A
crise do Mali resultante da secessão da parte norte do país levada a efeito por
rebeldes tuaregues ditos islamitas radicais – o que se estranha porque os
tuaregues nunca foram radicais islamitas, em parte, devido aos efeitos do
pós-independência da Argélia –, após uma tentativa de Golpe de Estado, liderada pelo capitão Amadou Haya Sanogo, o que obrigou a uma
tomada de posição forte por parte da União Africana e da CEDEAO.
Tal
como a verificada no Coup d’État (Golpe
de Estado) da Guiné-Bissau.
Recorde-se que a secessão resultou na
proclamação do Estado de Azawad, de
matriz islâmica, pelo Movimento Nacional para a Libertação de Azawad
(MNLA), a que se juntaram outros grupos rebeldes, incluindo radicais alegadamente
ligados à al-Qaeda, como a Al-Qaeda no Magreb Islâmico (AQMI) ou o Ansar
Dine Islâmico, bem como sudaneses e alegados saauris; o Azawad é um
território um pouco maior que a França, e que corresponde a cerca de
dois terços da área total do Mali (ver imagem).
Ou
seja, e em boa verdade, o que a UA e a CEDEAO fizeram foi já habitual um tiro
no escuro, demasiado breu, sem quaisquer efeitos práticos – como em todos os
Golpes ocorridos no Continente – pelo que necessitou da entrada de terceiros
para que a questão tivesse outro caminho.
Foi
o que aconteceu nestes dois últimos dias com a entrada das forças armadas
francesas na procura da recuperação da integridade territorial do Mali após suposto
pedido das autoridades malianas de Bamako.
Essa foi a razão oficial. No entanto, há uma
outra razão substantiva e subjacente para que a França, com o apoio da ONU, da CEDEAO, da União Africana –
por via da aplicação da Resolução 2085 da ONU,
sobre o Mali, – e de alguns dos principais líderes africanos, como o
presidente sul-africano, Jacob Zuma o confirmou, ontem, em Luanda, tenha
começado a actuar no Mali: a eventual queda do presidente interino Dioncounda Traoré.
O governo de
Traoré começou a sentir os reais efeitos da crise militar quando os rebeldes tomaram
de assalto, no passado dia 10, a cidade de Konna – na região de Mopti, que já não
faz parte de Azawad –, a cerca de 300
quilómetros a norte da capital, Bamako.
Não esqueçamos que Traoré ascendeu ao poder
em Bamako depois da tentativa de um Coup
d’État levado a efeito em Março de 2012, pelo capitão Sanogo que visou a
queda do regime de Mamadou Toumani Touré,
também ele tendo ascendido ao poder, em 2002, após um golpe de Estado.
Ora, a razão invocada para o Golpe foi o alegado descontentamento
dos militares com a falta de meios para combater os rebeldes tuaregues no Norte
do país. E, todavia, isso não impediu que os revoltosos, após o não apoio da UA
ao Golpe, tenham sido os mentores da secessão tuaregue.
Acresce que os tuaregues são acusados de
terem estado na linha da frente líbia a apoiar e sustentar o regime de Muammar
Kadhafi até ao seu fim definitivo. Na fuga destes elementos bem treinados e
armados para o norte do Mali levou que os mesmos acarretassem consigo muito
material bélico, nomeadamente, armamento pesado.
Como este conflito pode
provocar uma série de riscos elevados para todo o continente, nomeadamente, uma
eventual violenta reação dos islamitas e um potencial desastre humanitário,
vamos aguardar qual será o desenrolar final do conflito.
Que esta ajuda militar da
França – que deverá ter o apoio das forças africanas da Afisma, (força africana
de cerca de 300 soldados da CEDEAO) – não acabe como a ajuda militar
humanitária da Líbia.
O ataque de islamitas a um
bloco de extração de gás na Argélia – sob a denúncia deste país ter facilitado
a travessia aérea das forças francesas para o Mali –, com a captura de reféns e
o contra-ataque das forças argelinas para a recuperação do território não
inferem bom augúrio.
Ainda assim, há a
expectativa que, depois do fim da crise, a questão da Azawad seja assunto de
uma análise ponderada e objectiva, visando a integridade territorial do Mali,
mas... (basta ver o que aqui escrevi)
1 comentário:
E uns vizinhos à beira daquele deserto que tenham juizinho e que se respeitem e se "civilizem" e se deixem de golpadas.
Porque aquela guerra pode sobrar para os mais desorganizados.
Mesmo que alguns adoptem a fé, não julguem que escapam!
Enviar um comentário