Há muito que Moçambique vivia uma paz podre onde alguns
reclamam e poucos aceitam perder um pouco da sua parte.
Não devo, não posso, nem quero, dizer quem tem razão. Talvez
todos os que reclamam, ou nenhum.
Mas há um facto que é indesmentível. Como é possível que
cerca de 20 anos depois da assinatura do Acordo de Paz de Roma, entre a Frelimo
e a Renamo, e depois de várias eleições gerais, ainda persista um artigo que
autoriza o líder da Renamo, Afonso Dhlakama, manter um grupo de homens armados
para sua autodefesa.
Num Estado Democrático e de Direito cabem às autoridades
manter a defesa da integridade física (social, política e económica) de todos
os povos desse Estado. É aceitável que – como existe em quase todos os Estados –
que individualidades tenham uma pequena – mas mesmo muito pequena – equipa de
guarda-costas, em regra não armados, e nunca um grupo de indivíduos bem armados
e prontos a atacar terceiros.
Isso é o que acontece com Dhlakama, líder da Renamo.
Mas a culpa não é dele; é de quem ainda aceita esta anómala situação. E o
resultado está à vista.
Ontem e depois de várias situações anómalas ocorridas em
zonas moçambicanas com ataques de indivíduos armados – a maioria inculpando os
homens da Renamo – contra interesses económicos e contra populações
moçambicanas, as FADM atacaram o reduto do líder da Renamo para onde se tinha “refugiado”
há cerca de um ano em protesto contra o sistema eleitoral dominado pela
Frelimo, levando à fuga daquele e de muitos dos seus apoiantes armados.
Como explicariam, depois, os porta-vozes da Renamo, em Maputo,
a fuga de Dhlakama
teve como resultado o descontrolo dos seus homens que ficaram sem um líder que
os comande e os aconselhe. E como consequência um ataque de alguns
remanescentes a um posto administrativo, hoje, sem consequências de maior.
Esta é uma situação que não interessa a ninguém e muito menos
aos moçambicanos, quando estavam prestes a ir às urnas para as autárquicas e no
próximo ano, para as presidenciais.
Quando a disputa política passa das palavras para as armas há
um facto que se torna indesmentível: todos perdem a razão.
E é isto o que se passa agora em Moçambique. Dhlakama
perdeu a razão que poderia ter – e parece que tinha face às análises políticas
diversas - quando criticou a atitude governamental perante a Comissão eleitoral
predominantemente frelimista – nada que seja novo no nosso continente, é
habitual entre os estados onde há partidos fortemente dominantes – como o
Governo de Guebuza perdeu a razão quando não soube dialogar em pé de igualdade
e manteve o status quo vigente por
muito tempo.
Ambos esqueceram-se que em negociações de boa-fé todos só ganham
quando todos cedem uma parte da sua porção.
Com isto Moçambique vê todos perderem a razão! E com ela fica
hipotecado todo o desenvolvimento social, político e económico da princesa do
Índico.
Transcrito no portal do jornal Pravda.ru (http://port.pravda.ru/mundo/24-10-2013/35467-mocambique_problemas-0/), secção Mundo!
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