17 setembro 2005

António Agostinho Neto (1922-1979)
A minha Homenagem pela passagem de mais um aniversário do nascimento, em Kaxicane, a 17 de Setembro de 1922, do Médico, Poeta, Político e Homem de Estado, cuja a morte, em Moscovo e numa altura em que, segundo alguns, estaria a tentar fugir da órbita soviética, nunca foi cabalmente explicada. Será que algum dia o será?

O Choro de África

O choro durante séculos
nos seus olhos traidores pela servidão dos homens
no desejo alimentado entre ambições de lufadas românticas
nos batuques choro de África
nos sorrisos choro de África
nos sarcasmos no trabalho de África

Sempre o choro mesmo na vossa alegria imortal
meu irmão Nguxi e amigo Mussunda
no círculo das violências
mesmo na magia poderosa da terra
e da vida jorrante das fontes e de toda a parte e de todas as almas
e das hemorragias dos ritmos das feridas de África
e mesmo na morte do sangue ao contacto com o chão
mesmo no florir aromatizado da floresta
mesmo na folha
no fruto
na agilidade da zebra
na secura do deserto
na harmonia das correntes ou no sossego dos lagos
mesmo na beleza do trabalho construtivo dos homens

o choro de séculos
inventado na servidão
em historias de dramas negros almas brancas preguiças
e espíritos infantis de África
as mentiras choros verdadeiros nas suas bocas

O choro de séculos
onde a verdade violentada se estiola no circulo de ferro
da desonesta forca
sacrificadora dos corpos cadaverizados
inimiga da vida
fechada em estreitos cérebros de maquinas de contar
na violência
na violência
na violência

O choro de África é um sintoma

Nós temos em nossas mãos outras vidas e alegrias
desmentidas nos lamentos falsos de suas bocas – por nós!

E amor
e os olhos secos.
(In: Sagrada Esperança, pág.119)

1 comentário:

Brigida Rocha Brito disse...

Bonitas palavras que, além de o serem, fazem pensar quem as lê! bjs