"Ciclicamente e quando tudo parece que está a estabilizar São Tomé e Príncipe é abanada por convulsões sociais ou paramilitares.
Recentemente um líder sindical foi detido por actividades que, segundo o Estado não estariam bem de acordo com a sua natural convicção social, ou seja, não estaria em actividade sindical, já que algumas reivindicações que levaram a ser auscultado iam para além do admissível.
Na passada quinta-feira a cidade de São Tomé acordou com um aparato militar e policial que visariam não só a proteger os palácios presidencial e de governo e do quartel general das Forças Armadas, como sitiaram o edifício onde estavam membros da Frente Democrática Cristã, partido sem assento parlamentar, incluindo o seu presidente, Arlécio Costa, que pertenceu ao extinto Batalhão 32, mais conhecido por “Batalhão Búfalo”. Juntamente com mais três dezenas de companheiros seus, foi detido, bem assim capturado algum, e não pouco material e munições paramilitares.
Arlécio Costa também é representante em São Tomé de um grupo financeiro e turístico sul-africano “Falcon Group.
Segundo parece, pelo que pude ouvir e ler, os membros do extinto “Batalhão Búfalo” têm mostrado uma capacidade financeira e interventora nas questões sociais e, porque não dizê-lo, políticas, que parecem pouco extravasar os limites admissíveis.
Depois de há alguns meses os ex-Búfalos terem sitiado o Tribunal de Contas (TC), agora parece que queriam uma “mudança” do Poder. Em 2003, foram co-autores de outra tentativa de golpe contra o governo da 1ª Ministra Maria das Neves, enquanto o Presidente da República estava na Nigéria. (...)" (continuar a ler aqui)
Publicado no semanário , edição 204, de 21/Fev./2009
1 comentário:
Martinho Júnior
S. Tomé e Principe: A HORA DOS BÚFALOS
“Para mim, a palavra-chave do momento é: diálogo e diplomacia. É com um espírito claramente multilateral que se deve avançar, e não com um espírito de super potência que, nos seus actos, já não o é, nem economicamente, nem politicamente, nem moralmente de certeza, já para não dizer eticamente. Ainda que reste aos Estados Unidos um pouco da sua super potência graças à sua força militar, essa não será suficiente para salvar a Pax Americana. A Pax Americana é uma coisa do passado e, rapidamente reconheceremos isso na Europa e mais rapidamente prepararemos uma cooperação multilateral – ou seja, uma outra coisa que não uma cooperação bilateral ou do tipo NATO – o melhor que se possa.”
Entrevista ao ex – Secretário Geral Adjunto da ONU, Hans – Christof von Sponeck por Silvia Cattori para o “Réseaux Voltaire” e disponível no “Resistir Info” com tradução de Rita Maia, desde 6 de Abril de 2007, sob o título “A implicação da ONU em crimes de guerra".
O período final da década de noventa do século XX, particularmente com a introdução do decano diplomata Herman Cohen como assessor e “lobby” Africano junto de Washington, ditou o fim dum período avassaladoramente manipulado pelo sinal Democrata da Administração Clinton, ele próprio, enquanto “Rhodes Scholarship”, tão favorável aos interesses dos “lobbies” dos minerais e do cartel dos diamantes pelo interior do Continente, ao nível dos Kivu, dos Grandes Lagos, do Congo e de Angola.
Se com ele, o mercenarismo que repescou os remanescentes do “Batalhão Búfalo”, teve livre curso em África com o advento de várias “Private Military Companies” existentes na África do Sul, com destaque para a “Executive Outcomes”, a Doutrina Bush e os interesses de sinal Republicano, conformados nos poderosos “lobbies” do petróleo, inibiam os mercenários que na origem beberam o “apartheid” e podiam tratar desse assunto duma outra perspectiva: Se as “PMC” Sul Africanas não serviam, dadas as suas origens, para ser introduzidas nas crises de países ensanguentados pelas políticas dos diamantes e dos rebeldes – “dealers” desses diamantes, como na RDC, em Angola, na Serra Leoa, na Libéria, etc., (conforme foram tão difusamente utilizadas pelas “correias de transmissão” da Administração Clinton nesses países) então podia – se utilizar, ainda que de forma limitada, pequenos grupos de mercenários, a fim de testar Instituições de pequenos países, cujos regimes estão sob observação e, na medida do possível, polvilhar as suas forças armadas com elementos que deram sobejas provas de afectação, desde pelo menos os “tempos guerreiros” de Ronald Reagan.
Não sendo a primeira vez que os “Búfalos” nas ilhas de São Tomé e Príncipe, procuravam pela via do golpe, encontrar soluções de conveniência e, se da primeira vez encontraram uma resposta firme, que tinha a seu favor o domínio da informação e a força militar, agora souberam de certo modo jogar com a oportunidade da conjuntura, com o momento da decisão e com factores locais e Internacionais favoráveis e dar por muito útil essa iniciativa. Com ela o Poder Hegemónico recolheu várias lições no quadro desse teste: - Aquelas que se referiam às características das Instituições na Democracia representativa de São Tomé e Príncipe, sua atitude, comportamento e “saídas para a frente”, a fim de fazer face à inusitada situação e, sobretudo, evitar que essa Democracia descambasse para um nível de participação que desse a volta ao carácter do Estado. - Aquelas que se referiam propriamente às suas forças armadas, numa altura em que elas iriam merecer uma outra atenção, dado o seu futuro papel na Região, (apesar de sua pequenez), no quadro do que tem sido preconizado a partir do “AOPIG”.
Aquelas que resultavam da observação ao comportamento das Potências Regionais petrolíferas, face ao golpe militar nas ilhas e pudessem trazer conclusões úteis sobre as suas respectivas reacções e procedimentos. Os três personagens principais implicados nas acções de golpe de estado, tornadas visíveis com a constituição da “Junta de Salvação Nacional” que se manteve no poder na semana de 16 a 23 de Julho, pareciam ter sido indicados a dedo e foram: - O Major Fernando Pereira, “Cobo”, formado na Academia Militar de Lisboa, conhecido pela Comunidade Lusófona por já ter chefiado unidades da força de manutenção de paz da comunidade, era Chefe da Instrução Militar das FAASTP e havia denunciado a 24 de Abril de 2002, as más condições existentes nos quartéis de São Tomé, tornando – se autor dum caderno de reivindicações que foi dirigido ao Presidente Fradique de Menezes a 15 de Junho de 2003. A ausência de resposta, de acordo com o seu argumento, deu – lhe motivos para partir para o golpe.
Arlécio Costa, antigo elemento do “Batalhão Búfalo”, que também serviu às ordens de Jonas Savimbi e integrou uma força tarefa das SADF que tentou, em 1990, assassinar o Presidente da SWAPO, Sam Nujoma. Pertenceu posteriormente à “Executive Outcomes”. - Sabino dos Santos, que se tornou o porta voz da Junta de Salvação Nacional, formado no Gabão, criou em 1990 a “FDC”, “Frente Democrata Cristã”, que não teve até hoje qualquer sucesso eleitoral e, semanas antes do golpe, procurou através de contestações de rua estimular uma greve geral no País. Os militares São Tomenses provenientes do “Batalhão Búfalo” são, todos eles, apoiantes da “FDC”. Duma forma geral, a Comunidade Regional foi condenando o golpe de estado e quase imediatamente, foram feitos contactos para que a legalidade fosse restaurada até por que os golpistas haviam detido vários membros do Governo e aproveitaram a ausência do Presidente Fradique de Menezes, em visita à Nigéria, a fim de fazer ouvir as suas “acusações e reivindicações”.
A Nigéria, Moçambique e Angola, participaram nos contactos e exerceram todo o seu poder de pressão e influência, na tentativa de persuadir os membros da “Junta de Salvação Nacional” a não pôr em causa a democracia representativa. As conversações, tornaram evidentes a manutenção de alguns laços dos “Búfalos” com a África do Sul, ou seja, às raízes de onde haviam recebido, no fundo, o quadro de ordens para o plano e execução do golpe: - A África do Sul comprometia – se, num Memorando de Entendimento, em repatriar os restos mortais de 9 mercenários São Tomenses mortos durante a sua actividade enquanto membros do “Batalhão 32” e iniciar o regresso a São Tomé e Príncipe de 23 outros, bem como de suas respectivas famílias, respeitando a sua reinserção sócio-económica na sociedade do País de origem.
A 25 de Agosto, ainda de acordo com o Memorando de Entendimento, citando notícia do “Jornal Digital”, chegava ao Aeroporto Internacional de São Tomé, uma ajuda militar da África do Sul, composta de “colchões, tendas de campanha, meios informáticos e de escritório, materiais de cozinha, botas, cobertores e lençóis”, prevendo-se que “numa fase posterior, as autoridades sul-africanas deverão enviar camiões para transporte de tropa, fardas, armas e munições, recebendo também nas suas academias militares dos quadros são-tomenses, no âmbito de um processo de formação técnico-militar de soldados e oficiais”. Não houve notícias de que o Governo Sul Africano, tal como outros Governos Africanos, entre eles os de Angola e Moçambique, tenha condenado o golpe de estado e, perante as evidências, não parecem haver dúvidas que, encontrou uma via de instalar sectores perfeitamente identificados com os “freedom fighters” da era da Administração de Ronald Reagan, ou seja, dos “Búfalos” da era do “apartheid”, nas Instituições militares de São Tomé e Príncipe, não correspondesse isso às características, opções e filosofias das suas próprias estruturas de inteligência, tipologia de interesses e adequação às novas filosofias e estratégias da Administração Bush.
Por outro lado, a África do Sul, para lá dos interesses económicos de pessoas como Christian Rudolf Glaubrecht Hellinger, pode assim aumentar o leque de interesses e contrabalançar as evidentes influências, historicamente melhor alicerçadas, de Angola e da Nigéria. A batalha da informação que em tempos havia sido perdida pelos então “Búfalos” do “apartheid” em São Tomé, pôde ser assim ganha e melhor equacionada com os “Búfalos” na nova conjuntura de Globalização, ainda que com o teatro dum “golpe de estado”.
Provavelmente pode ser a nova geração de formandos militares, que sairão das Academias Sul Africanas em função do Memorando de Entendimento elaborado por causa dos “Búfalos”, que estarão melhor aptos e identificados com a criação do “Forward Operating Location” (“Posto Avançado de Operações”), de que deu notícia o Vice Comandante do Comando Militar Norte Americano na Europa, General Charles Wald, em relação a São Tomé e no quadro da estratégia definida pelo “AOPIG” e da rentabilização das estratégias do Secretário da Defesa Americano, Ronald Rumsfeld, um homem conhecido pelas suas ideias ultra conservadoras. Lá diz o ditado: “diz – me com quem anda, dir-te- ei quem és!”
- Publicado no “ACTUAL” de Luanda, numa das suas edições de 2003
http://pagina-um.blogspot.com/2007/09/os-eua-conquista-do-golfo-da-guin-ii.html
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