19 junho 2004

Os negociantes de armas e a protecção eterna!


Na sua edição de 16.Jun, o jornal português Público, estampava um interessante artigo de Ana Dias Cordeiro intitulado “Protecção dos Estados torna intocáveis os negociantes de armas”.
Relativamente a África, o Continente Mater foi dos que mais “ganhou” com o fim da guerra-fria, ao ser o caixote de lixo do armamento que resultou quer da implosão da ex-URSS e do Pacto de Varsóvia, quer das negociatas francesas nos consulados socialistas, quer ainda do armamento excedentário norte-americano. Em todos os momentos os traficantes gozaram, ou têm gozado de total impunidade e imunidade.
A articulista vai mais longe ao deixar perceber, citando Patrice Bouveret, um investigador francês do Centre de documentation et recherche sur la paix et les conflits (CDRPC), que os traficantes acabam sempre por ter uma completa imunidade, mesmo quando, numa primeira análise, deixam de ter utilidade. Na prática acabam por ficar sempre numa área, em tudo semelhante ao seu mercado “cinzenta”.
Ela remete-nos para casos como o do francês Pierre Falcone, que goza de imunidade diplomática devido ao seu cargo na UNESCO (representante de Angola), onde a França tem criticado, por vezes não discretamente os inquilinos do Fetungo, mas que, na prática,, nada têm feito. Não é em vão que esta personalidade, apesar dos diversos por mandatos de detenção, junto da Interpol, e que passa livremente por Lisboa, sem que as autoridades portuguesas informem os franceses. Também não é necessário. Como afirma aquele especialista francês sobre os traficantes, em geral, e o caso de Falcone, em particular “...demonstra é que em matéria de comércio de armas, há ligações entre o Estado e os traficantes...Se o Governo [francês] fosse até ao fim, através da justiça, mais nenhuma outra pessoa voltaria a aceitar ocupar-se disso sabendo que depois também não seria protegido”.
Por alguma razão, os documentos solicitados pelo juiz francês que lançou “Angolagate” nunca conseguiu que o governo francês desclassificasse determinados documentos relacionados com a venda de armas a Angola. A França é uma parte interessada na exploração petrolífera angolana. Não convém criar hostilidades inoportunas.
Por outro lado, alguns traficantes, quando presos são libertados “de uma forma inexplicada” ou nunca detidos mesmo em países onde têm mandado de detenção. Falcone é uma vez mais exemplo ao ser afirmado que “esteve também na Grã-Bretanha, Suíça - onde é igualmente perseguido - e em Espanha, sem nunca ser incomodado”.
Ou seja, enquanto persistirem guerras ou crises militares, haverá sempre “excelentes e desinteressados lavradores” que semearão os conflitos com as suas bélicas sementes obtidas, sabe Deus aonde e com o sempre cativante beneplácito do Diabo.

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