14 dezembro 2012

Egipto e depois do referendo?


Amanhã o Egipto vai referendar a nova Constituição saída de um Parlamento dominado pela Irmandade (Fraternidade) Muçulmana.

De notar que este Parlamento resultou de um voto popular livre e democrático. Isto se depois, o citado Parlamento não acabasse por ser totalmente dominado pelos Islamitas e as normas de lá emanadas não sejam, primordialmente próximas do dogma político-religioso que sustenta os Islamitas e o actual Presidente que, também ele eleito democraticamente, tentou reverter a seu favor todas as normas que pudessem autocratizar a sua vontade.

Segundo parece, a nova Constituição impõe a Sharia como pedra basilar da vida política, social e de justiça dos Egípcios esquecendo, assim, as outras correntes sociológicas e religiosas do País.

Uma parte qualitativa dos egípcios não deseja esta nova Constituição que está ser imposta não só pelo Parlamento como, e principalmente, pelo Presidente Morsi e seus aliados.

Ora, dever-se-á olhar para o caso egípcio num todo e não só para a potência faraónica que emerge nas margens do Nilo.

Uma vitória de um certo fundamentalismo islâmico poderá ser a vitória não de uma realidade política e social e religiosa) mas o fim de toda uma realidade política que emergiu na Tunísia e que é (re)conhecida como a Primavera Árabe.

Recordemos como uma pequena faísca se tornou numa enorme queimada rejuvenescente e progressiva do Atlântico à margem oriental mediterrânica e ao Gofo pérsico.

Se na maioria dos países por onde essa onda rejuvenescedora se estabilizou, na Síria os rebeldes tentam derrubar o regime de Bashir al-Assad – na realidade é um regime Baath (do Partido Árabe Socialista Baath), inicialmente liderado por Hafez al-Assad (o pai) – e estabelecer, segundo eles, um regime mais democrático, no que é apoiado por pretensos amigos da Síria onde se encontra o Ocidente.

Todavia, a realidade mostra que talvez, e uma vez mais, que o ocidente pode estar a apostar num “equídeo errado” e que, tal como na Líbia o resultado pode ser diferente do esperado.

Actualmente, tal como no Egipto a Síria tem no seu seio diferentes correntes política e, principalmente, religiosas que, conforme as referidas correntes e os interesses instalados, se movimentam com maior ou menor liberdade.

Ora os rebeldes têm mostrado que defendem uma maior implementação dos dogmas islâmicos no país, particularmente os de maior reaccionalidade e ortodoxia. Bem ou mal são acusados de gozarem de apoio declarado do Irão.

Tendo por mostra o que se passa no Egipto será que o Ocidente vai continuar a defender o fim do regime de al-Assad em nome de uma pretensa maior liberdade democrática tendo já em conta alguns dos actuais resultados, inclusive, nos países vizinhos?

Veremos se amanhã no referendo irá vingar o fundamentalismo ou o bom senso, porque neste resultado não estará só a vontade dos egípcios como a estabilidade de toda uma enorme região – o lago mediterrânico…

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