao lado das dificuldades diárias,...» vem, de certa forma, atestar as minhas dúvidas.


01 abril 2017

Quo vadis Jacob Zuma?

(foto ©SABC news)

Jacob Zuma começa a entrar numa encruzilhada de onde dificilmente terá hipóteses de sair sem ser chamuscado. Enquanto Presidente e líder do Governo, Zuma pode proceder às remodelações que considerar mais vantajosas para a governação nacional, para a preservação da sua popularidade e do seu partido, o ANC.

O problema, começa quando essas remodelações visam mais afastar os seus próprios críticos internos do que a salvaguarda governativa. E a recente alteração do seu gabinete foi um destes casos, De entre elas, a demissão do Ministro das Finanças, Pravin Gordhan. Gordhan, considerado como o paladino da combate à corrupção e defensor de um corte nas despesas públicas, algo que Zuma não acolhe com satisfação.

Sabe-se que há muito que Zuma vem sendo fortemente criticado quer no seio da Justiça, quer no seio da comunidade económica sul-africana, quer, principalmente, dentro do ANC ainda que este acabe sempre por o salvar nos maiores apertos). Algum despotismo, uso indevido – e já judicialmente condenado – de fundos públicos em proveito próprio, saneamento de críticos são alguns dos problemas que Zuma tem acumulado.

E esta remodelação não parece ter caído bem quer entre a população, quer entre os seus colegas de partido e, até, de gabinete. O vice-presidente sul-africano e previsível candidato à sucessão de Zuma na liderança do ANC, Cyril Ramaphosa, considerou a medida "inaceitável”. Só da ala juvenil do ANC, Zuma obteve total e incondicional apoio.

Lembremos que ainda recentemente e pelas cerimónias fúnebres do antigo companheiro, de luta anti-apartheid, de Madiba, Ahmed Kathrada, o próprio portal do ANC afirmava que Zuma estaria presente nas mesmas, mas não discursaria porque a sua presença não era bem-quista pela família do histórico membro do ANC, dada a controvérsia havida recentemente entre Kathrada e Zuma. 

Recorde-se que aquele, em carta aberta, há cerca de um ano, solicitou a Zuma que se demitisse da presidência sul-africana. Para Kathrada só a demissão de Zuma, envolvido em casos de corrupção, «permitiria ao governo do país recuperar "da crise de confiança" em que se encontra mergulhado. “Tendo em conta a onda de críticas, de condenações e exigências, é demasiado expressar a esperança de que opte por tomar a decisão certa e considere pedir a demissão?"».

Acresce, para tornar mais obscura a vida política de Zuma, o que emergiu quando foi tornado público um relatório independente de 355 páginas da autoria da advogada e ex-mediadora pública (ou “public protector” para a luta contra a corrupção e de nomeação presidencial), Thuli Madonsela, onde se declara que há uma obscura e suspeitosa ligação entre Zuma e a família, de origem indiana, Gupta que poderão ter influenciado decisões governamentais, incluindo a nomeação de ministros.

Ora, acontece que este relatório, sobre a corrupção, pronto desde o terceiro trimestre de 2016 do ano passado viu a sua publicação ser questionada e posta em causa, por via de um processo judicial colocada por Zuma para impedir a sua publicação; acabou por ser publicado e publicitado, no início de Novembro, por ordem do Tribunal Superior de Pretória.

Não esquecer, também o recente imbróglio ocorrido no parlamento sul-africano em que antes do “Discurso à Nação” de Zuma (em Fevereiro passado) e durante cerca de uma hora ocorreram vaias, insultos e mesmo trocas de murros entre deputados que consideravam ilegítima a presença e comunicação de Zuma no parlamento. Desta embrulhada, que teve de ser “tratada” com a presença de cerca de 400 militares, resultou a expulsão de 30 deputados. De notar que entre os membros mais contestatários à presença de Zuma, estavam afiliados do Partido dos Lutadores da Liberdade Económica (Economic Freedom Fighters (EFF)), de Julius Malema (um dos seus maiores detractores e inimigo político e antigo líder juvenil do ANC).

A presença destes militares não foi bem aceite e a oposição terá solicitado ao Supremo Tribunal a futura proibição da presença dos mesmos armados no Parlamento, por considerarem inconstitucional.

Até onde conseguirá Zuma sobreviver? Certo é que há cerca de um ano, Zuma sobreviveu a uma destituição (vulgo “impeachment”), lançada pela oposição, para o retirar da Presidência, com os votos favoráveis dos deputados, incluindo, críticos, do seu partido.

Terá sido esta remodelação o seu canto do cisne? Aguardemos, porque Zuma já mostrou ser um sobrevivente!...

Partilhado pelo portal "Pravda.ru", em 2 de abril de 2017: http://port.pravda.ru/news/mundo/02-04-2017/42988-jacob_zuma-0/ e no portal do Jornal Folha8: http://jornalf8.net/2017/quo-vadis-jacob-zuma/