Do blogue Desabafos Angolanos, a quem saúdo pelo sétimo lugar entre os melhores blogues de língua portuguesa – e já agora aproveito para saudar o luso “Tupiniquim” que obteve o quarto lugar entre os melhores de língua portuguesa e que não foi mais que foi SÓ 2º lugar entre os melhores Weblogs (paradoxo desta votação) – o texto abaixo, publicado sob o título “Língua materna ou oficial” que pela sua pertinência tomo a liberadde de trazer a este sítio e, porque não, há discussão.
“[…]Uma vez lá, encontro um senhor cuja testa parecia estar há anos sem saber o que é sorrir. Pronto, saúdo e avanço, a final não estava ali para semear amizades. Na secção a seguir, uma senhora dá-me o formulário e algumas instruções. Escrevo tão rápido que, volta e meia, tinha tudo preenchido… e a discussão inicia com a atendedora: tudo porque preenchi o Umbundu como sendo a minha língua materna. “A nossa língua materna é aquela que falamos”, dizia ela. Pois claro, mas é essa mesma a minha língua de berço; tanto o português como o inglês, eu aprendi foi na escola. Que azar me arranjei?! A senhora submeteu-me então a uma cátedra: “língua materna é aquela que herdamos do colonizador, porque é a língua que nos une; olha, um zairense, por exemplo, na escola fala lingala? Claro que não, moço!” Impotente e em desvantagem, disse-lhe apenas que era complicado. “Pois, mas estou-te a fazer entender agora que, no espaço língua materna, escreva português, porque o Umbundu é dialecto apenas!”, ditava ela. Os meus suspiros e reticências não a impediram de pegar no corrector e, a mando dela, eu declarar o português como “minha língua materna”, relegando o meu doce Umbundu ao segundo plano.[…]”
A dicotomia língua materna versus língua oficial tem tanto de absurda como de inconveniente. A cada um a sua língua local; a todas a língua nacional, aquela que realmente junta todos e todos compreendem.
Porque aqui não está em causa a língua materna (como tal) nem a língua oficial (como elo de ligação da angolanidade). O que está em causa, e aí sim, poderá ser perigoso, é tentarem chamar às línguas locais, línguas nacionais. Aí poderão pôr em causa toda uma angolanidade que se quer plena e fértil.
Angola caminha para ser uma Nação. Se assim é não pode ter línguas nacionais e línguas oficiais. Deve ter um língua nacional - no caso o elo de ligação é a portuguesa - e línguas autóctones, locais ou maternas.
A atitude da funcionária, sociologicamente, não terá sido – e não foi – correcta. Mas se olharmos e ponderarmos num ponto de vista supranacional, foi-o.
É altura de termos cuidado com as palavras. Línguas materno-autóctones sim e devem ser ensinadas, língua nacional não: essa é a língua de união. E como alguém dizia antes, em muitas zonas citadinas, muitas das línguas autóctones já se diluíram no próprio português; havendo quem não as conheça.
4 comentários:
Kota, não é costume da minha parte comentar os artigos que publico. Por isso não o fiz até agora. Mas uma vez trazido aqui para discussão, então vou atirar a minha lenha pa fugueira. O kota faz uma distinção que a meu ver é também pouco feliz: língua local/autóctone vs língua oficial/nacional. como ficam aqueles cuja língua materna é o português: são autóctones ou não? e se são, qual é o estatuto da língua portuguesa? ou então são apenas autóctones aqueles cuja língua materna não é o português? e outros o que são?
não sou adepto de rótulos de uma antropologia e linguística eurocêntrica bastante questionada e questionável senão em desuso, porque responde a uma mentalidade daquela época, em que uns eram « boss e outros boys»(Mandela). Portanto, o kota chama atenção e bem, mas caí noutro extremo da questão. Meu contributo ao debate: penso que Angola, como a generalidade dos países Africanos, não precisa cair nessa armadilha dos nacional=supra étnico e do nacional= infra étnico. precisamos sim promover as nossas línguas angolanas( entre elas o português) e dar prioridade ao português como língua oficial=de unidade e de contacto com o mundo exterior.Numa altura em que as línguas já não correspondem a unidades geográficas compactas é importante partir para outros níveis de abordagem. quanto a angolanidade que é um projecto não anula o sentimento de pertença a comunidades pequenas concretas=reais.podemos ser um país plurinacional, o que me parece razoável, e construir uma pátria una. sou mais pela construção de um patriotismo saudável, do que um nacionalismo doentio. finalmente, penso que este é um debate próprio dos falantes da língua portuguesa. será também uma herança da colonização portuguesa? porque estive na África do Sul, onde percebi que essas questões não os incomodam nem os fazem perder tempo. O Sul-africano é Sul-africano, seja falante de Africaner, Zulu, Xhosa, Ndebele...
Upndi Pacatolo
Caro Patacolo,
foi essa a minha intenção. Procurar o debate.
Onde começam e acabam as líguas autóctones, ou seja, e como muito bem diz, as línguas étnicas angolanas (só podem tornar-se claramente angolanas quando o Governo vier a transpor para o domínio público o reconhecimento das mesmas como línguas escolares e/ou de trabalho) versus a língua oficial, o português.
Aqui gera-se o debate. Qual será, na realidade, língua materna? aquela que primeiro se aprendeu ou a que vigora como língua oficial. E esta situação transpõe-se, também, para as línguas "autóctones" - e agora passo a enquadrá-las por aspas - serão maternas ou locais.
Cabe ao governo pôr este assunto a discussão.
Mas como muito bem afirma, no final, é uma discussão estéril que só pode acontecer quando não se tem consciência da nacionalidade ou da angolanidade no todo.
Cumprimentos
Eugénio Almeida
Língua Oficial: Português
Línguas Maternas: todas aquelas línguas ou dialectos que são falados pelas tribos de uma zona geográfica pré identificada de onde o individuo é originário.
A Sra. estava equivocada. Confundiu Língua Oficial com Materna.
Porque os valores sociais e culturais se vão perdendo ou fundindo com outros, acho que deveria haver escolas onde se leccionasse “Línguas Maternas” para aqueles que se sentissem atraídos por ela.
Cabe ao próprio indivíduo a opção de escolha da sua língua materna e de seus costumes, fazendo uma triagem, assimilando e eliminando o que lhe convém. A este processo denomina-se ACULTURAÇÃO
ACULTURAÇÃO: Consiste na modificação da conduta de um indivíduo ou de um grupo, ocasionada pela absorção de traços culturais próprios de um grupo diferente, após contactos directos e prolongados.
Abraços
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