De facto, parece que de África nada tem acontecido que mereça algum qualquer relevo da comunicação social portuguesa. Não me recordo se foi na passada sexta-feira ou hoje, que na RDP-África o actual comentador residente, actualmente João Diogo, ao analisar os jornais publicados em Portugal só reconhecia que apareciam duas notícias e uma, salvo erro, prendia-se com a viagem da comitiva benfiquista (Luís Filipe Vieira, Eusébio e Mantorras) a Cabo Verde.
Realmente parece que nada está a acontecer em África.
Se lermos, como faço diariamente através das informações diárias do Google sobre Angola, verifico que os títulos têm, na sua grande maioria, proveniência ou dos dois principais – e únicos – órgãos informativos angolanos com internet (Angop e Jornal de Angola) ou provêm do Brasil e, por vezes, de Macau. São raros, quase nulos, os que têm por remetente um órgão informativo português; às vezes lá surge um artigo da Lusa, mas, quase sempre, com endereço do Brasil.
Mas quando conseguimos obter ou aceder a notícias africanas, numa Deutsche Welle, numa Rádio France Internationale, numa BBC, ou na Panapress, lá destapamos notícias como (por acaso também ontem referida, e em caixinha curta, no matutino português Diário de Notícias, ou teria sido no seu irmão Jornal de Notícias) o Zimbabué vê os seus militares abaterem elefantes para saciarem a fome porque não recebem dinheiro suficiente e o que recebem não compra o que não há, que a cólera ao contrário do que afirma os seu putativo dono, um tal senhor Mugabe, ainda não acabou e está longe disso, ou como li no Jornal de Angola que tive o prazer de hoje receber, do passado dia 8 de Janeiro, e que nem vejo reflectido no Google, que o senhor Mugabe demitiu 12 ministros e nomeou 8 sem dar uma palavra ao vencedor das Legislativas.
E depois vemos que em Moçambique as cheias já provocaram 17 mortos e colocaram, como habitualmente – quando será que o Governo tem coragem de “correr” com as pessoas – leia-se, habitações – das orlas ribeirinhas e obrigar os moçambicanos a fazerem casas em pontos mais altos e utilizarem só as zonas banhadas pelas águas para as suas machambas e quintas. A falta de coragem leva que se gaste dinheiro, que poderia ser utilizado em outros fins, em gastos com medicamentos provocados pelas cheias e incapaciadde de recolocação dos povos. E, enquanto isso, também a cólera começa a ter os seus efeiotos em Moçambique. Felizmente parece controlada.
Tal como parece estar controlado o surto da febre hemorrágica do ébola nos territórios fronteiriços da RDCongo junto a Angola e que obrigou o Governo angolano a tomar medidas políticas, como o fecho de fronteiras com os congoleses democráticos. Congo democrático onde ainda persiste o caos humanitário provocado pelas contendas entre os militares de Kabila e os guerrilheiros anti-governamentais. Quem parece não se ter esquecido deles foi a Caritas Internacional.
E quem diz estes fala em outros casos como o fim da greve dos professores na Guiné-Bissau (só vi uma pequena nota na RDP-África) a pedido do novo Governo e dos alunos, ou que quase tenha passado despercebido o naufrágio na região Bissau-guineense de Biombo, que provocou cerca de 50 mortos, a tentativa de recuperação da pista do aeroporto internacional de São Tomé ou que Itália destaca o papel de Angola na resolução de conflitos locais, que Anália Pereira, a Mãe Coragem, foi hoje a enterrar com a presença de ministros e deputados angolanos, ela que foi deputada na Legislatura anterior e não pertencia ao poder actual – e habitual – ou que Holden Roberto foi recordado como um dos maiores nacionalistas angolanos – precisou de falecer e aconteceu porque alguém se esqueceu que deveria ser devida e medicamente acompanhado – ou que Santana deverá vir mesmo para o Guimarães – e por falar em desporto, que o presidente do Sporting (não vi a entrevista porque sou lampião) terá dito que não se recandidatava porque precisava de gerir as suas empresas que estão fortemente implantadas em Angola e para onde, li recentemente, Portugal terá recolhido uma boa percentagem de exportações, sendo até um dos maiores, senão mesmo o maior, importador de produtos portugueses.
Enfim, ao contrário do que parece esquecer a comunicação social portuguesa, as notícias não começam e acabam em Obama ou em Gaza. Para sul há muita informação que merece ser transmitida aos seus leitores, ouvintes ou telespectadores.
É por estas e por outras que alguns, nomeadamente em Angola e Moçambique, e não são tão poucos assim, se riem quando falam em Lusofonia; por isso não nos admiramos que a China esteja a participar no alargamento do porto mauritano de Nouakchott, esquecendo-se, como habitualmente nestes casos, do golpe de Estado, que seja o principal fornecedor para a construção dos estádios angolanos do CAN2010, entre outras coisas, mais…
2 comentários:
Mais palavras para quê? Será que mil pretos correspondem a um palestiniano? Será que dez mil pretos correspondem a um israelita?
... é caso para dizer que a luta, a nossa luta, continua,
Kdd
Olá Eugênio isso foi comentado aqui no Brasil por um colunista do jornal "Folha de S. Paulo", o maior do país. Ele dizia que falar de Israel sempre dá audiência e que poderia escrever sobre o Congo ou Zimbábue, mas se escrevesse ninguém iria ler e ainda teria gente que iria reclamar.
Infelizmente não é só a mídia portuguesa que ignora a África. Aqui no Brasil (um páis com forte laços no continente), a imprensa exclui de suas páginas e TV a África. Só quando acontece uma grande tragédia os jornais se mexem.
Ainda bem que as mídias internacionais e blogs como o seu, são grande fonte de informação para nós jornalistas que buscamos todo tipo de informação. Parabéns pelo artigo e siga em frente.
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