09 maio 2007

Angola no clube nuclear? - artigo

Tal como já tinha referido num apontamento anterior, Angola, que já é membro da Agência Internacional de Energia Atómica (AIEA) desde 1999, parece se preparar para entrar no clube dos países com energia nuclear.
Na altura referi que parecia ser o momento para recuperar um artigo que escrevi em Abril de 2003, por ocasião da intervenção norte-americana no Iraque e pela sua nova doutrina de tudo questionar o que fosse susceptível que colocar em causa a super-hegemonia dos Estados Unidos da América.
O texto, em questão, foi enviado para o Jornal de Angola não o sabendo se alhguma vez foi ou não publicado.
Em qualquer dos casos pela oportunidade aqui fica o texto, entretanto, ontem publicado na minha coluna do , sob o título acima que acompanhava uma pequena explicação do mesmo.

"“ANGOLA QUE SE CUIDE”

Quando há algumas semanas deixei no ar a hipótese da emergente Guerra do Golfo II não se ficar somente pelo Iraque alastrando-se por países limítrofes (Síria e Irão) esperava que a Coligação tivesse alguma contenção e, caso mantivesse a sua atitude de prolongar o conflito por aqueles Estados, o fizesse o mais tarde possível.
Todavia, constata-se que essa não é o pensamento do membro mais poderoso, ou mais beligerante, da Coligação. De facto, desde o final desta semana que a Administração Bush, quer através do seu presidente Bush, quer por via do Secretário da Defesa, Rumsfeld, ou do doutrinador Secretário-adjunto da Defesa, Wolfowitz[1
], vem deixando no ar a hipótese de “punir” a Síria, um dos “parceiros do Eixo do Mal”, reconhecendo-a, agora, como um Estado ditatorial mas, acima de tudo, um Estado fomentador e co-financiador de movimentos terroristas anti-israelitas – o Hezbollah é o caso mais evidenciado, por também apoiado pelo Irão -, guardião de material bélico químico-biológico e de acoitar antigos membros e dirigente políticos iraquianos.
Mas porquê a Síria e não o Irão. O maior inimigo dos norte-americanos e com quem mantém uma questão de vingança nunca resgatada. Além de tudo mais, os iranianos são os maiores defensores do islamismo e dos maiores financiadores movimentos anti-judaicos e, ou, não-cristãos.
É simples; a Síria está próxima do Estado de Israel e vem reclamando, ao um tempo a esta parte como contrapartida de um abrandamento de atentados contra Israel a partir do Líbano e da Síria, a devolução dos estratégicos Monte Golan perdidos nas Guerras dos 6 dias (1968) e de Yon Kippur (1970). Por outro lado é preciso não esquecer que os principais, e maiores, financiadores dos EUA são financeiros judeus, ou pró-judaicos, sedeados em New York. Daí que os sírios sejam, ou perfilem-se, como a próxima vítima do neo proto-hegemonismo americano; isto apesar do outro parceiro da Coligação o vir desmentindo sistematicamente essa possibilidade. Os interesses que os britânicos mantém naquele país são muito importantes. Por outro lado, um Estado de Israel muito forte seria o completo redesenhar do Médio Oriente. E isso a Europa nunca iria, de todo, aceitar.
E depois da Síria, será o Irão? a Jordânia – antigo aliado, ou não hostilizador, do Iraque? a Coreia do Norte? – que a própria Rússia, pela voz do seu vice-Ministros das Relações Exteriores, Alexander Lossioukov, já considerou ser uma zona muito complicada e aconselhou os norte-coreanos a colaborarem com as autoridades onusianas? o Sudão, a Líbia? Como referia há dias o meu colega e amigo Prof. Mário Pinto de Andrade, em entrevista à TPA, os EUA começam a sentirem-se como a hiperpotência com falta de um contrapeso à sua crescente influência no areópago internacional.
Mas, e o que pode ter isto a haver com Angola? Qual tem sido a desculpa dos EUA e dos países da Coligação para atacarem, ou veladamente ameaçarem, os diferentes países? Serem portadores de armas de destruição maciça, química e biológica.
Mas dirão que Angola não se enquadra nestes parâmetros. E o Iraque provou-se a existência de armas deste calibre? Até agora parece que não. Mas tinha mísseis balísticos; de facto. Tal como a Síria, como o Irão, como a Coreia do Norte, como a China, como a Rússia, e como os EUA ou o Reino Unido. Só que estes cinco últimos têm-nos intercontinentais.
E Angola, só deverá ter uns pequenos projécteis balísticos de curto alcance. Alguns poucos SAM6 dos primórdios da Guerra-Civil. De facto. Mas podem ser carregados com uma qualquer bactéria. É que Angola, como qualquer Estado que se quer desenvolvido, e utilizando a sua “massa cinzenta”, deverá querer criar laboratórios para estudar e desenvolver meios veiculares que protejam a sua população de diferentes endemias, como a cólera, a febre amarela, a malária, etc. Ora estas endemias para serem combatidas têm de ser armazenados alguns genes para, mais tarde, poderem ser feito vacinas. Pois essa armazenagem, na concepção de alguns dirigentes americanos, tornam esses Estados em potenciais Estados do Mal, por portadores de agentes químicos.
E com a solidificação da Paz, Angola começa a perspectivar-se como uma potência local... E de potência local a potência regional com capacidade de projecção... É preciso que eles deixem. Uma vez mais vou beber às palavras do analista e académico Mário P. de Andrade “... é necessário criar um contrapeso à crescente influência dos EUA no Mundo.” E a ONU não me parece ser, actualmente, a entidade ideal.
.
[1] O Secretário-adjunto da Defesa, Paul Wolfowitz, defende a “Teoria do dominó”, que consiste na mudança completa do mapa político do Médio Oriente. Segundo alguns analistas americanos, esta tese já está a ser implementada, tendo-o sido pelo elo mais fraco, o Iraque.

14-Abr-2003"

Uma nota complementar que foi colocada no artigo do NL:

"Parece que quatro anos depois o texto não perdeu assim muito da sua actualidade. Porque na altura se só pensava em produtos bacteriológicos agora já se pode pensar, também, em ogivas nucleares.
Angola diz que a acontecer o desenvolvimento nuclear será só para fins pacíficos e energéticos.
Mas alguém acredita que os EUA acreditarão nisto?
Basta olhar para o Irão…
"

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