© foto da Lagoa de Bilene poluída cedida por João Craveirinha
Menos de 24 hora após ter sido “comemorado” o Dia Mundial da Água recebo esta notícia de Moçambique, via e-mail e que republico com a devida autorização do autor, que, só por si, é sinónimo do que pensam alguns cérebros “bem intencionados” que vegetam por aí e pelos mares que, ainda não perceberam, não é só deles.
“Catástrofe ecológica na Lagoa do Bilene - pesca e banhos interditos
A Lagoa do Bilene está interdita a banhistas e à pesca. A água está poluída com um fluido pegajoso de tom amarelado que já matou tudo o que é fauna marinha e agarra-se à pele dos banhistas. Esta informação foi ontem confirmada ao «Canal de Moçambique» por João Ribeiro a partir daquele importante centro turístico no distrito do Bilene-Macia, da província de Gaza.
De sexta-feira da semana passada a segunda desta semana a região do Bilene foi fustigada por chuvas e ventos fortes que voltaram a fazer com que o mar voltasse a abrir o canal de comunicação da ora Lagoa, ora Baía de S. Martinho do Bilene, que se fechara naturalmente no início da transacta semana durante apenas três dias.
Com a duna que separa a "Lagoa" do Oceano rasgada e logo que reaberto o canal de comunicação pela natureza, o mar voltou a inundar a "Baía" mas do Índico não entrou só água salgada. Com a água do mar veio um produto viscoso de cor amarelada que faz com que desde 6.ª feira, 10 de Março, até ontem a água continue a estar imprópria para banhistas.
"Até agora a lagoa está interdita a banhistas e pescadores", reportava assim o grau do acidente ecológico, um residente local.
"Os peixes e caranguejos morreram todos. Morreu tudo. Um desastre. Uma pessoa que entrasse na água ficava com a pele toda gordurosa. Mesmo com sabão e povim e o que mais é difícil sair. No domingo veio cá uma brigada do MICOA (Ministério da Coordenação Ambiental) tirar amostras mas ainda não nos disseram nada".
Ainda segundo João Ribeiro, "a água continua azul mas está baça e pegajosa". Ribeiro acrescentou que "devem ser resíduos de algum navio tanque que por aí passou ou que esteve por aí a lavar os tanques".
"É um autêntico desastre ecológico", concluiu.
O Bilene é um centro de repouso de muitos residentes de Maputo que ali construíram vivendas de férias, com importantes infra-estruturas turísticas procuradas não só por cidadãos nacionais e expatriados residentes, como também por turistas da África do Sul e mesmo até já de outros continentes.
Com esta catástrofe, toda a vida social e económica daquela estância turística fica bastante prejudicada, sujeitando-se os residentes e operadores do ramo hoteleiro e de restauração a prejuízos de grande impacto.Apesar de saberem que foi o governador de Gaza que providenciou a visita da brigada do MICOA que ali esteve a colher amostras, quem faz a sua vida no Bilene continua à espera que as autoridades se dignem a dar uma satisfação oficial "coisa que ainda não aconteceu".”
1 comentário:
por João Craveirinha
(em jornais de Moçambique)
Crónica da Praia do Bilene
TOTAL DISASTER
“XA KU REMERO RA RE KURE, BARE”
(tradução do xinDao antigo:- “nascido de algo pesado que veio de longe”)
“ABYSSUS ABYSSUM INVOCAT” (Aforismo em Latim: O Abismo chama o Abismo – salmo de David para dizer que uma falha grave origina outro erro maior). Aplica-se na actual situação deplorável da ex – magnífica, Praia Azul do Bilene – “Blue Lagoon”, era previsível pois o sistemático "assassinato" à “Marina” do Bilene cujo primeiro indício de descontrolo (re) começou pela falta de respeito ao Meio – Ambiente logo o pós – abertura multipartidária em Moçambique, face à libertinagem Cívica do cidadão e Municipal onde cada um fez o que bem entendeu em termos de (des) construção e aprovação urbanística na zona...multiplicando as casas, casinhas e casotas e “baracas” (sem o outro erre), numa zona que devia ter sido proibida de qualquer tipo de construção dentro de um perímetro a definir pelos especialistas de Arquitectura Ecológica visando proteger a famosa Praia de S. Martinho do Bilene, mantendo o seu traçado inicial de Lagoa salgada sem ligação ao Mar por canal...mas como o mau exemplo veio sempre de cima…”rien à faire” (nada a fazer)…
O ERRO MAIOR – a falta de investimento numa Marinha de Guerra e Polícia Marítima com vedetas rápidas (catamarans), a patrulharem a imensa Costa de Moçambique. A lacuna deixa – nos a mercê de qualquer navio “pirata” que queira lavar seus porões...e poluir ainda mais qualquer Praia.
A 23 de Março de 2006 lemos no “saite mocambiqueonline” um relato enviado por Fernando Costa (FC), sobre esta tragédia ecológica. De pronto contactamos o cidadão em epígrafe e as fotos enviadas sem montagem, são elucidativas, e, confirmam o…TOTAL DISASTER. Para nos situarmos nas circunstâncias que inspiraram esta crónica, eis o início do relato de FC: (citação) …”A situação é muito estranha e a verdade é que aquele local antes de águas límpidas e saudáveis, apresenta agora um tom amarelado e doentio e as margens estão carregadas duma espuma que não se desfaz.” (…) ”A versão de que se trata de produto de lavar porões de navios é contrariada por testemunhos que afirmam que o navio poluidor, no meio da tempestade da passada semana, largou uma plataforma contendo muitos contentores carregados de bidões com o mesmo produto ainda não identificado, na Praia de Dinguíne a norte de Xai-Xai”(...) ”Foram recolhidas amostras por diversas entidades mas até agora nada foi esclarecido ao público. Dos testemunhos obtidos na vila de Bilene, algumas pessoas afirmam que quem consumiu o peixe morto que aparecia nas margens ficou doente. Várias pessoas são vistas a mergulhar na água. Estas duas atitudes são potencialmente perigosas enquanto não se obtiverem certezas de que produto se trata. No Bilene a pesca está proibida mas em Xai-Xai, Chongoene e aldeias e vilas próximas do Bilene a actividade continua. Conhecendo como conhecemos o tráfico internacional de resíduos perigosos era importante que se agisse rápido a fim de evitar algo de muito mais grave a médio prazo… Ficam algumas fotos da situação.”… (Fim de citação do relato de Fernando Costa).
Há anos (fins da era Machel), fomos dos primeiros a alertar sobre a má utilização da Praia do Bilene com a explosão demográfica e respectiva urbanização ad hoc inconsequente e...em crescendo na era Chissano como símbolo de status socioeconómico...
Resumindo em jeito de “lead” ou 5 W’s tópicos básicos de comunicação ou técnica de síntese. Teríamos as causas gerais assim delineadas:
What? (O quê?) = Desastre Ecológico no Bilene (e não só…Barreiras, etc…)
Why? (Porquê?) = Incompetência Política sistemática!
Who? (Quem?) = Sucessivos Governos!
Where? (Aonde?) = Em Moçambique!
When? (Quando?) = Agravada no pós – Independência!
Isto tudo para dizer que nada se tem aprendido com a HISTÓRIA!
Actualmente, a política de protecção ao Meio – Ambiente parece servir tão - somente para arrecadar donativos financeiros internacionais com um preço sempre muito elevado a ser pago... se não forem utilizados devidamente para os fins em causa. Aliás donativos a serem duramente pagos também com a perda da nossa identidade e dignidade e o aumento da pobreza absoluta...o resto da factura vem a caminho...e a galope, com os 4 Cavaleiros do Apocalipse não propriamente das visões bíblicas dos Profetas Ezequiel e “Zacharia” mas numa perspectiva mais Moçambicana. São o cavalo cor do “vazio” da Fome, o cavalo verde sujo das Doenças Epidémicas e o cavalo pálido, desbotado sem cor da Mentalidade Selvagem do egoísmo. O cavalo vermelho cor de sangue da Guerra, já o tivemos até demais. Espero que o cavalo extra da cor azul celeste da Paz seja eterno. Só ele nos pode valer. No entanto, SEM MEIO-AMBIENTE SAUDÁVEL NA NATUREZA E NO NOSSO CORPO E ALMA, NUNCA HAVERÁ QUALIDADE DE VIDA E PROGRESSO. E a responsabilidade é de todos!
Oxalá (Inch 'Al.Lah), seja esta crónica desmentida pela evolução positiva, da situação no terreno. Shalom! Namasté! Náme! Sia –Vuma! Grato pela atenção,
João Craveirinha.
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