Às vezes as nossas palavras são dispensáveis.
Daí que, com a devida vénia, retranscreva o artigo abaixo, da autoria de Gonçalo de Carvalho para a BBCPara África, sobre uma exposição artística moçambicana de conversão de armas em esculturas de Arte.
No Museu Britânico, no seu grande átrio central coberto logo à entrada, a Árvore da Vida, ou Tree of Life, serve de introdução à grande exposição sobre África, agora inaugurada.
Africa at the British Museum é o título genérico da exposição que vai permancer neste museu de Londres até ao próximo mês de Abril.
A Árvore da Vida, a simbolizar a dinâmica criativa dos africanos, é uma obra de artistas de Moçambique que, integrados no projecto TAE, "Transformar Armas em Enxadas", executam obras de arte a partir de armas do tempo da longa guerra civil que atingiu Moçambique.
"Este projecto incentiva outros a trocarem armas de morte por ferramentas para a vida". Dr Daleep Mukarji, director da Christian Aid.
O conflito de dezasseis anos, desde 1976 a 1992, deixou milhões de armas espalhadas por todo o país.
Era necessária uma iniciativa que convencesse a população a devolver as armas, de modo a que elas não viessem um dia a cair em mãos erradas.
Armas por Enxadas
Pormenor do tronco da Árvore da Vida
E assim surgiu em 1995 o projecto TAE, da autoria do Bispo Dom Dinis Sengulane em conjunto com o Conselho Cristão de Moçambique e com o apoio da ONG Christian Aid.
Inicialmente as armas eram todas destruídas mas, a certa altura, Dom Dinis considerou ser necessário deixar testemunhos para as próximas gerações.
E assim surgiu a ideia de transformar as antigas armas mortíferas da guerra em obras de arte.
O Museu Britânico teve conhecimento do trabalho que os artistas moçambicanos estavam a desenvolver e encomendou-lhes as obras que agora são uma das principais atracções da exposição Africa at the British Museum.
Tree of Life
A Árvore da Vida é uma escultura que pesa cerca meia tonelada e mede três metros de altura.
Feita inteiramente a partir de peças de armas de guerra, como metralhadoras AK-47, as conhecidas 'Kalashnikovs', pistolas e lança granadas, foram necessários três meses para a sua conclusão.
O Director do Museu Britânico, Neil MacGregor disse estar impressionado pelo modo como artistas moçambicanos constroem uma cultura de paz criando esculturas fascinantes a partir de armas mortíferas desmanteladas.
Como funciona o TAE?
"Trono" feito com armas entregues no projecto TAE
As populações moçambicanas, individualmente ou em grupo, devolvem o armamento que têm em seu poder ou cuja localização conheçam.
Em troca recebem instrumentos de trabalho que os possam ajudar a ganhar o seu sustento.
"Pode ser uma enxada, uma máquina de costura, uma bicicleta ou mesmo, no caso de uma aldeia que se juntou, um tractor". Hilário Nhatugueja, artista participante no TAE.
Esse instrumento de trabalho varia consoante o número de armas que forem entregues.
O tractor, por exemplo, foi trocado por 500 armas que a aldeia em conjunto recolheu.
O projecto TAE, nos seus nove anos de existência, já recolheu e desmantelou mais de 600.000 armas.
Mas há ainda milhões de pistolas, espingardas, metralhadoras e lança-granadas, que ainda não foram devolvidas.
Sem comentários:
Enviar um comentário