27 maio 2012

27M e vão 35 anos...



(Na época, uma foto de nitistas publicada pelo Jornal de Angola e recordada pelo semanário Novo Jornal, em 2009**)

Decorrem hoje 35 anos que aconteceu uma das páginas mais negras da história político-social de Angola.



Há 35 anos ocorria, o nunca esclarecido, fratricídio do 27 de Maio entre militantes do MPLA, então MPLA-Partido dos Trabalhadores.


De um lado, apoiantes de Agostinho Neto, à época o presidente da então República Popular de Angola, e do então major José Eduardo dos Santos, relator do Processo movido a Nito Alves.

Do outro, precisamente Nito Alves - a quem se atribui a autoria da famosa carta que conteria as não menos famosas "13 Teses de Nito Alves", embora haja que as mesmas teriam sido escritas por um militante e comissário político em Cabinda de nome Pedro Santos(*) - e de outras personalidades que fomentariam o "fraccionismo", assim então foi descrito pelo apoiantes de Neto, como Zita Valles, Ademar Valles ou José Van-Dunem.

É certo que houveram, esses são pelo menos os diversos testemunhos, mais ou menos credíveis, imensos mortos e centenas de detidos, alguns dos quais continuam desaparecidos.

Oficialmente, só estão referenciados como "mortos oficiais" 7 angolanos entre apoiantes e adversários: os 4 acima citados do "fraccionismo", Saydi Mingas, Helder Neto e Eugénio Veríssimo da Costa "Nzaji".

Esta foi uma crise que ultrapassou a gamela do MPLA. nela intervieram directa e indirectamente soviéticos e cubanos. Com a particularidade de, cada um, apoiar uma das facções. segundo alguns autores e analistas terá sido aqui que começaram a esfriar as relações entre a antiga URSS e Cuba.

Há quem também adiante que foi aqui que Neto começou a perde a "simpatia" de Moscovo e...

35 anos depois ainda há famílias que gostariam de fazer o devido luto.

Só que as autoridades angolanas, ou melhor, as cúpulas do MPLA mantêm um absurdo mutismo sobre o 27M e as suas consequências.

É altura do MPLA abrir-se, de vez, à comunidade e criar, internamente ou mesmo através do Governo nacional, na linha do que fez, e muito bem, a África do Sul e, mais recentemente, o Brasil, uma Comissão de Verdade onde tudo pudesse ser transmitido à comunidade e libertar todos os fantasmas.

Não creio que isso viesse a criar engulhos ao partido maioritário. Pelo contrário. A transpar~encia é o melhor remédio e as famílias respirariam, finalmente, mais facilmente!

Enquanto isso, muitos angolanos vão continuando a olhar para o 27M e esperando...


* Esta matéria pode ser lida no meu livro "Angola, potência regional em emergência", que está - ou pelo menos já esteve - à venda na Livraria da Chá de Caxinde!
** Esta foto também pode ser vista no meu livro!

NOTA: Uma rectificação e uma clarificação. A companheira de Nito Alves é Sita e não Zita como aqui escrevi. As 13 teses de Nito foram reconhecidas como as "13 teses em minha defesa"!
O meu agradecimento a quem me chamou a atenção.


Transcrito no Club-K (http://club-k.net/index.php?option=com_content&view=article&id=11360:27m-e-vao-35-anos-eugenio-c-almeida&catid=17:opiniao&Itemid=124)


e também, em versão espanhola em Misoafrica (http://misosoafrica.wordpress.com/2012/05/29/27-de-mayo-y-ya-son-35-anos/)

1 comentário:

NAMIBIANO FERREIRA disse...

Caro Eugénio,

Vou levar o seu artigo para a Ondjira, sempre com os devidos créditos, é claro!!
Kandandu