Tela de Dília Franguito (daqui)
Vítima de doença, Angola perdeu mais um dos seus principais expoentes da Cultura.
Beto Gourgel, natural de Caxito, foi um dos intérpretes e compositores do cancioneiro angolano, sobretudo na trova, tendo-se notabilizado a nível nacional e internacional.
O músico integrou várias delegações angolanas ao exterior do país, nomeadamente nos festivais internacionais da paz e da juventude e estudantes.
Com o nome de "Nganjeta", participou no programa humorístico "Conversas no Quintal ", da TPA (e retransmitido pela RTP ÁFrica), onde contracenou com Salu Gonçalves e o músico Dionísio Rocha.
Era, igualmente, um cronista do Jornal de Angola, sendo que uma das suas últimas crónicas publicadas, “Regresso” aconteceu por alturas da festa da Dipanda.
Homenagem a Beto Gourgel, por Jerónimo Belo
"Meu Caro Beto,
Podias ter avisado aos mais chegados, aos mais íntimos e também aos que continuam a dar valor a certos “ismos”. Mas quando o noticiário às 7 da manhã [25.Jan.2006] informou ao país que, num gesto egoísta de corporativismo divino, os Deuses haviam exigido a tua presença, cheguei a admitir que poderia tratar-se de uma engano. Afinal, existem tantos Betos!...
Mas não era engano. Tratava-se mesmo do Beto Gourgel; daquele que, do alto de um 8º andar, olhava para o mundo já com alguma indiferença, apesar de ter fundamentado a sua existência em valores e princípios inegociáveis.
Numa altura em que o mundo vive uma enorme sensação de vazio e vê esfumarem-se as causas emancipadoras do nosso destino colectivo, sabe bem, tem um gosto muito especial, partilhar – nessa existência empobrecida de projecto – algum tempo com alguém com novas ambições, novos sonhos.
E nós partilhamos algumas belas estórias, programas de rádio, sessões de música, violões, canções. E, sobretudo, sonhos.
Beto: pelo teu exemplo nas pequenas coisas, continuo a acreditar que nós – os da chamada “esquerda festiva”, que mistura Marx com Semba e Jazz com algum vinho, temos ainda a capacidade de acreditar na nossa vontade de fazer história e nos valores das pessoas que resistem – teimosamente – à caducidade iminente. Aqui, ali, em qualquer lugar, como diz aquela cantiga dos Beatles.
Até Jazz, meu Irmão Beto: és o último trovador."
(retirado do: Tantã Cultural (Total E&P Angola) N° 201 - 26Jan. / 01Fev.2006)
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