07 fevereiro 2009

Democrata desde que ganhe…

A República Malgaxe, na quarta maior ilha do mundo e a maior de África, Madagáscar, está em polvorosa entre o edil da câmara de Antananarivo, capital malgaxe, o Andry Nirina Rajoelina, e o presidente eleito, Marc Ravalomanana.

Rajoelina – o “jovem TGV” como é conhecido devido à vontade rápida de ascender ao poder e também por causa do partido que ajudou a criar, o Tanora malaGasy Vonona (Juventude Malgaxe Determina) – acusa Ravalomanana de "derivas autoritárias e de práticas ditatoriais" e de ser "um regime que ridiculizou a Constituição" pelo que quer a sua imediata destituição. Esta foi uma das razões para que o líder malgaxe não estivesse na recente XII Cimeira da União Africana (UA) que avisou os adeptos do TGV para não tentarem derrubar o presidente porque não seriam reconhecidos.

Enquanto estes dois homens-fortes se digladiam o primeiro-ministro Charles Rabemananjara solicitou a destituição de Rajoelina por desvio da conduta autárquica – por contornar essa disposição o edil nomeou Michèle Ratsivalaka, a sua adjunta para a área dos Assuntos Sociais, Cultura e Lazer, como líder camarária temporária – e deu ordens ao exército e à polícia para disparar sobre uma manifestação mobilizada pela empresa de média de Rajoelina, causando cerca de 30 vítimas mortais.

Há, segundo especialistas malgaxes razões para o descontentamento populacional que grassa na ilha de Madagáscar. Mas também é verdade qe muito desse descontentamento tem sido fomentado pelo edil de Antananarivo que vê neste descontentamento uam forma de chegar mais depressa ao poder presidencial, mesmo que para isso, e como tem sido habitual desde meados dos anos 70 do século passado, haver, periodicamente, golpes de Estado institucionais sem cobertura, directa, militar, como relembrou Désiré Ramakavelo, um antigo ministro das Forças Armadas.

Refira-se que Andry Rajoelina já se auto-nomeou presidente e pensa apresentar os membros do seu Governo em breve. Também há quem diga que esta tomada de posição de Rjoelina se deve ao facto do edil da capital malgaxe estar sob supervisão do antigo presidente Didier Ratsiraka.

É por estas e por outras que na última Cimeira da UA só dois países ratificaram a Carta Africana da Democracia, Eleições e Governação. Para quê ratificar uma coisa que só existe no papel na maioria dos Estados africanos. Democracia sim, mas desde que eu seja o vencedor e dono do poder…
Posteriormente publicado no , na rubrica "Opiniões e Análises"

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