14 dezembro 2007

A Guiné-Bissau na Paz… dos Senhores

(Os abutres espreitam e sorriem na Guiné-Bissau; foto ©daqui)
Ontem soube que a Assembleia Nacional Bissau-guineense aprovou por unanimidade uma amnistia total para todos os que praticaram crimes contra ou em nome das Instituições até 2004, como Golpes de Estado e outras acções violentas, de natureza civil ou militar.
Ia falar nisso mas atrasei-me porque, e felizmente, Orlando Castro, no Alto Hama, já escreveu um apontamento suficiente crítico para eu não perder tempo em analisar esta incongruência dos principais partidos Bissau-guineenses, nomeadamente do PAIGC, PSR e POUS que, apesar da boa vontade em colocar uma pedra nas desconfianças que pairam entre o Povo e as Instituições, só beneficiará quem mais tem ganho com esses crimes; e a maioria deles - ou a quase totalidade como a morte e Assumane Mané - nunca irão ter um claro e inequívoco desfecho: ou seja, saber quem foram, realmente, os criminosos que colocaram o país na actual situação.
E por esse facto e porque Orlando Castro está simbolicamente distraído e, felizmente, só aqui vem uma vez por mês e este é o das boas festas e das boas vontades entre os povos tenho a certeza que quando ele aqui chegar já passou do prazo e não me vai pedir direitos de autor.

Se calhar na Guiné-Bissau passa-se o mesmo que em Portugal. Todos têm os políticos que merecem. Numa altura em que o Conselho de Segurança da ONU afirma que o dinheiro da droga está a perverter a sociedade guineense, os deputados de Bissau resolveram o problema da criminalidade aprovando por unanimidade uma amnistia aos crimes ou acções subversivas cometidas contra as instituições da República até 2004. Não está mal.
Não haja dúvidas de que, numa altura em que acentuam actos de violação dos direitos mais básicos dos cidadãos, vir amnistiar alguns dos seus autores é mais uma forma, digo eu, de provar que o reino de Nino Vieira não é, não sei se alguma vez foi, um Estado de Direito. Mais uma vez, lá como cá, como em muitos países lusófonos, o crime compensa. Quem, por exemplo, tenha cometido golpes de estado, subversão armada ou assassinatos de cariz político vai agora ser amnistiado.
É claro que a medida não abrange crimes de delito comum ou os chamados crimes de sangue. Ou seja, dá uma no cravo e outra na ferradura. Não amnistia quem matou, mas amnistia quem mandou matar.
Francisco Benante, presidente do Parlamento guineense, diz que a amnistia "visa apaziguar os espíritos e promover uma verdadeira reconciliação entre os guineenses
".

Apaziguar o espírito dos infractores, já que o das vítimas está, em muitos caos, no reino dos céus.

2 comentários:

altohama disse...

O Alto Hama é, segundo o próprio Pululu, um dos blogues que mais consulta a obra-prima do mestre Eugénio Costa Almeida (estamos, como dizes, no Natal e não custa fazer um elogio...).

Além disso, o Alto Hama sente-se privilegiado quando é citado pelo Pululu, embora entenda que deveria ser mais vezes citado (se não for eu a dizer isto, quem o dirá?).

Seja como for, mais citação, menos citação, o importante são as causas que defendemos.

Kandandu e obrigado.

ELCAlmeida disse...

Uma coisa é o Pululu ser acedido via Alto Hama - o que demonstra pelos acessos que não são só 5 os que vão ao AH, como o autor tanto chora (chora que logo mamas... mas tens de preencher primeiro o cartão do partido...) - outra é o autor do AH perder tempo (felizmente) com o Pululu...
kandandu
EA