22 dezembro 2007

As culpas da Polícia estarão mesmo na sua iliteracia?

(Um polícia não é - nem pode ser - um xerife do "far-west")
Segundo o ministro do Interior de Angola, Roberto Leal "Ngongo" o que se passará com a polícia dever-se-á à baixa escolaridade dos agentes da Polícia Nacional. Só assim se explicará, no conceito do Ministro, algumas das acções "pouco lógicas" dos agentes.
Acredito que muitos tenham um "baixo nível académico" mas há certas atitudes que não se explicam com a falta de cultura académica dos agentes mas sim com a falta de cultura cívica que, muito provavelmente, lhes foi incutida por quem não o deveria fazer, nomeadamente, os seus formadores.
Realmente mais que chamar incultos ou iletrados aos agentes da Polícia Nacional, o Ministro Roberto Leal deverá combater a indisciplina que grassa no seio da cooperação pelo que coloca em causa a deficiente credibilidade da autoridade.
Acredito que muitos sejam iletrados. Mas diz a cultura ancestral angolana e africana que há certos limites que são inultrapassáveis, como bater numa mulher, principalmente quando grávida. Isto não está na génese de um angolano! E tudo porque alguém quererá uma fazenda de que está na posse de um “contrário”.
Admito que muitos dos agentes que vigiam a nossa segurança sejam incultos e, não poucas vezes, não saibam contar para além do 10. Mas quando chefes seus para contarem até dez têm de se descalçar não me parece que a “acusação humilhante” do Ministro seja a mais digna.
Por isso não é com desculpas como as apresentadas que se justificam(?) as mortes recentes de dois jovens actores no Sambizanga – mesmo que seja uma zona problemática não se atira primeiro, tipo “far-west americano”, e se pergunta depois – ou no Roque Santeiro, local onde se movimento milhares de pessoas em simultâneo no que poderia redundar numa mortandade por pânico.
Tal como se justifica a morte de uma zungueira (vendedeira informal e que, por mero acaso, até era mulher de um agente da Polícia), à queima-roupa, por um polícia e nas condições em que o fez. Ou seja, e fazendo fé nos relatos de quem assistiu, foi uma autêntica execução. O resultado foi a instauração de um inquérito à actuação por excesso de zelo do agente…
Assim como nada justifica que duas crianças, de 12 e 11 anos, no Kwanza-Sul, que brincavam com pedras numa lavra do seu pai, sejam detidas pela polícia porque uma delas terá atirado inadvertidamente uma para a rua que atingiu o carro da Comissão Municipal Eleitoral, sem qualquer prejuízo, o que levou a que fosse, de imediato, consideradas suspeitas de serem “contrárias”. E, parece que não satisfeitos, ainda exigiram ao progenitor 60 mil kwanzas para as libertarem, o que não acontecendo, continuam detidos há cerca de 12 dias. Será que foram presentes a um juiz?
Como ainda continuam por justificar as detenções – e eventuais sevícias – dos jornalistas Alexandre Solombo (director da rádio Despertar e deputado pela Unita) e de um jornalista português da Voz da Alemanha que acompanhavam as demolições na zona habitacional do Calemba II, bem assim a manutenção da prisão do jornalista José Lelo.
E outros casos hão como o que aconteceu, mais recentemente, na zona do Grafanil em que um alegado agente á civil puxou de uma arma para resolver uma discussão que teria tido com um cidadão…
Por essas e estas razões se estranha que a maioria dos inquéritos que correm sobre as actuações da Polícia sejam patrocinadas pela própria Cooperação, em vez de ser o Governo ou o Estado Angolano a fazerem-no, como relembra e aconselha o sociólogo Paulo de Carvalho.

1 comentário:

Orlando Castro disse...

Por lapso, coloquei o comentário que se segue no local errado, ou seja no texto "Cubanos são quem...", quando o queria colocar aqui,

Ei-lo com as minhas desculpas:

Ter um diploma universitário não significa, nem em Angola nem em qualquer outro país, competência.

Kdd