(emigrantes clandestinos num centro de detenção de Marrocos)
O Departamento de Estado norte-americano divulgou, hoje, o seu relatório anual sobre os Direitos Humanos de todos os países de um planeta chamado Terra (que pelo conteúdo não é o mesmo onde eles moram já que nunca lá aparecem) denominado “State Department's 2005 Country Reports on Human Rights Practices”.
No referido relatório ressalta que o Iraque é um país onde se verifica grandes progressos em prole da democracia; que na Arábia Saudita as violações dos Direitos Humanos pouco, ou nada, são referidas (penso que não será essa a opinião dos não-crentes nem das mulheres… mas, deve ser engano meu); no Egipto ou em Israel, apesar de alguns problemas pontuais saúdam-se a estabilidade política.
Para o relatório do Departamento de Estado norte-americano os vilões continuam os mesmos: Bielo-Rússia, Birmânia (Myanmar), China, Coreia do Norte, Cuba, Irão, Síria e Zimbabué. Já agora, e só por achega, a Líbia apesar das inúmeras e graves situações ocorridas contra os mais elementares direitos deixou de pertencer a este simpático e restrito clube. Interessante.
Mas, também os países de uma tal CPLP são analisados:
1. Angola, o relatório reconhece que há da parte governamental uma vontade em melhorar a situação política face à sociedade civil e à participação da oposição nos processos políticos em curso, no entanto, não deixa de ressalvar eventuais assassínios efectuados por desconhecidos ou por entidades privadas que actuam como se autoridades se tratassem, nomeadamente, em Cabinda, nas Lundas e em algumas regiões rurais. De notar que a corrupção é um dos factores primários para a existência desses problemas;
2. Cabo Verde vê o governo ser felicitado pelo respeito pelos direitos cíveis mas as prisões e as autoridades policiais não são poupadas, nem tão-pouco, os oficiais superiores. Mas, o mais grave prende-se com as violações respeitantes aos abusos sobre as mulheres, crianças, prostituição infantil e trabalho infantil;
3. Tal como Cabo Verde, também na Guiné-Bissau o governo (qual?) passa incólume. Todavia, o relatório alerta para alguns problemas como a dispersão violenta de manifestações, trabalho infantil e tráfico de crianças, violência e mutilação genital das mulheres, corrupção e impunidade generalizada.
4. Relativamente a Moçambique, as autoridades policiais são fortemente questionadas ao contrário do governo (mas nem por isso deputados da oposição surgem assassinados, em plena rua, como o verificado com o deputado José Mascarenhas, na passada segunda-feira, dia 6 e Março) que tem procurado suster a corrupção indiscriminada de juízes, polícias e oficiais ou as detenções arbitrárias de jornalistas e a exploração e abusos de crianças.
5. Já quanto a São Tomé e Príncipe o relatório reconhece que, de um maneira geral, os direitos humanos dos cidadãos são protegidos. No entanto, a corrupção, o trabalho infantil, a violação dos direitos das mulheres e as deficientes condições prisionais são evidenciadas.
6. Portugal vê as suas prisões serem qualificadas (mal-qualificadas) pelos norte-americanos como estando sempre superlotadas e onde predomina uma população prisional em elevado tempo de prisão preventiva ou com um elevado índice de infectados com o HIV-Sida. Por outro lado, relatos considerados credíveis sobre o uso desproporcionado de força e de maus-tratos ou abuso por polícias ou guardas prisionais em relação aos detidos também são invocados.
7. O Brasil, tal como Portugal, vê as suas prisões e as actividades policiais serem claramente inqualificadas. As torturas em prisioneiros, nomeadamente em jovens, o envolvimento de alguns sectores policiais e militares em mortes de indígenas que passam, em regra, impunes, perseguições rácicas ou homofóbicas e perseguição de líderes rurais são algumas das graves anomalias cívicas detectadas pelos norte-americanos.
8. Timor é analisado igualmente como os outros: o governo, de uma maneira geral respeita os direitos dos cidadãos. Porém, a violência doméstica, o rapto e abuso sexual contra as mulheres, o uso excessivo da força por parte das autoridades, o tráfico de pessoas e uso de crianças em actividades laborais são alguns dos aspectos negativos detectados pelos norte-americanos.
Resumindo…
De uma maneira geral, todos os países analisados por esta ou aquela razão estão mal-qualificados. Todos? Não!! como diriam Goscinny e Urdezo (autores de Asterix) há um país que se mantém irredutivelmente imune às violações dos Direitos Humanos: os E.U.A!
Tem-se visto…
3 comentários:
As forças norte-americanas anunciaram hoje que vão transferir nos próximos três meses os detidos da prisão iraquiana de Abu Ghraib, sob seu controlo, para um outro centro de detenção em Camp Crooper, perto do aeroporto de Bagdad. Esta prisão, abalada em 2004 por um escândalo de sevícias infligidas aos prisioneiros iraquianos por militares norte-americanos deverá ser fechada logo que os seus 4.537 detidos sejam transferidos para um outro local, segundo este porta-voz.
OC
Se me permite, caro Eugénio, acho que a sua análise padece do preconceito pelo handicap relativamente à fonte. Sem o querer ofender, a minha estima por si absolve-me automaticamente (julgo), direi que este seu exercício (e veja bem, pois a contumácia é coisa que não lhe falece…) revela um vício próprio das posturas apologéticas. Isto é, uma denúncia vale ou não vale, ou tem retorno, independentemente dos factos, sobretudo segundo a proveniência. A modos que: se um burguês denuncia crime de um proleta bandalho, isso é calúnia automática porque parida na luta de classes, no caso por um explorador; se um proleta sindicalista denuncia crime de um patrão bandalho, o gajo é comuna e devia estar calado. As denúncias das violações dos direitos humanos deviam ser cidadãs e universais, por si e se verdadeiras, todas bem vindas se fundamentadas. Eu acho que o criminoso maior a apodrecer na Penitenciária, o maior entre os filhos de puta, tem direito a apontar o dedo ao Supremo Magistrado da Nação (ou ao Rei, se isto fosse Monarquia) se ele pisar o risco. Não devem existir “pecados originais” que anulem o direito à denúncia no combate à violação dos direitos humanos, porque então, o facto, a violação, vale menos que o crime, através da desqualificação da fonte (do denunciante). Todas as denúncias são úteis, desde que comprovadas. Facto é facto ou não o é, essa a Lei que defendo. Perdoe-me a veemência da indignação. Talvez desproporcionada. Se perdão tenho. Pelo sim ou pelo não, confiante que sim, segue abraço. João Tunes
Caro João Tunes, não o tenho de absolver de nada porque sei - ou julgo bem saber - que tudo o que escreve, sente, e como tal é digno de manifestar a sua indignação. Só se pede absolvição por pecados ou insultos e sei que da sua parte nada disto acontece. Por esse facto a sua indignação é pertinente e bm-vinda. Quanto à matéria eu não contesto o relatóriopelo que contém - até porque ele contém mais do que escrevo - mas pelo que não contém ou pela meias-verdades. Por exemplo, no caso dos PALOP os governos passam quase incólumes e as violações são de outros. Ora sabemos que uns não estão livres dos outros. Se há corrupção, violações policiais, perseguições a políticos e jornalistas e tráfico e prostituição de certeza que os governos também o sabem e, em regra, nada fazem. A minha maior denúncia ou "desprazer" está naquilo que os analista do Tio Sam omitem: as torturas em prisões iraquianas e de Guantanamo. A vergonha deve começar na nossa casa para podermos continuar a manter a nossa postura vertical. Isto de ver a casa dos outros sem ver a nossa... nunca apreciei. Um reiterado obrigado pelas suas sempre agradáveis e pertinentes mensagens aqui ou via e-mail.
Um grande e fraterno kandando.
Eugénio Almeida
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