17 janeiro 2013

E na recente crise do Mali…


A crise do Mali resultante da secessão da parte norte do país levada a efeito por rebeldes tuaregues ditos islamitas radicais – o que se estranha porque os tuaregues nunca foram radicais islamitas, em parte, devido aos efeitos do pós-independência da Argélia –, após uma tentativa de Golpe de Estado, liderada pelo capitão Amadou Haya Sanogo, o que obrigou a uma tomada de posição forte por parte da União Africana e da CEDEAO.

Tal como a verificada no Coup d’État (Golpe de Estado) da Guiné-Bissau.

Recorde-se que a secessão resultou na proclamação do Estado de Azawad, de matriz islâmica, pelo Movimento Nacional para a Libertação de Azawad (MNLA), a que se juntaram outros grupos rebeldes, incluindo radicais alegadamente ligados à al-Qaeda, como a Al-Qaeda no Magreb Islâmico (AQMI) ou o Ansar Dine Islâmico, bem como sudaneses e alegados saauris; o Azawad é um território um pouco maior que a França, e que corresponde a cerca de dois terços da área total do Mali (ver imagem).

Ou seja, e em boa verdade, o que a UA e a CEDEAO fizeram foi já habitual um tiro no escuro, demasiado breu, sem quaisquer efeitos práticos – como em todos os Golpes ocorridos no Continente – pelo que necessitou da entrada de terceiros para que a questão tivesse outro caminho.

Foi o que aconteceu nestes dois últimos dias com a entrada das forças armadas francesas na procura da recuperação da integridade territorial do Mali após suposto pedido das autoridades malianas de Bamako.

Essa foi a razão oficial. No entanto, há uma outra razão substantiva e subjacente para que a França, com o apoio da ONU, da CEDEAO, da União Africana – por via da aplicação da Resolução 2085 da ONU, sobre o Mali, – e de alguns dos principais líderes africanos, como o presidente sul-africano, Jacob Zuma o confirmou, ontem, em Luanda, tenha começado a actuar no Mali: a eventual queda do presidente interino Dioncounda Traoré.

O governo de Traoré começou a sentir os reais efeitos da crise militar quando os rebeldes tomaram de assalto, no passado dia 10, a cidade de Konna – na região de Mopti, que já não faz parte de Azawad –, a cerca de 300 quilómetros a norte da capital, Bamako.

Não esqueçamos que Traoré ascendeu ao poder em Bamako depois da tentativa de um Coup d’État levado a efeito em Março de 2012, pelo capitão Sanogo que visou a queda do regime de Mamadou Toumani Touré, também ele tendo ascendido ao poder, em 2002, após um golpe de Estado.

Ora, a razão invocada para o Golpe foi o alegado descontentamento dos militares com a falta de meios para combater os rebeldes tuaregues no Norte do país. E, todavia, isso não impediu que os revoltosos, após o não apoio da UA ao Golpe, tenham sido os mentores da secessão tuaregue.

Acresce que os tuaregues são acusados de terem estado na linha da frente líbia a apoiar e sustentar o regime de Muammar Kadhafi até ao seu fim definitivo. Na fuga destes elementos bem treinados e armados para o norte do Mali levou que os mesmos acarretassem consigo muito material bélico, nomeadamente, armamento pesado.

Como este conflito pode provocar uma série de riscos elevados para todo o continente, nomeadamente, uma eventual violenta reação dos islamitas e um potencial desastre humanitário, vamos aguardar qual será o desenrolar final do conflito.

Que esta ajuda militar da França – que deverá ter o apoio das forças africanas da Afisma, (força africana de cerca de 300 soldados da CEDEAO) – não acabe como a ajuda militar humanitária da Líbia.

O ataque de islamitas a um bloco de extração de gás na Argélia – sob a denúncia deste país ter facilitado a travessia aérea das forças francesas para o Mali –, com a captura de reféns e o contra-ataque das forças argelinas para a recuperação do território não inferem bom augúrio.

Ainda assim, há a expectativa que, depois do fim da crise, a questão da Azawad seja assunto de uma análise ponderada e objectiva, visando a integridade territorial do Mali, mas... (basta ver o que aqui escrevi)

1 comentário:

Retornado disse...

E uns vizinhos à beira daquele deserto que tenham juizinho e que se respeitem e se "civilizem" e se deixem de golpadas.

Porque aquela guerra pode sobrar para os mais desorganizados.

Mesmo que alguns adoptem a fé, não julguem que escapam!