25 fevereiro 2009

Será que a Internacional Socialista aceita a censura como natural?

(imagem Internet)

Se bem me recordo do tempo em que era quase obrigado a enfiar os bê á bás da Ciência Política (leia-se o abcdi-partidário) nos confins da memória hipotálica, para nunca os esquecer no dia-a-dia, uma das principais prorrogativas do socialismo democrático – e dos outros também – era que “fascismo nunca mais” e “nunca mais a censura”.

Quanto ao fascismo basta dar uma passeata pelo duplo hemisfério que compõe a nossa Mãe Terra para vermos que é o que não falta: uns chamam-lhe “democracia musculada”, outros, mais subtis, “uma ditadura”, outros menos prosaicos denominam-na como “isto é meu e só saio quando Deus quiser”.

Já quanto á censura, parece que começa a ser um meio muito querido em países cujos Governos são membros da Internacional Socialista (IS).

Umas vezes, mandam calar quem os matacanham os ouvidos; outros apreendem só pela simples denúncia de quem quer ser mais papista que o Papa e por nada, engaveta-se a “coisa” denunciada.

Dois casos concretos aconteceram, recentemente, em Angola e Portugal.

Em Angola, perante as denúncias, avisos, ou
alertas da Human Rights Watch (HRW) sobre as eleições presidenciais que se perspectivam em data a oportunamente a anunciar com cada vez mais razão no “dia de são nunca pela tardinha”, um dirigente do MPLA, partido que, até há pouco e não me recordo de ler o contrário, era membro da IS, veio em pleno éter exigir que a HRW deixasse de falar e se intrometer nos assuntos internos de Angola (como se as eleições angolanas fossem um assunto meramente interno e não um “case study” da SADC e da comunidade internacional). Para Rui Falcão, do Departamento de Informação do MPLA, o relatórrio da HRW é “uma afronta à democraticidade” de Angola.

Mais recentemente, outro dirigente do mesmo partido – com dirigentes assim, surpreende-me, ou talvez não e o seu aparecimento se deva a isso mesmo, que existam militantes a criarem uma corrente de opinião não-seguidista dentro do MPLA –, no caso Julião Paulo “Dino Matross”, criticou a Rádio Ecclésia-Emissora Católica de Angola (ECA) exigindo que esta emissora deixe de falar política – como canta a canção – e só se debruce em assuntos de cariz religioso e social (será que o dirigente não saberá que o que é social é, por norma e invariavelmente, político? – sobre esta matéria ler o artigo de Vicente P. Andrade no Angolense e
aqui citada); segundo Matross, ao contrário do que pensa Norberto dos Santos, a ECA fere constantemente a "sensibilidade do MPLA". E depois perguntamos porque é que não consegue a ECA se expandir pelo País e, não poucas vezes, fica sem pio na Internet.

Já e Portugal, e em pouco mais de uma semana dois casos inequívocos de censura. Um aconteceu com o Carnaval de Torres Vedras, localidade próxima de Lisboa, porque num portátil “Magalhães” – desculpem a publicidade – foi colada uma prancha com imagens de mulheres, algumas nuas, tal como aparecem quando “buscadas” no Google. Uma pessoa achou que
era pornográfico, denunciou, e o Ministério Público sem verificar primeiro mandou retirar a dita prancha, por essa razão (e não porque as imagens pudessem humilhar a “mulher”). Posteriormente, constatou que de pornografia nada tinha e lá seguiu o portátil com a referida prancha.

Neste último fim-de-semana, uma obra literária de título “Pornocracia” foi apreendida pelas autoridades, uma vez mais devido a denúncia “
por pornografia” de uma qualquer pessoa mais púdica, porque na capa além do título que mereceu no “Auto de Apreensão”, conforme mostraram na televisão portuguesa “Pornografia” – desde quando a pornografia, pelo menos em literatura, passou a ser um delito em Portugal é que eu não sei – teria (tinha) uma imagem de uma tela “L'origine du monde” (1866), da autoria de Gustave Courbet – uma parte de nu feminino (a zona pélvica) –, que está exposta no museu d’Orsay, creio que, em França.

Além destes factores visíveis e não pouco caricatos que dizer das pressões que jornalistas (daqueles que tem o "J" maiúsculo e que querem fazer jornalismo e não fabricar conteúdos conforme as vontades político-económicas do momento) sofrem em Portugal e noutros puntos do Mundo ao ponto de haver despedimentos colectivos, no primeiro caso, ou jornalistas que não sabem dizer sempre “sim” serem empratelados, no segundo caso.

Será que dentro da IS começa a haver uma corrente pela censura? Ou o que se passa são resquícios de personalidades que viveram sempre sobre a protecção das ditaduras e nunca souberam transitar para a plena democracia.

É que há ainda quem pense que se passa da ditadura para a democracia só pelo efeito de um acto legislativo ou como quem muda de um casaco no cacimbo para uma t-shirt no calor. Esquecem-se do principal: há qe primeiro moldar as mentalidades e reeducar sobre as teias de aranhas anteriores…

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