08 agosto 2024

A visita de Montenegro a Angola e a “não-atenção” à Oposição Angolana e um esclarecimento prévio

Na recente viagem – a primeira a um país de língua oficial portuguesa, que não Portugal, claro… – fui abordado para dar a minha opinião sobre o que poderia antever dessa visita. Por lapso, certamente, ou por deficiente na audição da conversa telefónica em que possa ter havido interferência que colocasse dúvidas na sua audição, o meu entrevistador, por acaso, jornalista do Novo Jornal, repito, certamente por lapso, colocou no texto que eu teria dito que o PSD, o PS e o MPLA seriam partidos comunistas, o que não corresponde à verdade.

Recordo-me, por causa das boas relações que sempre houve entre partidos portugueses e o Governo de Angola, liderado, desde a independência pelo MPLA, de ter falado no PSD e de ter afirmado que no caso do PS e do MPLA, essa relação até era mais consistente, dado ambos pertencerem à Internacional Socialista (talvez a deficiente audição esteja aqui…). E até falei nas boas relações que existem entre o MPLA e… o CDS-PP que, não me recordo de as ver citadas

Bom, honestamente, e verdade seja dia, num país onde já quase predomina o 5G, no caso de Portugal, não poucas vezes as chamadas caem, mesmo as chamadas, “ditas normais”, quanto mais as via Whatsapp, embora a chamada tenha sido via “normal, mais natural ainda que em Angola, onde é o 4G que procura assentar, as “audições”, por vezes, sejam e se tornem, difíceis.

E como sou acusado de, por vezes, falar muito depressa, principalmente em matérias que me são muito próximas, daí, continuo a dar o total benefício e dúvida ao jornalista que me entrevistou. Por exemplo, ainda ontem numa entrevista sobre uma outra matéria, pediram-me que fosse menos rápido porque estavam a ter dificuldades em compreender algumas partes; esta conversa foi via Whatsapp e não sei quando será publicada – se for…

Mas recordemos, um pouco como tem evoluído – e já muito debatidas – desde sempre as relações entre os dois países e, a recente tomada de posição do primeiro-ministro português Luís Montenegro, face à Oposição, na visita que fez a Luanda.

As relações entre Portugal e Angola têm sido históricas e complexas, e têm evoluído ao longo dos anos, especialmente desde a independência de Angola em 1975. O laço entre os dois países é influenciado por laços históricos, culturais e económicos, e começou a ser redefinido após o fim da guerra civil em Angola e a descentralização de sua economia, levando Portugal a cada vez mais procurar reforçar a sua presença económica em Angola, aproveitando a busca do país em tentar continuar a diversificar as suas parcerias e investimentos externos.

Só que a questão das reformas económicas em Angola, a luta contra a corrupção e a promoção dos direitos humanos continua a ser factores chave que influenciam as relações entre Angola e muitos potenciais financiadores.

Todavia, não devemos esquecer a “fama” e o “proveito” que o “Corredor do Lobito” tem, e continua a obter, juntos de muitos investidores, seja, portugueses, belgas, suíços, norte-americanos – principalmente – e de outras nacionalidades que começam a se perfilar para integrarem a “Lobito Atlantic Railway” (LAR) que explora este corredor ferroviário e a sua ligação ao porto do Lobito, bem como o interesse o Interland Africano em aproveitar esta importante infra-estrutura.

Sobre Luís Montenegro, enquanto líder do PSD (Partido Social Democrata) em Portugal, a sua posição em relação a Angola, era uma, a de relações entre partidos e organizações políticas luso-angolanas. Naturais, ou estas não fossem muito cordiais – diria, muito boas – entre o PSD e Angola, com algum especial destaque, para as relações entre o PSD e o Governo de Angola (liderado pelo MPLA).

Agora, já, propriamente, sobre a visita de Montenegro, enquanto primeiro-ministro, pode ser interpretada através do prisma do realismo político e das relações bilaterais. Montenegro tem enfatizado a importância das relações de Portugal com os países africanos de língua portuguesa, mas a sua abordagem pode ser sensível ao contexto político interno de Angola e às suas implicações para a oposição.

Por isso, ainda que, porquanto observador angolano possa considerar pouco cordial, já como analista e académico o não ter mostrado “capacidade” para falar com a oposição angolana, pode ser visto como um reflexo de uma estratégia política mais ampla que evite evidenciar posicionamentos que possam ser considerados intervencionistas e, ou, intromissores.

Essa hesitação pode ser motivada pela preocupação com as repercussões que uma tomada de posição pública possa ter em termos de diplomacia ou estabilidade bilateral. Além disso, muitas vezes, figuras políticas optam por não se envolverem em dinâmicas internas de outros países para não comprometer as relações diplomáticas ou para evitar acirrar tensões e criar novos “casos irritantes” que possam levar a consequências imprevistas.

Assim, a posição de Luís Montenegro e do PSD em relação a Angola poderá ser entendida no contexto das dinâmicas políticas e económicas, bem como das suas implicações para as relações bilaterais e a segurança política numa região já marcada por suas próprias complexidades.

E o recente “debate” que as ONG da Sociedade Civil levantaram aos Procuradores-gerais de Angola e Portugal sobre Isabel dos Santos e os activos nacionalizados e vendidos por Portugal e ainda – supostamente – não canalizados para Luanda, é mais um facto que leva – presume-se – a posição (equi)distante de Montenegro face à Oposição Angolana e à comunicação com as questões levantadas.

Daí que, repito e tendo em conta uma recente análise do Africa Monitor, sobre o referido distanciamento de Montenegro face à Oposição – não se sabendo que entre Montenegro e Adalberto Costa Júnior parece haver uma ligação directa entre ambos, enquanto líderes partidários –, a posição do primeiro-ministro português, não surpreende.

Realmente, como poder-se-ia surpreender quando, antes da visita, a Amnistia Internacional e a própria UNITA solicitaram a Luís Montenegro que, e cito de memória,

em vésperas da sua visita a Angola, que aproveitasse a ocasião para abordar com as autoridades de Luanda, várias questões relacionadas com os Direitos Humanos e com as liberdades cívicas e políticas que, na opinião deles, consideram estarem, de forma sistemática, a ser violadas pelo regime.

Ora, sejamos honestos, como poeria um primeiro-ministro que ainda está nos primeiros degraus da sua liderança política, ir, logo na sua primeira visita a Luanda (e a Benguela – parece que se esqueceu que Lobito é a sede do ois empreendimentos; pelo menos não li que tivesse ido à minha cidade, ou estarei errado… também…) –, criassem um… irritante?

Até lá,…

Lx, 8.Agosto.2024

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