Uma análise feita, há um tempo, à
jornalista Susana Salvador, da agência LUSA, e hoje transcrita no portal do
matutino português “Diário de Notícias”; nesta análise são ainda citados Belarmino
Van-Dúnem e Alex Vines. (provavelmente deverá ser publicado amanhã)...
Angola é "uma potência regional em
emergência", com uma economia dependente de petróleo e diamantes, e enfrenta
desafios sociais, relacionados com a distribuição da riqueza, consideram
analistas contactados pela Lusa a propósito das eleições gerais de 31 de
agosto.
Num país onde o "desenvolvimento
social [está] muito atrasado", o próximo governo -- que sairá das eleições
de 31 de agosto -- vai enfrentar desafios "essencialmente sociais",
considera Eugénio Costa Almeida, investigador angolano no Centro de Estudos
Africanos do ISCTE, em Lisboa.
Na distribuição da riqueza, "pode e
deve ser feito muito mais", defende, constatando: "Angola tem, não
direi dez milhões de pobres, mas tem muitos milhões de pobres que precisam de
ver a renda ser melhor distribuída."
"Nem todos podemos ser milionários e
a distribuição da riqueza é feita também através da construção de estradas, da
criação de emprego, da gratuitidade do ensino", contrapõe o analista
político angolano Belarmino Van-Dúnem, reconhecendo que "é preciso que os
hospitais cheguem às aldeias e que as pessoas tenham acesso à educação, à
saúde, ao emprego, aos bens".
Para este professor universitário, que
escreve regularmente no estatal Jornal de Angola, o principal desafio de quem
vencer as eleições "será sobretudo manter o atual nível" de
crescimento da economia e de desenvolvimento, apostando em educação, infraestruturas,
habitação e industrialização.
"Nenhum de nós está satisfeito em
absoluto com o que está a ser feito", diz, acrescentando que é preciso
"continuar o aprofundamento do sistema democrático".
Diversificar a economia vai torná-la
"mais equilibrada", sendo igualmente necessário criar mais emprego
"para o grande número de jovens" do país, diz Alex Vines, diretor do
Programa África do Chatham House.
Tendo estado recentemente em Angola, o
investigador do instituto britânico de relações internacionais afirma que
"as pessoas querem melhores serviços -- saúde, educação, água,
eletricidade".
A excessiva dependência dos setores
petrolífero e diamantífero deixa o país "um pouco dependente das
flutuações externas", observa Eugénio Costa Almeida, do Centro de Estudos
Africanos do ISCTE, em Lisboa.
Realçando que os "alicerces" são
"fracos" e que, nalguns casos, "está até a construir-se coisas
pelo telhado", este investigador angolano reconhece que o desenvolvimento
de Angola é hoje "mais sustentado". Após a guerra civil, todos
queriam "uma mudança rápida", mas hoje "é um país em mudança
gradual" e "não se está a procurar crescer a toda pressa",
compara.
Angola "tem ambições de ser uma
potência regional" e tem potencial de "projeção política na zona
centro e meridional de África", mas, "para o fazer com sucesso,
precisa primeiro de ser forte internamente", realça Vines, recordando os
contratempos da política externa angolana.
"A Guiné-Bissau é um bom exemplo
disso", exemplifica, referindo-se ao mandato falhado da missão angolana
destinada a apoiar a reforma de segurança e defesa guineense, que acabou por se
retirar do país, abalado por mais um golpe de Estado pouco tempo depois.
"Os angolanos acreditaram que podiam
ser diferentes e não aprenderam com os erros dos portugueses, da União Europeia
e de outros e, no final, envolveram-se nos assuntos internos tanto como os
outros, que falharam anteriormente", resume.
Angola está "sob pressão a nível
internacional" e "é preciso gerir melhor a imagem externa" do
país, admite Belarmino Van-Dúnem.
"É uma potência regional em
emergência", porque "ainda lhe faltam alguns itens, nomeadamente
tecnológicos", resume Eugénio Costa Almeida.
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