Pelas exéquias e homenagens a Mandela, um amigo próximo
fez-me um repto. Tentar verificar as semelhanças ou dissemelhanças entre os
líderes das duas maiores potências regionais da África Austral ou seja, entre
Nelson Mandela e Eduardo dos Santos.
Um repto nada mais difícil dado que um acabou de falecer e
já não era presidente há vários anos e outro mantém-se no poder há cerca de 35
anos.
Mas como não fujo a reptos tentei criar um quadro onde
pudesse colocar as características de cada um e, no fim, tentar fazer coexistir
as várias similitudes e, ou, diferenças entre eles. Realmente, nada mais
difícil. Mas, vejamos pois…
Mandela tal como dos Santos lutaram pelos seus ideais que
passaram por lutas revolucionárias, em alguns casos, armada. Mas enquanto
Mandela visava o direito à qualificação humana e ao direito a “um Homem um
voto”, dos Santos apontou sempre para a consolidação do Poder face àquilo que
considerava os inimigos de Angola.
Pelas suas ideias Mandela foi detido enquanto dos Santos
tornou-se o detentor do Poder após o falecimento de Agostinho Neto – já lá vão
34 anos bem medidos –; Depois da sua libertação Mandela apoiou a criação de uma
Comissão de Verdade e Transparência onde inimigos se auto-confessaram os
eventuais crimes cometidos contra terceiros e todos ficaram felizes e de
consciência tranquila. Ou seja, Mandela em vez de perseguir quem o perseguiu
conseguiu unificar e fortalecer um Nação, a que chamaram de “Nação Arco-íris”.
Já dos Santos, apesar de ter chamado alguns dos antigos combatentes da UNITA
para cargos ministeriais e militares, poucos, nada fez, ou parece ter tentado
fazer, para diluir as diferenças políticas entre os antigos contendores. E se
fez ou tentou, muitos dos seus correligionários mantém as velhas políticas de
“eles são os maus, os assassinos” e “nós os bons, os visionários”. Dúvidas,
basta ver o que estes escrevem nas páginas sociais.
Mandela concorreu e venceu as eleições legislativas e
presidenciais e ao fim de um mandato optou por devolver o cargo a novos
concorrentes ficando como a personalidade de referência nacional, o Líder; já
dos Santos, que entro por indicação do Comité Central do seu partido após o
falecimento de Neto, já concorreu a duas eleições, uma das quais não terminada
e prevê manter-se no cargo por dois, pelo menos oficiais, mandatos, ou seja,
deverá sair ao fim de cerca de 42 anos de Poder. Parece que quer ficar do
Guiness-Book de records como o líder que mais tempo esteve no Poder, isto se Obiang,
da Guiné-Equatorial, o deixar, já que está no poder há mais 1 ou 2 meses…
Finalmente e em análise simples e curta porque haveria muito
para apontar a ambos, Mandela após deixar o cargo presidencial ofereceu a sua
imagem e inteligência para uso – e abuso, muitas vezes – da Nação sul-africana
e criou uma fundação que visou a harmonização social no País. De dos Santos,
além da sua Fundação que também visa, reconheça-se, defender valores sociais,
hoje em dia aparece, levado pela forçada imagem que os seus assessores – ou
outro nome – fazem emitir como um líder afastado da população – não esqueçamos
as manifestações recentes – virado para farol de uma certa África que muitos já
não a reconhecem.
Resumindo, parece-me que é difícil estabelecer paralelos
similares ou não entre Mandela e dos Santos. Até porque as raízes políticas e
sociais de ambos são bem dissemelhantes. Se de um sabe-se que vem de uma
família nobre e de casta reconhecida, o outro mantém segredo quanto às suas
origens apesar dos seus assessores tentarem, periodicamente o que não ajuda,
fazer crer que é uma personalidade clara e bem formada. Eu acredito, mas será
que a população menos enquadrada e intelectualmente afirmada acreditará?
Vamos dar um pouco de espaço temporal e voltemos a esta
matéria quando as ideias estiverem mais assentes e frias…
(Este texto foi também hoje citado e publicado no Folha 8 conforme imagem, com os meus agradecimentos aos editores deste bissemanário!)
(Este texto foi também hoje citado e publicado no Folha 8 conforme imagem, com os meus agradecimentos aos editores deste bissemanário!)
1 comentário:
Mandela, no poder, rejuvenesce.
Dos Santos, no poder, apodrece.
Antonio Kaquarta
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