19 agosto 2012

Angola é "uma potência regional em emergência"


Uma análise feita, há um tempo, à jornalista Susana Salvador, da agência LUSA, e hoje transcrita no portal do matutino português “Diário de Notícias”; nesta análise são ainda citados Belarmino Van-Dúnem e Alex Vines. (provavelmente deverá ser publicado amanhã)...

Angola é "uma potência regional em emergência", com uma economia dependente de petróleo e diamantes, e enfrenta desafios sociais, relacionados com a distribuição da riqueza, consideram analistas contactados pela Lusa a propósito das eleições gerais de 31 de agosto.

Num país onde o "desenvolvimento social [está] muito atrasado", o próximo governo -- que sairá das eleições de 31 de agosto -- vai enfrentar desafios "essencialmente sociais", considera Eugénio Costa Almeida, investigador angolano no Centro de Estudos Africanos do ISCTE, em Lisboa.

Na distribuição da riqueza, "pode e deve ser feito muito mais", defende, constatando: "Angola tem, não direi dez milhões de pobres, mas tem muitos milhões de pobres que precisam de ver a renda ser melhor distribuída."

"Nem todos podemos ser milionários e a distribuição da riqueza é feita também através da construção de estradas, da criação de emprego, da gratuitidade do ensino", contrapõe o analista político angolano Belarmino Van-Dúnem, reconhecendo que "é preciso que os hospitais cheguem às aldeias e que as pessoas tenham acesso à educação, à saúde, ao emprego, aos bens".

Para este professor universitário, que escreve regularmente no estatal Jornal de Angola, o principal desafio de quem vencer as eleições "será sobretudo manter o atual nível" de crescimento da economia e de desenvolvimento, apostando em educação, infraestruturas, habitação e industrialização.

"Nenhum de nós está satisfeito em absoluto com o que está a ser feito", diz, acrescentando que é preciso "continuar o aprofundamento do sistema democrático".

Diversificar a economia vai torná-la "mais equilibrada", sendo igualmente necessário criar mais emprego "para o grande número de jovens" do país, diz Alex Vines, diretor do Programa África do Chatham House.

Tendo estado recentemente em Angola, o investigador do instituto britânico de relações internacionais afirma que "as pessoas querem melhores serviços -- saúde, educação, água, eletricidade".

A excessiva dependência dos setores petrolífero e diamantífero deixa o país "um pouco dependente das flutuações externas", observa Eugénio Costa Almeida, do Centro de Estudos Africanos do ISCTE, em Lisboa.

Realçando que os "alicerces" são "fracos" e que, nalguns casos, "está até a construir-se coisas pelo telhado", este investigador angolano reconhece que o desenvolvimento de Angola é hoje "mais sustentado". Após a guerra civil, todos queriam "uma mudança rápida", mas hoje "é um país em mudança gradual" e "não se está a procurar crescer a toda pressa", compara.

Angola "tem ambições de ser uma potência regional" e tem potencial de "projeção política na zona centro e meridional de África", mas, "para o fazer com sucesso, precisa primeiro de ser forte internamente", realça Vines, recordando os contratempos da política externa angolana.

"A Guiné-Bissau é um bom exemplo disso", exemplifica, referindo-se ao mandato falhado da missão angolana destinada a apoiar a reforma de segurança e defesa guineense, que acabou por se retirar do país, abalado por mais um golpe de Estado pouco tempo depois.

"Os angolanos acreditaram que podiam ser diferentes e não aprenderam com os erros dos portugueses, da União Europeia e de outros e, no final, envolveram-se nos assuntos internos tanto como os outros, que falharam anteriormente", resume.

Angola está "sob pressão a nível internacional" e "é preciso gerir melhor a imagem externa" do país, admite Belarmino Van-Dúnem.

"É uma potência regional em emergência", porque "ainda lhe faltam alguns itens, nomeadamente tecnológicos", resume Eugénio Costa Almeida.

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