Angola, Congo e República Democrática do Congo uma triangulação que pode ser petroliferamente explosiva (in: N. Lusófonas)
"Nestes últimos dias assistimos a uma pequena batalha de, ora expulso eu, ora expulsas tu, entre Angola e a República Democrática do Congo (RDC), de início, e também da parte da República do Congo, mais recentemente.
Ou seja, Angola expulsava congoleses, na maioria ilegais e garimpeiros, e a RDC respondia com a expulsão de angolanos, a maioria a viverem no Congo há muitos anos e, a maior parte deles, em situação legal.
Não está aqui em causa a legitimidade dos Países em expulsarem estrangeiros quando as condições a isso o levam, mesmo que isso tenha por detrás, e não poucas vezes, razões extra-políticas e, principalmente, atropelos aos Direitos Humanos.
Sabe-se, ou disso foi feito anúncio público que tudo terá começado com a expulsão de muitos congoleses que faziam vida ilegal em Cabinda, onde, se alguns faziam o trajecto diário entre a fronteira e a Cidade diariamente – Cabinda dista da fronteira congolesa cerca de 20 a 25 km e há transportes diários e contínuos – outros assentaram a vida na capital provincial mais a norte do País, de forma permanente e ilegal onde faziam transacções comerciais em competição com os legais e os próprios cabindenses.
Mas também é domínio público que muitos dos congoleses estavam ilegais em zonas diamantíferas – onde o monopólio de certos senhores da nomenklatura predomina – sem cumprirem com os deveres tributários da exploração e delapidando um bem natural público e, principalmente, muito, mas muito, proveitoso para ajudar certas entidades a comprar quintas, bancos e outros bens em zonas fora de Angola, o que, no mínimo, era inaceitável.
Alia-se a esta absurda situação de múltiplas expulsões, o facto de uma pessoa além de ser expulsa de um País onde, não poucas vezes, tem uma vida social estável ou estabilizada e se vir perante o facto de estar confinar a um campo de refugiados sem as condições, muitas vezes, infelizmente, mínimas de sobrevivência tornam a vida de um refugiado preocupante, se vê ainda confrontado com a dúvida, apesar de tudo, legítima, de o questionarem se de facto é ou não angolano, esquecendo-se o seu inquiridor que muitos fugiram do País sem documentos válidos devido a uma confrontação fratricida que grassava em Angola, aliado ao facto de, entre os “expulsos” se encontrarem congoleses que procuram uma nova nacionalidade e uma fuga aos caos social da RDC.
Ora isso provoca problemas psicológicos e muito traumáticos entre os “expulsos” qualquer que seja a sua efectiva nacionalidade. Todos passam a ser vistos pela mesma linha de pensamento, ou seja, todos acabam por ser vistos como intrusos que terão de provar a sua efectiva nacionalidade perante factos pouco edificantes e perante amigos que, naturalmente, não se sabe se também eles não estarão a fazer o jogo do “coitadinho”, ou seja, se serão mesmo angolanos.
Um problema dos países que ainda não dispõem de condições viáveis para que todos os seus cidadãos sejam devidamente enquadrados. Um problema por que passam todos os países onde a palavra “refugiado” é tão comum como a fome ou a miséria.
Se de início esta troca de expulsões era só entre Angola e RDC, acabou por se estender, e por vontade de Brazzaville, à República do Congo.
E aqui se levanta a questão que, muito pertinentemente, alguns analistas já afloraram mas que parecem ter receio de o expor publicamente. A quem, realmente, interessa este caso de múltiplas e paritárias expulsões? (...)" (continuar a ler aqui ou aqui)
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