10 janeiro 2010

CAN2010: Angola 4 - Mali 4

Como foi possível?

Como se compreende que aos 87 minutos estamos a ganhar por 4-1 e fechemos o jogo empatados?

Parecíamos uns gajozinhos porreiros a ver jogar os craques que jogam nos principais clubes da Europa...

Como disse Manuel José na entrevista curta à TPA mostrámos ser uns anjinhos que só pensaram em jogar bonito e que, isto digo eu, o Mali iria encaixar mais golos.

Fomos tão anjinhos como o foram as autoridades ao permitir a circulação da selecção do Togo do Congo-Brazza para Cabinda mesmo depois de ter sido combinado que as equipas teriam de viajar de avião. E Cabinda tem aeroporto internacional preparado para voos nocturnos...

Se não fosse o ridículo da suspeição até pareceria que os togoleses tinham sido avisados que nada iria acontecer. Ou seja, saberiam aquilo que todos nós há muito sabemos mas que as autoridades em Luanda e na cidade de Cabinda fazem por esquecer existir: a presença de militantes seccionistas e independentistas.

Talvez as informações prestadas aos togoleses não tenham sido bem enviadas. Ou será que foram os congoleses tão interessados – como os de Kinshasa, diga-se, – na desestabilização daquela parte da região africana que esqueceram de avisar os dirigentes e jogadores togoleses? E como se entende a atitude do Governo togolês mesmo depois dos seus jogadores terem afirmado que queriam glorificar o nome do País ao afirmar que estes já não o representavam? Estranho, politicamente estranho...

Mesmo que sejam uma facção da FLEC, como esta já fez questão de afirmar no exterior, a organização seccionista não se esqueceu do que há muito anda a prometer: levar o caos até onde lhe for possível mesmo que isso leve a Comunidade Internacional rejeitar ou desprezar a sua vontade de maior autonomia.

Não é com armas sobre inocentes que se atraem os Poderes e as opiniões Públicas.

Talvez que Angola tenha compreendido as duas lições. Ou seja, que não é pensando que uma equipa está moribunda só porque está a perder por 3 golos (esqueceu-se que uma parte significativa dos malianos joga em Espanha e lá o jogo só acaba quando o árbitro o confirma) nem que Cabinda é um caso sem importância como alguns querem continuar a fazer crer entre a província e Luanda.

Pode ser que assim sua Exª o senhor Presidente da República, Eng.º de Petróleos, José Eduardo dos Santos deixe de levar para eventos desportivos frases de ordem do seu partido: Infelizmente, e no futebol isso é por demais evidente, nem sempre a Vitória é Certa!

Ah!, e já agora, não tempo de informarem o antigo jornalista da RTP, Gabriel Alves que já há muito que Angola deixou de ser uma República Popular? Teria sido interessante ouvir o seu colega da TPA elucidá-lo historicamente disso…
Texto reproduzido no portal , na coluna "Malambas de Kamutangre", sob o título "CAN2010: Angola 4 - Mali 4 - Como foi possível?"

3 comentários:

Orlando Castro disse...

Historicamente há muitas coisas, meu Caro, que angolanos e portugueses precisam de aprender...

Kdd

Cláudia P. disse...

Bom dia!

Sobre o jogo, pelo menos não perderam!=)
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Das poucas informações que eu encontrei e li, e na minha humilde opinião:

O governo angolano foi ingénuo e relapso, sim! Como também foram os organizadores do CAN, a Confederação Africana de Futebol e a própria Fifa. Tinham como obrigação o CAN ser feito num local seguro, ou que pelo menos a segurança estivesse salvaguardada. Cabia à todos estes orgãos de conhecer e investigar bem esta àrea e os seus problemas. Mas por algum motivo, tanto estrangeiros e angolanos, todos concordaram que Cabinda dispunha de condições para ser palco de alguns dos jogos. À própria federação do Togo também deveria ter feito algum trabalho de casa. Uma simples busca à Internet, à Wikipédia, e já estariam por dentro do assunto.

Por outro lado, por mais que se tivesse conhecimento do problema, pelo pouco que vi, acho que a FLEC nunca atacou pessoas de um país que não mantivesse importantes relações com Angola, ainda mais inocentes jogadores de futebol. Logo, a ingenuidade dos organizadores foi pensar que a Flec seria incapaz de fazer algo tão drástico. E para mais hoje em dia, à inúmeros meios de se chamar atenção sem se recorrer a violência, pior, ao homicídio; ainda por cima estando Cabinda sobre os holofotes do mundo, devido exactamente ao CAN 2010 que a Flec sabotou parcialmente.

A minha pergunta no comentário anterior, mais especificamente, era sobre o que estaria a selecção do Togo a fazer no Congo? Verifiquei que a selecção esteve a fazer o estágio de preparação em Pointe-Noire (enquanto todas as outras selecções ao que parece escolheram estagiar em Angola), há algumas horas de distância da cidade de Cabinda. Depois escolheu seguir à via terrestre (enquanto todas as outras selecções escolheram a àerea), por estradas transitavéis, mas um percurso longo em comparação à uma simples viagem de avião (sem contar com algumas estradas que talvez fossem menos funcionais). Porque não permitir os jogadores o mesmo "luxo" que os restantes jogadores do campeonato? Talvez algum meio de contenção de gastos da federação do Togo?

Cláudia P. disse...

Recordando que, no Campeonato Mundial de Futebol em 2006, os jogadores do Togo acusaram os dirigentes da sua federação de não lhes querer pagar o que lhes era devido e merecido. Estes chegaram até ao ponto de ameçar abandonar o campeonato. Felizmente, a FIFA resolveu o caso. Porém, a mesma federação chegou a acusar a FIFA de não ter pago o suficiente pela partipação da equipa do Togo no mundial.

Outro ponto questionável: A organizão do CAN 2010 também disse desconhecer que os Togolenses viriam pela via terrestre. Mesmo considerando que a selecção acreditava que o caminho era seguro, não deveria esta ter informando previamente a sua decisão? No entanto(lembrando, apenas pelo que eu li), duas viaturas policiais tentaram os proteger, infelizemente, foram muito pouco eficazes.

EU NÃO ESTOU A CULPAR O TOGO!

Voltando a considerar a total ignorância tongolense, a equipa ficou cerca de uma semana em território congolês, numa região próxima à fronteira. Será que também se mantiveram os congoleses mudos sobre os perigos duma área que conhecem as dificuldades? Até os guardas da fronteira? Ou será que nem eles reconheceram na Flec uma possível ameaça aos tongolenses? Ou... Não querendo conspirar e já conspirando, a Flec sabia que o autocarro da selecção do Togo seguiria o caminho terrestre e planeou a emboscada. A dúvida seria, através de quem?

Pelo pouco que pude constatar estão vários intereses em jogo, e as vítimas acabaram por ser aquelas que nada tinham a ver com a história e que passaram o últimos anos a se esforçarem e a sonharem com uma vitória africana. Completamente condenável a atitude dos assassinos e dos cabecilhas da emboscada (maldito petróleo).

P.S.
É a segunda vez que a tragédia assombra o desporto do Togo. Em 2007, na Serra Leoa, depois de um jogo de qualificação para o CAN 2008, um desastre de helicóptero causou a morte de mais de 20 pessoas, entre membros da delegação do Togo e fãs. Mas na ocasião, os jogadores não estiveram envolvidos. As circunstâncias do acidente levaram o ministro dos Transportes e Comunicações e dois oficiais de aviação da Serra Leoa a serem despedidos.

Continuação de um bom trabalho!