27 janeiro 2006

Beto Gourgel, a cultura angolana mais pobre

Tela de Dília Franguito (daqui)

Vítima de doença, Angola perdeu mais um dos seus principais expoentes da Cultura.
Beto Gourgel, natural de Caxito, foi um dos intérpretes e compositores do cancioneiro angolano, sobretudo na trova, tendo-se notabilizado a nível nacional e internacional.
O músico integrou várias delegações angolanas ao exterior do país, nomeadamente nos festivais internacionais da paz e da juventude e estudantes.
Com o nome de "Nganjeta", participou no programa humorístico "Conversas no Quintal ", da TPA (e retransmitido pela RTP ÁFrica), onde contracenou com Salu Gonçalves e o músico Dionísio Rocha.
Era, igualmente, um cronista do Jornal de Angola, sendo que uma das suas últimas crónicas publicadas, “Regresso” aconteceu por alturas da festa da Dipanda.

Homenagem a Beto Gourgel, por Jerónimo Belo
"Meu Caro Beto,
Podias ter avisado aos mais chegados, aos mais íntimos e também aos que continuam a dar valor a certos “ismos”. Mas quando o noticiário às 7 da manhã [25.Jan.2006] informou ao país que, num gesto egoísta de corporativismo divino, os Deuses haviam exigido a tua presença, cheguei a admitir que poderia tratar-se de uma engano. Afinal, existem tantos Betos!...
Mas não era engano. Tratava-se mesmo do Beto Gourgel; daquele que, do alto de um 8º andar, olhava para o mundo já com alguma indiferença, apesar de ter fundamentado a sua existência em valores e princípios inegociáveis.
Numa altura em que o mundo vive uma enorme sensação de vazio e vê esfumarem-se as causas emancipadoras do nosso destino colectivo, sabe bem, tem um gosto muito especial, partilhar – nessa existência empobrecida de projecto – algum tempo com alguém com novas ambições, novos sonhos.
E nós partilhamos algumas belas estórias, programas de rádio, sessões de música, violões, canções. E, sobretudo, sonhos.
Beto: pelo teu exemplo nas pequenas coisas, continuo a acreditar que nós – os da chamada “esquerda festiva”, que mistura Marx com Semba e Jazz com algum vinho, temos ainda a capacidade de acreditar na nossa vontade de fazer história e nos valores das pessoas que resistem – teimosamente – à caducidade iminente. Aqui, ali, em qualquer lugar, como diz aquela cantiga dos Beatles.
Até Jazz, meu Irmão Beto: és o último trovador."
(retirado do: Tantã Cultural (Total E&P Angola) N° 201 - 26Jan. / 01Fev.2006)

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