Por norma não gosto de analisar e comentar certas
informações de sensível melindre a seco e em cima do acontecimento de modo a
que possa evitar análises a quente, que,, por vezes, se tornam
contraproducentes e inconvenientes, o que limita a credibilidade de quem as
faz.
Essa foi uma das razões por, até agora, me ter
abstido de analisar e comentar o problema político-militar ocorrido em São
Pedro de Sumé (ou monte Sumi), província do Huambo, em Abril passado, que terá
colocado frente-a-frente um representante governador da província do Huambo, o
senhor Kundi Paihama, polícias e militares, face aos seguidores da não convencional
“Igreja dos
Adventistas do Sétimo Dia, A Luz do Mundo”, liderada por José Julino Kalupeteca (ou Kalupeteka) e criada em 2007
Sobre esta seita, segundo alguns dos eus
seguidores ela estaria legal e ser atendida pelo
próprio governador da província – terá havido, em Outubro de 2014, a assinatura
de um convénio entre Kalupeteka e Paihama –, enquanto outros dizem-na ilegal como
dezenas de outras seitas e ditas igrejas evangélicas que pululem pelo país.
Sobre as hipotéticas relações entre a seita liderada
por Kalupeteka e algumas autoridades locais, a direcção da UNITA acusa que a
seita estaria a funcionar «… à margem da lei há alguns anos, com o
beneplácito das autoridades locais com quem desenvolveu, desde 2011, laços
privilegiados ao abrigo dos quais o cidadão Kalupeteka beneficiou de bens
materiais e espaços de intervenção nos órgãos de comunicação social públicos»; fim de citação.
De assinalar que esta seita está (ou estava)
disseminada por Luanda, Bié,
Benguela, Huambo e Kwanza Sul.
Segundo constam os registos oficiais que se seguiram
aos acontecimentos vários polícias, mais concretamente, nove membros da Polícia
Nacional, teriam sido mortos por elementos, dito armados, da seita, tanto no
Huambo como em Benguela, com o repúdio imediato do senhor Presidente da
República, que exigiu a rápida captura destes «indivíduos perigosos» e a sua entrega imediata à Justiça porque a
seita estabeleceria «uma ameaça à paz e à unidade nacional e que
a sua doutrina constitui uma perturbação à ordem social».
Estranhamente, e a nível oficial, só terão ocorrido
mortos entre os membros da autoridade. Fontes externas, dizem que a retaliação
que se terá seguido, e confirmado pelas autoridades que dizem terem abatido 13
seguidores da seita, apontam para dezenas, se não mesmo, centenas, de mortos
entre os fiéis da seita.
E aqui entra a questão que levou ao título desta
análise/comentário.
Face à disparidade de números de vítimas e como
terão ocorrido e às acusações de fontes independentes políticas, eclesiásticas
– a Igreja Católica já se terá oferecido para ajudar ao cabal esclarecimento do
caso – e sociais, que terão exigido tanto um inquérito parlamentar, como
independentes, a comunidade internacional começou a interessar-se pelo caso e a
solicitar investigações independentes externas sobre o caso.
De entre as que mais tem solicitado essa intervenção
externa independente está e continua a estar o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos (ACNUDH) em Genebra, Suíça, que tem reafirmado ser do
interesse de Angola que haja «transparência na investigação sobre o alegado massacre no Huambo,
facto não só negado pelas autoridades nacionais como exigido por estas uma
desculpa pública e retracção da ACNUDH, dado que esta basear-se-á em
informações prestadas «… por falsas
declarações prestadas por elementos tendenciosos e absolutamente irresponsáveis,
com a intenção de difamar o país».
Ora a ACNUDH tem-se
recusado em se retractar e apresentar desculpas porque, segundo esta
organização, o que interessa é que a situação fosse esclarecida, para do
interesse de todos, dado que há «muitos
relatórios diferentes sobre o que aconteceu e não podem ser todos verdadeiros.
Só precisamos de mais clareza sobre o que aconteceu».
Porque quem não deve não teme, neste caso acompanho
todos aqueles que desejam uma investigação supranacional com supervisão
internacional para que a nossa imagem não fique beliscada por dúvidas apoucadas
devido a sectores que se considerarão mais credíveis que toda uma sociedade
angolana que quer um esclarecimento total e oficial dos acontecimentos.
Todos se recordam como foram manipulados – e até
hoje continuam em segredo dos deuses – os factos do 27 de Maio de 1977, e
ninguém quer que isso continue a ocorrer.
Se houve culpados, se houve massacre injustificado –
seja de que parte tiver ocorrido – os executantes devem ser presentes à Justiça
e esta terá de ser implacável com os prevaricadores.
Nota: Texto escrito em 15 de Junho de 2015 e só hoje publicado!
Texto hoje (18.Jun.2015) transcrito no Africa Monitor; igualmente transcrito no semanário Folha 8, edição, de 20/Jun./2105, páginas 21 e 22.
Texto hoje (18.Jun.2015) transcrito no Africa Monitor; igualmente transcrito no semanário Folha 8, edição, de 20/Jun./2105, páginas 21 e 22.
1 comentário:
E também transcrito no Folha 8.
Enviar um comentário