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23 março 2009

Os recados e omissões de Bento XVI

(Papa na Cimangola: foto ©Elcalmeida)

Agora que terminou a visita de Bento XVI a Angola seria altura de compilar algumas das suas considerações ditas durante estes 3 a 4 dias que esteve em Luanda, tal como uma ou duas omissões que foram deixadas clara e politicamente em branco.

Respigá-las será o mais fácil. O problema é saber se elas foram devidamente digeridas e se estarão a ser ponderadas.

Logo no primeiro dia, e apesar de ter falado para África no todo, Bento XVI alertou para os perigos dos mais fortes continuarem a diminuir e, ou, influenciar a vida dos outros, muitas das vezes, sem respeito por estes.

Recordou, apesar de reconhecer que ainda muito há para fazer de quem acabou de sair de uma guerra fratricida, os milhares de pobres que há em Angola, a grande maioria abaixo do limiar da pobreza. E não se esqueceu de relembrar que Angola é um País muito rico que precisa de tornar a sua sociedade mais livre e mais justa.

Posteriormente, em pleno palácio presidencial e depois de ter estado com Eduardo dos Santos, o Sumo Pontífice abordou – e uma vez mais sob a capa de “toda a África” como ele próprio avisou que o faria – para a necessidade dos líderes africanos libertarem o continente do tormento da ambição, da violência e da desordem, de erradiquem a corrupção, de uma vez por todas, exigiu-lhes mais respeito e promoção dos direitos humanos, um governo transparente, uma magistratura independente, recordou a necessidade para a existência de uma comunicação social livre e que afirmassem uma honesta administração pública.

Mas o Papa não se ficou por aqui.

Nos dois dias seguintes recordou aos jovens a necessidade da defesa da família, e durante a homilia da manhã e a que celebrou, à tarde, para as mulheres assinou, talvez, os seus dois actos políticos mais avassaladores e, claramente, não só para Angola mas para todos os países africanos que adoptaram ou mantém um certo regime político.

Na primeira homilia, sob o nome de Deus pediu ajuda para refugiados e deslocados que sem número vagueiam à espera de um retorno a casa – mais de metade dos habitantes de Luanda são antigos refugiados que vivem de expedientes e do mercado informal e que poderiam ser muito mais úteis ao país se regressassem às suas regiões de origem desenvolvendo-as –, falou da perseguição aos chamados “meninos feiticeiros” e exortou os amigos de África – o problema, é saber quem eles são realmente, quando às vezes somos nós mesmos em casa que começamos por não a respeitar… – a terem coragem em nome da paz, da reconciliação nacional e do respeito pelos mais fracos e pelas mulheres.

Mas foi na homilia da tarde, quando falou para centenas de mulheres que enchiam a restaurada igreja de Santo António que Bento XVI tocou num assunto que, por certo, será mais tarde e melhor digerido ao recordar duas mulheres falecidas em diferentes circunstâncias. Uma, Maria Bonino, médica italiana que faleceu devido à febre hemorrágica de Marburg e que poderia ter sido evitada se tivesse havido melhores condições sanitárias; a outra, angolana, de nome Teresa Gomes e recentemente falecida, quando nos idos de 1975/76 defendeu, em nome de uma inquebrantável fé religiosa impediu que a “sanha” monopartidária de cariz marxista conseguisse fechar as portas da paróquia de Nossa Senhora das Graças, de Porto Amboim.

Ou seja, o Sumo Pontífice recordou que o mono-encefalismo partidário não consegue vingar nas diferentes sociedades sejam elas desenvolvidas, sejam, como são, as sociedades africanas onde se defende a plena liberdade e a igualdade perfeita entre os povos.

Mas se estes foram alguns dos factos políticos relevantes que deverão ser digeridos pelos dirigentes africanos, em geral – como já se depreendeu pelas reacções dos diferentes prelados africanos onde certas desigualdades acontecem – e entre angolanos, em particular, houve um facto político angolano que não terá, por certo, passado despercebido. Se bento XVI recordou, e muito bem, Mbanza Congo, distraiu-se, omitindo, de forma politicamente correcta, a situação da Emissora Católica de Angola-Rádio Ecclésia – apesar dos alertas da liberdade de imprensa – e, principalmente, da situação que ainda persiste na província de Cabinda.

Vamos aguardar pelos próximos tempos e ver até onde chegaram as palavras de Bento XVI.

21 março 2009

Papa recebe prenda de regime…

(imagem da maquete via ©O País)

O Papa Bento XVI afirmou que Angola é um país forte e rico.

Razão tinha ele e ainda não sabia, oficialmente, da prenda que lhe ia ser dada através da doação de uma Basílica à Igreja Católica na Muxima.

A Basílica da Nossa Senhora da Conceição – que por certo será sempre, tal como a original, reconhecida como Basílica da Nª. Srª. da (Mamã) Muxima – foi concebida pelo
arquitecto Júlio Quaresma, um angolano a residir em Portugal.

Todo o Estado, e regime, que se preze tem sempre obras próprias.

A juntar aos belíssimos e, espero, bem funcionais e nada destrutíveis estádios, que estão a ser erguidos para o CAN 2010 – quem olha para o “Ninho de Andorinha” e para as infiltrações que já regista em menos de um ano após as Olimpíadas, compreenderá a minha apreensão – pelos chineses, Angola vai ter aquela que, claramente, será a grande obra da actual República: A
Basílica da Muxima que terá espaço para acolher no seu interior cerca de 4000 peregrinos e mais de 100 mil no adro.
.
Como nota complementar o meu lamento pelas vítimas acontecidas na homilia aos jovens, em particular, as duas jovens que faleceram por esmagamento. Que de futuro haja melhor organização - embora nem sempre isso seja possível - na entrada de actos e festas com multidões.

20 março 2009

E Bento XVI na primeira sessão oficial…

(imagem CEAST)

O Papa Bento XVI iniciou o seu programa oficial em Luanda (Angola, não vá haver quem não saiba que Angola não é só Luanda) com uma deslocação à Cidade Alta onde cumprimentou, em reunião privada, o presidente José Eduardo dos Santos e, depois, o corpo diplomático acreditado na capital angolana.

No seu discurso ao corpo diplomático o Sumo Pontífice, entre outras pertinentes e bem colocadas frases, e onde não poderia deixar de colocar o seu “selinho” papal de condenar o aborto terapêutico pelo facto de haver quem acredite que esta será a melhor forma para abordar a saúde reprodutiva, destacou a necessidade dos líderes africanos libertarem o continente do "
flagelo da avidez, da violência e da desordem" e de erradiquem "de uma vez por todas a corrupção" [se recordarmos o recente programa da televisão lusa RTP, “Prós e Contras” sobre Angola em só teve ‘Prós’ e nada ‘Contra’, esta questão foi abordada e claramente admitida pelos participantes, até porque no Transparency International o país ocupa o lugar 158 em 180 países…]; exigiu "o respeito e a promoção dos direitos humanos, um governo transparente, uma magistratura independente", a necessidade de haver "uma comunicação social livre [no caso de Angola o Papa deve ter recordado, por certo, a contínua impossibilidade da Emissora Católica/Rádio Ecclésia em retransmitir em outras províncias estando confinada exclusivamente à cidade de Luanda]" e procurarem fazer "uma honesta administração pública".

Falou para África mas foi, claramente um discurso bem dirigido a Angola depois de ouvir o presidente Eduardo dos Santos pedir-lhe ajuda à igreja católica para moldar "
o novo homem que a nova Angola precisa".

Por isso também não surpreendeu que na reunião havida com bispos da Conferência Episcopal de Angola e São Tomé e Príncipe (CEAST) Bento XVI tenha pedido aos sacerdotes para "
preocuparem profundamente" com os padres das suas dioceses quanto à sua formação contínua e à forma como "vivem e praticam" a sua missão na formação da nova Angola e aproveitou a ocasião para, igualmente, anunciar a criação da Diocese do Namibe, sendo o seu primeiro bispo padre Mateus Feliciano Tomás, que estava colocado como pároco no Huambo (pelos vistos do Huambo estão a vir muitos líderes…), deixando esta, assim, de ser uma vigararia da Arquidiocese do Lubango (uma interessante prenda pelos 25 anos desta Arquidiocese).

Não fosse o habitual selinho e diríamos que Bento XVI foi audaz nas palavras ditas no primeiro dia oficial da sua visita a Luanda [ver programa aqui].

Papa chegou a Luanda e fez alertas…

(No aeroporto 4 de Fevereiro em imagem via TPA-Internacional; ©Elcalmeida)

"Proveniente dos Camarões, onde iniciou a sua viagem papal por África, chegou hoje a Angola – leia-se, a Luanda porque Luanda não é Angola e o resto paisagem embora Angola tenha lindas e transbordantes paisagens – o Papa Bento XVI.

Chegou, foi recebido como Chefe de Estado e como tal, aliado ao facto de também ser o Chefe Espiritual de milhões de católicos espalhados pelo Mundo, proferiu algumas palavras que serviram de alerta para a comunidade política e governativa angolana.

O Sumo Pontífice depois de ouvir os hinos dos dois Estados, escutou Eduardo dos Santos dar-lhe as boas-vindas onde o presidente angolano salientou uma concertação de opiniões entre Angola e Santa Sé quanto à necessidade dos angolanos construírem "uma nação com valores, uma nação de paz, reconciliada com a sua história recente".

Mas como uma Nação não se constrói sobre a fome nem sobre o amordaçamento dos mais fracos pelos mais fortes, o Papa recordou e alertou para dois factos importantes da, e na, actual sociedade angolana:

Embora reconhecendo que, por certo ainda há muito para fazer e, espera, muito será feito, lembrou o facto de ainda haver em Angola muita gente no último patamar do limiar da pobreza. Por esse facto desafiou Angola a se tornar numa sociedade "mais livre e mais justa".

E chamou a atenção para um pormenor que poderá ser interpretado segundo dois prismas: o poder dos mais fortes sobre os mais fracos.

De facto Angola tem de compreender que só poderá crescer como uma Nação mais forte, poderosa e mais justas se os seus políticos – alguns, sublinhe-se – deixarem de olhar terceiros – povo ou países (e aqui as duas interpretações) – muito lá de cima como autênticos senhores patrícios poderosos e omnipresentes.

Angola só poderá ascender – e sê-lo-á mais depressa que alguns pensam – uma potência regional se perceber que os seus filhos são todos iguais, mesmo que com diferentes pontos de vista e de poder económico, tal como os seus vizinhos deverão sentir de Angola não uma potência imperial, que não queremos que seja, mas um vizinho forte, cordial e pronto a ajudar sem necessidade de impor a sua força. (...)"
(continue a ler aqui ou aqui).
Publicado na rubrica "Colunistas" do , de hoje

17 março 2009

Papa já está nos Camarões

(imagem Google)


O Sumo Pontífice, Bento XVI chegou a Yaoundé, capital dos Camarões, onde sob forte segurança fez as primeiras declarações em terras de África.

Lamentável que o líder do Vaticano e dos Católicos esteja tão mal assessorado pelo seu ministro das Relações Exteriores que não lhe explicou que os Camarões é um país essencialmente francófono, como comprova o lema “Paix – Travail – Patrie” e não anglófono, apesar de ser também uma das línguas oficiais, pelo que não se entende que tenha proferido a sua homilia só em inglês esquecendo-se do francês.

Só espero que quando chegar a Angola não fale francês ou… espanhol (com tantos professores cubanos em Angola – os outros parecem esquecer que Angola está receptivo a professores portugueses e brasileiros – ainda se vai enganar...).

Bento XVI versus HIV/SIDA

(Campanha HIV/SIDA em STP: imagem Correio da Semana)


O Papa Bento XVI, em particular, e o Vaticano, em geral, continuam a não entender que não é com condenações e imposições que se conquistam peregrinos e aderentes à causa religiosa que é o Catolicismo.

Cada vez que abrem a boca para falar do HIV/SIDA mostram que o conservadorismo ecuménico é mais forte que a evolução humana, seja nos costumes seja na realidade do saneamento básico em grande parte dos países do mundo sub e em desenvolvimento.

A última do Papa foi-o dito dentro do avião que o transportou entre Roma e Yaoundé. Segundo Bento XVI, citado pela diversa Comunicação social, o problema do SIDA “
não se pode resolver com a distribuição de preservativos”, porque a sua utilização até “agrava o problema”.

Parece que o Papa desconhece – e provavelmente desconhecerá mesmo – a vida dos africanos e como o SIDA se tem propalado pelo Continente. Segundo os relatórios da ONUSIDA, cerca de 2/3 dos infectados com HIV/SIDA estarão em África, 22 milhões dos quais na África subsaariana.

Mas o que é isso para o Vaticano e para Bento XVI? Provavelmente é resultante do preservativo. Felizmente que nem todos os religiosos católicos que vivem entre as populações africanas pensam como a sua “sede”. Muitos dos postos religiosos espalhados por África são os únicos locais onde ainda conseguem obter as preciosas “camisinhas” que os protegem das relações ocasionais ou, e, da passagem a uma certa idade adulta.

Por isso saúdo a resposta da responsável angolana do Instituto Nacional de Luta contra o Sida (INLS) de Angola, Dulcelina Serrano, que muito directamente respondeu que “o rebanho da instituição que dirige é maior que o do Papa” dado que agrega as diversas vertentes sociais e religiosas.

Pode parecer exagerado num País onde a maioria católica é prevalecente. Mas como Dulcelina Serrano explicou embora o preservativo não seja a solução para combater o SIDA mas é umas das “alternativas”.

A directora do INLS recorda que apesar da “adopção de comportamentos como a fidelidade e a abstinência jogarem um papel importante na redução de novas infecções” há que não desprezar todas as alternativas para conter a epidemia. Tal como recorda, também, que não se deve esquecer que, em África, a “poligamia é um facto”, nomeadamente entre chefes e líderes locais e nacionais.

Talvez Bento XVI aprenda alguma coisa sobre o HIV/SIDA nos Camarões, a
taxa de prevalência da infecção atinge os 5,1%, e em Angola, com uma taxa de 2,1% que representa cerca de 200 mil pessoas infectadas.

Papa de visita a África

Bento XVI inicia hoje um périplo por África, mais especificamente por Camarões e Angola.

Durante três dias estará em Yaoundé e na sexta-feira chegará a Luanda onde ficará até dia 23 de Março (ver aqui o programa da visita aos dois países).

Ou seja, o chefe máximo da Igreja Católica, limitar-se-á a ficar pelas capitais dos respectivos países.

No que toca aos Camarões não sei qual a real actual situação do País e se nada justifica uma sua visita a outras partes do Estado camaronês. Já quanto a Angola, o Sumo Pontífice, apesar de ser uma visita a convite do Presidente Eduardo dos Santos, vai recordar os 527 anos da evangelização de Angola e o facto de, também, Angola ter sido o primeiro país subsaariano a ser evangelizado.

Ora se o assunto principal é a celebração da evangelização porque é que o Papa só fica por Luanda e não se desloca a Mbanza Congo, a capital do Reino do Congo, cidade onde se iniciou a evangelização do território que deu Angola.

Tal como não vai ao Santuário da Nª. Senhora da Muxima nem ao da Senhora do Monte, no Lubango. E já nem falo a outras partes do País.

Parece que continua a haver quem ache que Angola é só Luanda e o resto é só beleza paisagística e faunística ou coutadas de minas…

Porque só saindo das capitais o Papa Bento XVI poderá fazer jus à visita papal: “Abraçar África nas suas Mil Diferenças”.