24 outubro 2008

Que se lixem os pequenos investidores?

(©foto diário.iol.pt)
Já há um tempo que circula, reforçado recentemente, nas ondas netianas uma informação sobre o, por acaso é uma, CEO da EDP Renováveis e os montantes que a citada pessoa irá auferir anualmente. Por acaso, aqui já tinha sido referido o assunto há mais tempo.

Não tenho nada a comentar quanto ao facto do tal CEO – que eu saiba em português esta figura não existe, o que existe é Presidente do Conselho de Administração que nem sempre corresponde ao CEO americano – ser uma senhora. Se o é e foi escolhida foi porque já terá demonstrado ter capacidade para o ser.

Não tenho nada a comentar quanto ao tal vencimento que a citada CEO está a auferir anualmente – se for verdade o que se escreve, só no primeiro ano, andará na casa dos 1,1 milhões de euros (384 mil em vencimentos e o restante em prémios) – apesar de, nos tempos que correm e quando todos andam a criticar os elevados vencimentos recebidos por administradores financeiros, ser um montante, no mínimo escandaloso; como alguém andou a fazer contas, aos preços actuais, corresponderá, grosso modo, a 2.000 salários mínimos ou, por outras palavras, o trabalho de 143 anos pelo salário mínimo; reconheça-se que…

Agora o que não entendo nem suporto é que se venha a constar, segundo as ondas netianas, reafirme-se, que alguém junto da tal CEO, terá afirmado que não haveria distribuição de dividendos até 2020!!!! Uma acusação grave que merece uma intervenção da Comissão de Mercado de Valores Mobiliários (CMVM).

E merecem – leia-se, exige-se, – que a CMVM intervenha porque as acções colocadas no mercado pela EDP foram de 8,00 euros, o preço máximo, e que as mesmas estão, actualmente, nos 3,798 euros (PSI20 às 16,45 horas de 24 de Outubro de 2008 no sapo.pt/Economia). Parece-me, claramente, que houve um dumping – penso que é assim que se define valores acima do mercado, se não for que me rectifiquem que agradeço – na colocação das acções no mercado. Ou seja, actualmente as acções e em pouco mais de 4 meses, valem menos de 50%; e já depois de, no
primeiro dia, ter registado uma acentuada quebra e no primeiro semestre de 2008 ter obtido cerca de 50 (CINQUENTA) milhões de euros de lucro!!!!

E a confirmar-se aquela acusação, boato, mujimbo, ou diz-se que diz-se, que não haverá distribuição de dividendos antes de 2020 mais as acções irão desvalorizar pondo em causa todo o investimento que os pequenos investidores colocaram na EDP-Renováveis. A CMVM tem de investigar este facto. E, penso, que também o Governo português o deverá fazer dado que, por certo, ainda será detentor de acções quer da EDP quer da EDP-Renováveis, ou não fosse a primeira, uma empresa estratégica na economia portuguesa.

Que a senhora aufira aqueles vencimentos, que o receba. Deverá ter sido escolhida por qualidades administrativas e não, por certo, que em Portugal isso já nem existe, se não seria corrupção, por cunha. Mas que os pequenos investidores sejam obrigados a pagar os desvarios daqueles que serão os “tubarões” das finanças e verem as suas poupanças irem para o cano de esgoto porque alguns estarão, talvez, a por a recato, mesmo com acentuadas menos valias, os seus fundos – a confirmarem-se as palavras, de ontem, de Nouriel Roubini, antigo conselheiro sénior do Tesouro dos EUA e professor da Universidade de Nova Iorque, de centenas de fundos de investimento poderem falir em breve, o que poderá levar os responsáveis políticos a encerrar os mercados financeiros por uma semana ou mais, uma vez que a crise irá obrigar os investidores a vender em massa os seus activos, então iremos assistir, claramente, a “suicídios” de muitos pequenos investidores (ver
aqui ou aqui).

Cabe à CMVM e ao Governo português, se este não estiver muito ocupado com tricas pré pré-eleitorais, verificar tudo o que se passa na EDP-Renováveis e evitar crises muito profundas nas famílias. Os pequenos investidores não têm de pagar pela incompetência de quem deveria fiscalizar o mercado mobiliário e financeiro. Seja na Europa, seja nos EUA.

1 comentário:

Orlando Castro disse...

Pois é! Mas nas histórias da macro-economia do reino (o tal que, como costumo dizer, se situa a norte da Marrocos), a moralidade, transparência e até legalidade são termos inexequíveis. No reino impera o primado da economia (mesmo que selvagem) sobre o da política (mesmo que séria). Assim sendo, não há CMVM que valha a todos aqueles que (ainda) acreditam que Portugal é um Estado de Direito.

Kdd