31 janeiro 2011

Um “La Niña” político ?...

(Fotografia © Mohamed El Ghany/Reuters, in DN/Globo)

O Continente africano está a ser varrido por convulsões políticas e sociais como há muito não se via.

Tudo evidencia que parece ter começado com a crise na Cote d’ Ivoire e que se estendeu à Tunísia e daqui para quase todo o Norte de África – parece que a Líbia é ainda o único “estável” – com ligeira passagem pela península arábica, mais concretamente pelo Iémen, e com retorno a África, ao Gabão.

De facto, tudo parece indicar que na potência do cacau terá começado esta crise social e política como se um “la Niña” político se tratasse. Parece, mas, sê-lo-á?

Creio que, na verdade, tudo começou na eterna política anglófona de “não se entendem que se separem” cuja a última consequência parece ser o Sudão onde se efectuou por pressão anglo-americana e beneplácito da ONU um referendo para a divisão do Sudão entre um Norte, islâmico, pobre – ou maioritariamente pobre – e onde impera a Sharia, e um Sul, cristão e animista, rico – demasiadamente rico em hidrocarbonetos – e onde subsiste uma continuada revolta social que poderá ser – será?! – eventualmente minorada com a independência.

De facto o que se passa no Egipto, mais que uma revolta social e política contra a autocracia, a corrupção e o desemprego, na linha do que aconteceu na Tunísia com a chamada “Revolução do Jasmim”, é também uma crise religiosa entre radicais muçulmanos e cristãos coptas e que teve o seu início na noite de ano novo em Alexandria.

Uma natural sequência do referendo sudanês que irá dividir, como já atrás referi, o país em duas entidades político-religiosas diferentes e pouco dadas à coexistência!

E, claramente, os Irmãos Muçulmanos – ou Irmandade Islâmica, como também é reconhecida – já está a se aproveitar, dada a sua forte implantação social.

Ora aquele efeito político-religioso acabou por degenerar num ensaio político-social de proporções inimagináveis e com contestações em outros países árabes, nomeadamente, nos já citados, com particular destaque para Marrocos, muito próximo da entrada para a chamada Europa livre, e do Gabão pela proximidade de outros países onde a autocracia já se conta pela vintena de anos de poder ou pelo facto de haver, na zona, certas tendências separatistas.

E, segundo algumas “bocas” já há inúmeros telemóveis com acesso à Internet que podem acender indesejáveis rastilhos sociais e políticos de insondáveis e imponderáveis amplitudes…

Há, claramente, um “La Niña” político-social que as forças do poder não devem, de maneira alguma, descuidar como uma avestruz…
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Publicado no Perspectiva Lusófona, sob o título "Um "La Niña" político ou efeitos do tsunami anglo-americano"

25 janeiro 2011

A cidade de Kianda faz 435 anos!

(Praça da Independência, Luanda, foto Elcalmeida, 2009)


Luanda enleia-me o pensamento

perturba-me o raciocínio.

quero ser objetivo, analítico,

mas a semente emocional brota,

erva daninha inelutável,

adoçando as ideias

e amolecendo o coração. (…)

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Extracto do poema “Luanda revisitada” de Mnjardim (ler na íntegra aqui)

A minha homenagem à terra da Kianda pelos seus 435 anos!

20 janeiro 2011

Manifestações e desencantos em Luanda?

Manifestações várias e desencantos é o que se lê e ouve a partir da cidade de Kianda:

1. Depois do líder da JURA (órgão da juventude da UNITA) ter sido detido à porta da Assembleia Nacional por estar, juntamente com outros dirigentes dos jovens “kwachas” e do secretário-geral da JFNLA, bem assim de jovens de outros partidos da oposição, a tentar distribuir aos deputados manifestos contrários à nova data celebrativa da Juventude (dia 14 de Abril, deixa de ser feriado e passa a ser dia de celebração nacional, estando relacionado com a morte do combatente da ex-FAPLA, Hoji Ya Henda), embora as autoridades tenham afirmado que a sua detenção se deveu a “dar-lhes conselhos”...
2. Após a manifestação que terá ocorrido, ontem, frente à Faculdade de Letras, de acordo com a Rádio Ecclésia e citada no blogue Universal
3. Da manifestação que jovens do Bairro do Cazenga hoje efectuaram – terá sido a segunda em cerca de um mês de acordo com um comunicado do Bloco Democrático (ex FpD) – devido aos contínuos apagões “criados” pelos cortes de cabos levados a efeito pelas empresas de construção civil, e à falta de resposta atempada e efectiva da administração da EDEL (Empresa de Electricidade de Luanda) – isto depois de se terem comprometido a fazer obras desde que os moradores criassem condições para as novas condutas de electricidade e de instalação de uma cabine para que foram feitos buracos nesse sentido e não completados levando à morte de uma criança; a administração da EDEL ter-se-á calado e deixado as autoridades intervir…
4. De uma manifestação de ex-trabalhadores da ENSUL (uma extinta empresa de supermercados de Luanda) frente às instalações do BPC por estarem à espera há cerca de 10 anos que o Ministério da Economia pague as dívidas com os antigos funcionários, dívidas essas cujo o pagamento estava previsto para o ano passado e ainda não há evidências de quando serão efectivadas…
5. Depois de, novamente, um banco americano ter “caçado” as contas bancárias da embaixada e consulados angolanos nos EUA sem razões visivelmente justificados o que levou os seus funcionários ficarem sem os ordenados e a utilizar as suas reservas particulares para subsistirem…
6. De se zumbir que o Governo estará a ponderar a aplicação de uma taxa sobre a venda ambulante, vulgo zungueiros, e sobre os compradores sem que se saiba quais as contrapartidas para minorar esta chaga social de se ver jovens e menos jovens proliferarem entre o caos rodoviário, sujeitos a atropelamentos e a provocar acidentes – Angola é o terceiro país no Mundo onde se registam mais acidentes e é a segunda causa de morte em Angola, a seguir à malária –, por falta de empregos condignos…
7. Algo está, irremediavelmente, em contradição com a Constituição angolana de Fevereiro de 2010, nomeadamente quando o seu artigo 40 (Liberdade de expressão e de informação) parece estar ser posta em causa pelas autoridades…
8. Recordam-se que a revolução de Jasmim terá começado só pela imolação de um desempregado, tal como já terá acontecido no Egipto e na Líbia, e quem alerta

19 janeiro 2011

Por hoje, sou tunisino…

"Sendo angolano, sou também africano!

E porque sou africano não posso deixar de, por uma vez, ser igualmente tunisino!

Foi com orgulho que vi um povo decidir, e de vez, abrir as grilhetas que o amarravam e amordaçavam e despachar quem o encarcerava.


Um povo que é reconhecido pela sua simpatia e liberdade dogmática que andava guilhotinada, esmorecida.


Um povo que via o seu nacionalismo ser espezinhado, há mais de 40 anos, primeiro por Borguiba, desde 1964 quando instituiu o partido único, e depois por Ben Ali e seus acólitos, desde 1987.


E porque os tunisinos foram sempre um povo reconhecido pela sua rica História e Cultura – recordemos que tiveram por berço Cartago que só foi destruído, mas não subjugado, pelo Império Romano – não poderia continuar a ver crescer o descontentamento social sem que nada alterasse, como já tinha ocorrido em 1998 quando o governo de Ali prendeu o líder dos Direitos Humanos. (...)" (continuar a ler aqui ou aqui)

Publicado no , de 18/Jan./2011

15 janeiro 2011

Ainda Angola na Costa do Marfim

(Gbagbo e Ouattara; da Internet)

"Há algum tempo escrevi aqui sobre a participação – ou falta dela – de Angola na crise da Cote d’ Ivoire (Costa do Marfim). Volto ao tema porque a tal participação, embora discreta, já começa a se sentir quer a nível diplomático quer, como surgem as acusações, a nível militar.

É a (re)afirmação da potência emergente na região face à inoperância – ou má-fé – dos negociadores da CEDEAO!

A nível militar, embora ainda insípida ou pouco clara, consta-se que há elementos das FAA – ou mercenários – a ajudar as forças ivoirenses pró Gbagbo. As acusações urgem quer do lado de serviços informativos norte-americanos e alguns ocidentais, quer de comentários escritos, em portais noticiosos, pessoas que se intitulam angolanos e residentes em Abidjan.

Tudo isto está, no entanto, para ser provado por fotos e não por meros tiros informativos, mas… (...)" (continuar a ler aqui ou aqui)
Publicado no , Secção Angola, de 14/Jan./2011

14 janeiro 2011

Tunísia em polvorosa

(Exército em Tínis; foto AFP)

O país árabe mais calmo e mais turística e educacionalmente desenvolvido do norte de África está em polvorosa há já uns dias verificando, inclusive, a existência de vítimas mortais nos confrontos entre manifestantes antigovernamentais e anti-Ben Ali e polícia, primeiro, e agora com o exército.

Uma das primeiras consequências foi a demissão do Ministro do Interior e a sua substituição por um novo Ministro mais conciliador – televisivamente falando – e pela promessa de Zine El Abidine Ben Ali, no poder desde 1987 (primeiro como premie, em Outubro, e depois desde Novembro como presidente após golpe sobre Habib Bourguiba), de não se recandidatar em 2014.
O que de início foi bem recebido ao ponto de haver manifestações de alegria e de “proscritos” reaparecerem na televisão e do MNE tunisino, Kamel Morjane, ter admitido a criação de um Governo de Unidade Nacional com a oposição, rapidamente se tornou numa contestação generalizada porque os tunisinos querem o ditador presidencial fora do poder, de imediato, acusando-o de mandar matar os seus próprios concidadãos.
Hoje, ou porque o “poder nas ruas” se intensificou ou porque o Governo já estava exangue, o certo é que Ben Ali decidiu dissolver o executivo e convocar eleições legislativas e mandar baixar os preços dos bens alimentares e de serviços essenciais.
Só se esqueceu de se demitir…

NOTA: Afinal parece que Ben Ali abandonou o País e a Tunísia vai ter interinamente um novo presidente

13 janeiro 2011

Cheias, cheias e mais cheias e outras catástrofes…

(Brisbane, Austrália; imagem da Internet)

O ano de 2011 está a iniciar muito mal. São só cheias no Estado de Queensland, Austrália, cheias no Estado do Rio de Janeiro, Brasil e mais cheias em Sri Lanka e no Sudeste da África Austral, nomeadamente e como habitualmente, em Moçambique, em parte devido também às chuvas intensas nos países vizinhos.


Parece que El Niño está aí em força!


E já não contamos com os sismos (Chile e Nova Caledónia) e com as crises políticas na Argélia, Tunísia e a manutenção da crise na Costa do Marfim


Isto para não evocar um ano depois do sismo do Haiti onde tudo continua na mesma fora o número de mortos que parecem continuar a aumentar e depois de tão propalada e badalada ajuda mediática que nunca mais aparece...

09 janeiro 2011

Sudão, quo vadis?

Hoje, 9 de Janeiro do ano da graça de 2011 pode marcar o início de uma viragem em África e outros continentes onde as fronteiras foram criadas artificialmente pelas potências colonizadoras.

Hoje, e até dia 15 próximo, vai acontecer no sul do Sudão, nomeadamente numa parte pouco significativa do Darfur (ver mapa), zona de guerra que vem quase da independência do maior país africano, um referendo para saber se o povo sudanês do sul, maioritariamente animista e cristão, ao contrário do norte, islâmico e onde impera a sharia, deve`ratificar a sua separação e ascender à independência.

Nada demais seria se não fosse o facto de ter sido o exterior a impor esta situação para, segundo as fontes mais credíveis, resolver um problema religioso insanável, ou seja, seguindo a lógica anglo-americana, "se não se entendem que se separem!".

O problema é que esta lógica só teria sentido que fossem povos diferentes e "nações" diferentes o que não é bem o caso, independentemente do sul estar dividido por cerca de 60 povos. E o mais grave é que a zona a se separar será a mais rica, nomeadamente em petróleo, que, por mero acaso, tem como um dos principais consumidores um país chamado China e que apoia - e bem - o regime de Cartum.

No caso de vencer a separação, pelo menos as agências dizem que a participação neste primeiro dia foi "forte" e "calma", como irão receber esta decisão os países islâmicos? e qual o efeito real em países como a Nigéria ou o Chade onde se sobrepõem iguais conflitos religiosos? e, já agora - longe vá o diabo tecê-las - que efeito poderá ter esta separação no enclave de Cabinda e na Faixa do Caprivi, entre outros.

Será que as boas fontes credíveis pensaram em tudo e algo nos escapa?

05 janeiro 2011

Adeus Doutor Malangatana!

(Africa 1, pintura de Malangatana)

A madrugada de hoje foi aziaga para a cultura lusófona, em geral, e para a pintura moçambicana, em particular.

O pintor Malangatana, o “professor da moçambicanidade” como lhe chamou Mia Couto deixou de pintar e esculpir para nossa tristeza.

Malangatana Valente Ngwenya tinha sido, em Fevereiro de 2010, laureado com o título de Doutor Honoris Causa, pela portuguesa Universidade de Évora.