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10 outubro 2015

A Crise humanitária no al-Bahr al-al-Abyad Mutawassiṭ, a quem imputar culpas? - artigo

"Desde há umas épocas que o al-Bahr al-al-Abyad Mutawassiṭ (nome árabe do Mar Mediterrâneo, cuja tradução literal é Mar Branco do meio ou Mar Interior) é o palco de imagens e meio de fugas marítimas de migrantes e refugiados para o continente europeu visando procurar melhores condições de vida ou salvação das suas vidas em zonas de risco económico e, ou, militar.

Quantas vezes não assistimos a imagens televisivas de magrebinos e africanos das zonas entre o Sahel e centro-africano tentarem fugir para as possessões espanholas em Marrocos, Ceuta e Melila, procurando passar por cima de muros e vedações que circulam aquelas cidades hispano-marroquinas e, através delas, chegarem ao, aquilo que para ele é, o El Dourado económico, social e, pelo menos, isento de conflitos armados.

Só que as situações pontuais que se verificavam foram substancialmente alteradas.

Primeiro na Líbia, aproveitando a onda da Primavera Árabe, devido a intervenção armada para derrubar o ditador – assuma-se o título que lhe pertencia claramente – Muammar Kadhafi (ou Khadafi, ou al-Gaddafi). Um ditador que “sustentou” alguns políticos e líderes europeus (Blair ou Sarkozy, só como exemplos). Interessante; e o resultado está à vista.

Depois de uma periclitante estabilidade política e militar pós-intervenção o país – considerado por muitos como um exemplo de estabilidade social (ainda que manufacturada e dominada pela cúria kadhafiana) – entrou numa espiral político-militar cujas consequências estão à vista de todos os que a provocaram.

Sabe-se, hoje, que a Europa pagava a Kadhafi para manter no seu país muitos dos migrantes que tentavam aceder ao Continente Europeu. Recordemos a quantidade de africanos que regressatam a alguns dos seus países bem armados e de onde emergiram grupos extremistas e jihadistas bem armados cujas actividades continuam bem evidentes: Boko Haram (Nigéria, Camarões e Chade), Al Qaeda no Magrebe Islâmico – apesar de ter sido criado em 1998, inicialmente sob o nome de Grupo Salafista para Pregação e Combate, recrudesceu com a queda do ditador líbio –, Ansar al-Sharia (Líbia e Tunísia), ou o Ansar Dine (Mali). (...)" (continuar a ler aqui)

Publicado no semanário Novo Jornal, edição 401, de 9-Out.-2015, página 20 (1º Caderno)

14 dezembro 2012

Egipto e depois do referendo?


Amanhã o Egipto vai referendar a nova Constituição saída de um Parlamento dominado pela Irmandade (Fraternidade) Muçulmana.

De notar que este Parlamento resultou de um voto popular livre e democrático. Isto se depois, o citado Parlamento não acabasse por ser totalmente dominado pelos Islamitas e as normas de lá emanadas não sejam, primordialmente próximas do dogma político-religioso que sustenta os Islamitas e o actual Presidente que, também ele eleito democraticamente, tentou reverter a seu favor todas as normas que pudessem autocratizar a sua vontade.

Segundo parece, a nova Constituição impõe a Sharia como pedra basilar da vida política, social e de justiça dos Egípcios esquecendo, assim, as outras correntes sociológicas e religiosas do País.

Uma parte qualitativa dos egípcios não deseja esta nova Constituição que está ser imposta não só pelo Parlamento como, e principalmente, pelo Presidente Morsi e seus aliados.

Ora, dever-se-á olhar para o caso egípcio num todo e não só para a potência faraónica que emerge nas margens do Nilo.

Uma vitória de um certo fundamentalismo islâmico poderá ser a vitória não de uma realidade política e social e religiosa) mas o fim de toda uma realidade política que emergiu na Tunísia e que é (re)conhecida como a Primavera Árabe.

Recordemos como uma pequena faísca se tornou numa enorme queimada rejuvenescente e progressiva do Atlântico à margem oriental mediterrânica e ao Gofo pérsico.

Se na maioria dos países por onde essa onda rejuvenescedora se estabilizou, na Síria os rebeldes tentam derrubar o regime de Bashir al-Assad – na realidade é um regime Baath (do Partido Árabe Socialista Baath), inicialmente liderado por Hafez al-Assad (o pai) – e estabelecer, segundo eles, um regime mais democrático, no que é apoiado por pretensos amigos da Síria onde se encontra o Ocidente.

Todavia, a realidade mostra que talvez, e uma vez mais, que o ocidente pode estar a apostar num “equídeo errado” e que, tal como na Líbia o resultado pode ser diferente do esperado.

Actualmente, tal como no Egipto a Síria tem no seu seio diferentes correntes política e, principalmente, religiosas que, conforme as referidas correntes e os interesses instalados, se movimentam com maior ou menor liberdade.

Ora os rebeldes têm mostrado que defendem uma maior implementação dos dogmas islâmicos no país, particularmente os de maior reaccionalidade e ortodoxia. Bem ou mal são acusados de gozarem de apoio declarado do Irão.

Tendo por mostra o que se passa no Egipto será que o Ocidente vai continuar a defender o fim do regime de al-Assad em nome de uma pretensa maior liberdade democrática tendo já em conta alguns dos actuais resultados, inclusive, nos países vizinhos?

Veremos se amanhã no referendo irá vingar o fundamentalismo ou o bom senso, porque neste resultado não estará só a vontade dos egípcios como a estabilidade de toda uma enorme região – o lago mediterrânico…