O jornalista
Bissau-guineense Aly Silva estampa no seu (nosso) blogue “Ditadura
do Consenso” um tradução de um artigo de um cronista senegalês Babacar
Justin Ndiaye, e publicado no passado dia 25 de Maio (por mero acaso, o Dia de África)
no “Sud Quotidien”.
Vejamos algumas partes do referido artigo:
“Por trás das manobras diplomáticas e do baile dos
contingentes militares, a Guiné-Bissau torna-se, cada dia mais, um campo de
colisão inevitável entre os interesses nevrálgicos do Senegal de um lado e os desígnios
estratégicos de Angola, do outro lado. O duplo protagonismo da Comunidade dos
Estados de Desenvolvimento da África Ocidental (CEDEAO) e da Comunidade dos Países
de Língua Portuguesa (CPLP), desembocara inevitavelmente num choque frontal
entre Dakar e Luanda. Duas capitais cujas intenções relativamente à
Guiné-Bissau ultrapassam os planos de saídas de crise oficialmente tornados públicos
e as resoluções publicamente votadas”.
“Os ganhos para o Senegal, na
cimeira da CEDEAO, tido em Dakar, o dia 3 de Maio, foram contrabalançados pelos
ganhos obtidos pela posição Angolana e os países da CPLP, perante o Conselho de
Segurança das Nações Unidas, que votou, no 18 de Maio a resolução 2048”.
“Mesmo assim, o Senegal ganhou a
primeira parte da disputa através do plano de saída de crise da CEDEAO, que
crucificou as autoridades derrubadas pelo Golpe de Estado do dia 12 de Abril,
excluindo assim a restauração do poder legitimo” pelo que um “novo Primeiro Ministro de Transição apoiado pelos
Chefes de Estado da África Ocidental, foi designado na pessoa de Rui Duarte de
BARROS, ex-Ministro das Finanças do antigo presidente Kumba Yalá, derrubado num
golpe e Estado em Setembro 2003. O novo Chefe do Governo tem por Ministro dos Negócios
Estrangeiros, o pro-francófono Faustino EMBALI (refugiado em Dakar, depois do
assassinato de Nino Vieira). E como cereja em cima do suculento bolo servido a
Macky SALL, (um contingente militar senegalês constituído por unidade de
engenharia militar, uma importante equipa médica e de Oficiais de
contra-inteligência), serão enviados para Bissau, sob a bandeira das forças
africanas da CEDEAO”.
Ou seja,
“Macky Sall reedita, sorrateiramente
a Operação Gabu. As tropas senegalesas chegaram em Bissau sem combater, nem ser
combatido. Estrategicamente, o Movimento das Forcas Democráticas da Casamance
(MFDC) vão ser cercadas – feitas sandwich- por
oficias de segurança em actividades no território da Guinée-Bissau e por tropas
de elite senegalesas em operações permanente na região de Ziguinchor” (Há muito que a questão de
Casamance andava em stand-by e tão calada…).
“Dai se explica o jogo individual do
Senegal bem encapotado no processo colectivo de saída da crise da CEDEAO. Dito
de outra forma, uma preocupação e intenção aparentemente dissimulada do
Senegal, mas com a condescendia do resto da restante comunidade. Posição contrária
é firmemente assumida contra os golpistas do Mali”.
Perante estes factos como se
posicionarão Eduardo dos Santos e Angola? O cronista pergunta se Eduardo Dos
Santos, ficará numa “má postura” logo acrescentando que “seguramente, a
resposta é não”. Porque, segundo na perspectiva
do cronista senegalês “Apoiado na CPLP […], Angola contra atacou, provocando no dia 7 Maio […] uma reunião do Conselho de Segurança das Nações Unidas, no
decurso da qual, o Representante Especial do Secretario Geral das Nações Unidas
para Consolidação da Paz na Bissau (UNOGBIS), o ruandês Joseph Mutaboba
apresentou um relatório sucinto dos acontecimentos”.
Ndiaye recorda que “O peso dos países
lusófonos contou muito - nomeadamente o do Brasil -, os membros do Conselho de Segurança
(entre os quais figura o Togo, portanto ligado pelas decisões da CEDEAO)
votaram unanimemente, a famosa resolução 2048 que diz o seguinte : «O Conselho
de Segurança solicita aos Estados membros da ONU no sentido de tomarem todas as
medidas necessárias para impedir a entrada e passagem nos seus territórios dos
cinco repontáveis do Comando Militar, entre os quais o Chefe de Estado Maior,
Antonio Injai e o seu adjunto o General Mamadu Nkrumah Ture»”. E que “Postado por Portugal, a resolução 2048 vai ao encontro das
decisões da CEDEAO sobre a Guiné-Bissau e, em termos firmes: «Os 15 Estados
membros do Conselho ordenam o Comando Militar a deixar o poder a fim de
permitir o regresso à ordem constitucional»”
Acresce e recorda ainda Ndiaye que
“Na
verdade, a vontade de Angola de fortalecer a sua posição na Guiné-Bissau
permanece intacta tanto militarmente como economicamente. Luanda comprou um
hotel em Bissau para alojar os seus oficiais da MISSANG, esperando a construção
de novas casernas. No meio do mês de Abril, o Ministro da Defesa, o General Van
Dunem viajou para Bissau. No capitulo politico, os Angolanos exploraram bem as
falhas e fissuras no bloco pouco compacto da CEDEAO, e desencadearam uma
operação de charme para obterem o apoio do Presidente Alfa Conde da Guiné
Conakry que, recebeu calorosamente, no dia 16 de Maio, o Secretario de Estado
dos Negocios Estrangeiros, Rui Manguerra, portador de uma mensagem pessoal de
Eduardo Dos Santos” no que terá sido bem
conseguida porque foi uma “Ofensiva bem alvejada e positivamente conseguida,
quando se sabe que, Conakry e Praia foram intransigentes no que toca ao
regresso à ordem constitucional, sinonimo do regresso ao poder de Raimundo
Pereira e de Carlos Gomes Jr.”
Resumindo, embora muito ainda haja
no referido artigo:
“O duelo Macky-Dos Santos será duro na Guiné-Bissau
(fronteira da Casamance), onde Macky Sall joga o destino unitário do seu pais;
e, Eduardo Dos Santos, por seu turno, tenta confortar os interesses duma potência
da África Austral (Angola) com objectivos expansionista na zona. O confronto
está à vista, mas será que os protagonistas têm armas iguais nesse confronto?
Ao Senegal não faltam vantagens (proximidade e motivações), mas melhor ganharia
a seguir prospectivamente esse pais tão perto, mas muito complicado,
mobilizando equipas de «seguimento»... e de trabalho sobre esse seu vizinho que
se dedica à anarquia politico-militar como principio. Do lado dos Negócios
Estrangeiros, capacidades não faltam, tais como, Sua Exa. Omar Benkhtab Sokhna,
o inamovível Embaixador do Senegal em Bissau durante os anos 90. E, a este título
obreiro da vertente diplomática da operação Gabu decidido pelo presidente Abdou
Diouf. As suas notas e testemunhos podem inspirar e orientar as melhores
decisões do Governo.
Quanto à Angola – mesmo diplomaticamente pressionado e
militarmente em retirada - ela não vai deixar as coisas ir por água abaixo.
Angola dispõem em Bissau de laços e redes locais capazes de ajudar rasgar (sabotar)
o mapa de saída de crise da CEDEAO. Uma margem de manobra herdada não apenas
duma colonização em comum, mais também de uma camaradagem baseada numa osmose
politica entre os quadros do MPLA e do PAIGC. Recorde-se que, os dirigentes do
nacionalismo Angolano tais como Lúcio Lara, Luis de Almeida e o escritor Mario
de Andrade davam aulas ou animavam regularmente seminários na Escola dos
quadros do PAIGC baseado, na época, na Guiné-Conakry”.
Ou seja, e uma vez mais, estamos
na presença de uma disputa pelo domínio de uma região de duas potências regionais
embora, uma, claramente, regional – Senegal – e outra com características, cada
vez mais bem vincadas, com tendência multirregional enquadrada na minha tese
potencial de definida como “Instrumentality power” já aqui explanada
– Angola!
Podem ler o texto
(versão portuguesa) integralmente aqui:
1 comentário:
Enquanto a GUINÉ-BISSAU não desaparecer do mapa como país, tanto o Senegal e Conacry não param de lutar.
A cobardia do MPLA, FRELIMO e PAICV, irmãos do PAIGC de Amílcar Cabral têm muita responsabilidade na solução deste problema.
São africanos envergonhados estes três movimemntos, só pela luta do PAIGC de Cabral é que chegaram onde estão.
Não reconhecem o sacrifício dos guineenses sob o jugo do PAIGC para correrem com o "tuga" de Angola e Moçambique e Caboverde e São Tomé.
Se ficarem calados, esses três movimentos ficarão para a história africana como traidores, ingratos e cobardes.
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