Com a devida vénia a Fernando Casimiro esta interessante “Carta aberta do professor reformado “Galo Garandi” para o Presidente da República da Guiné-Bissau, João Bernardo “Nino” Vieira”
Há nesta acusações graves que, num Estado de Direito, deveriam – têm – de ser investigadas, julgadas e rectificadas.
A Guine-Bissau merece-o e quero continuar a acreditar que a Guiné-Bissau é um Estado de Direito.
Excelentíssimo Senhor General João Bernardo Vieira Presidente da Guiné-Bissau
Bissau, 3 de Julho de 2006
Assunto: Não deixe linchar o seu povo
Antes de mais os meus sinceros e respeitosos cumprimentos e votos para queesta minha missiva lhe encontre de boa saúde e felicidade junto da sua família e amigos. Volvido um largo tempo, entre esta e a última carta que lhe escrevi, mais precisamente em 06 de Junho de 2005, estou aqui de novo e sempre guiado pela amizade e admiração que nutro por si, principalmente quando me recordo do seu passado de grande combatente.
Por amizade e admiração, pois não sou dos que utilizam a arma da traição, volto a escrever-lhe esta carta, na minha persistente tentativa de tentar ajudar-lhe a repensar a sua actuação, enquanto Presidente eleito, para exercer o seu mandato como primeiro mandatário da nação guineense.
Senhor Presidente,
O que leva um cidadão comum, ou seja, um velho professor já reformado a fazer-lhe uma carta deve ser motivo de preocupação tendo em conta o que deveria ser os seus muitos «affairs d'Estado»
Por isso, peço-lhe uma pequena atenção para o seguinte assunto, pois o povo está novamente a ser linchado e aparentemente, com o seu beneplácito ou conivência, embora isso me custe a reconhecer, pois prefiro continuar a dar-lhe o benefício da dúvida e assim sendo, aproveito para lhe contar o que me vai na alma, na expectativa de que o meu grande ídolo, o destemível “Kabi na Fantchamna” ou o lendário “Nino” volte a ser o que foi e nessa qualidade justamente consagrado um herói vivo dos guineenses.
Passemos então ao que interessa:
É um verdadeiro linchamento e insulto à constituição da Sociedade “Guiné-Bissau Marketing e Gestão, S.A.”, feita em 26 de Maio de 2006 (fls 54 Verso-59 do livro n° 8/06, do Cartório Notarial de Bissau), com um capital social de 10 Milhões de F CFA e cujos outorgantes são:
Primatura (60%), o seu/nosso ilustre Primeiro-Ministro, Dr. Aristides Gomes;
Ministério do Comércio (10%), representado pelo seu Ministro Dr Pascoal Baticã Ferreira, o tal desastrado (que não se demitiria com o seu líder Fadul por defender os interesses do povo?) que prometeu comprar a castanha aos guineenses a 500 F/Kg para depois passar para 350 F e por fim estar a comprar, em proveito próprio e pessoal, a 150 F;
Ministério da Economia (10%), representado pelo Dr. Rui Diã de Sousa, também Ministro da Presidência do Conselho de Ministros, na ausência (?) do super dotado Ministro Issufo Sanhá que mais uma vez se soube antecipar e esquivar-se da turbulência dos seus pares;
Ministério das Finanças (10%), representado pelo seu Ministro Dr. Victor Mandinga, empresário e mágico de finanças públicas que com três meses de salários em atraso consegue baixar, em proveito pessoal e próprio, as taxas de importação de arroz para, por um lado, matar a produção local e, por outro, reduzir as receitas do Estado ao mesmo tempo que aumenta a margem, digamos, a sua margem de lucro na troca de 1 Kg. de arroz por 2 Kg. de caju;
Ministério do Turismo e Ordenamento do Território (10%), representado pelo corrupto Ministro Conduto de Pina que em menos de seis meses de falcatruas simulou vender as instalações da ANP a Areski com luvas pelo meio (e outras coisas que desvendaremos no momento próprio), bloqueou a venda do Hotel “24 de Setembro” metendo o seu compadre na gestão do dito hotel (e outras ilustres damas da praça de Bissau que reaparecem com a reinstalação do Don Juan no poder);
Repare-se que esta sociedade anónima tem como objecto «a promoção da imagem, comércio geral import/export de quaisquer bens ou serviços e investimentos na Guiné-Bissau» embora também lhe seja «permitida a participação em agrupamentos complementares de empresas, bem como em quaisquer sociedades, nacionais e estrangeiras, desde que comunguem dos mesmos objectivos».
Senhor Presidente,
Este acto publico é grave e atentatório aos mais elementares princípios que regem a gestão da coisa pública.
Alguém poderá explicar o aparecimento do senhor Afonso Té, oficial do exército, como Administrador/Director Geral da empresa?
Como é que o senhor Jorge Domingos Malú, figura eminente da ANP e primo irmão do Ministro Rui Diã de Sousa, aparece como dirigente desta sociedade?
Existe um acto de corrupção pública registado no Cartório Notarial para completo menosprezo à inteligência dos guineenses e arrepio da decência. Afinal com que outra sociedade mais concorrerá esta associação privada de mafiosos presidida pelo Primeiro-Ministro que de anónimo só tem o nome e que suja o nome do Governo de um país a braços com as consequências nefastas duma guerra em que o povo foi o único e verdadeiro perdedor?
Será que o Governo pensa que os agricultores e empresários (guineenses e estrangeiros) ainda não compreenderam o porquê do falhanço programado, premeditado e pilotado da campanha de comercialização do caju orquestrada pelas instituições do Estado (Primatura, Finanças, Comércio, etc.) que juraram defender os interesses do povo?
Será que o povo ainda não compreendeu as razões da política de zig-zag do Governo em relação a campanha que está na origem da fome que se está a alastrar em todo o país?
Será que o povo ainda não compreendeu porquê que os direitos aduaneiros de importação foram reduzidos e o preço da castanha caiu para 90-150 F/Kg?
O povo já farto das despesas com viagens e a corrupção que se reinstalou no Tesouro Público, nas Pescas, nas Obras Públicas, no Comércio, no Turismo, etc, etc exige uma acção enérgica do Presidente sob mais este acto de corrupção do seu Governo e apela ao PNUD, ao Banco Mundial, ao FMI, à União Europeia, Portugal, França, à CEDEAO, ao Senegal, aos lideres políticos nacionais (Francisco Fadul, Carlos Gomes Júnior, Kumba Yalá, Francisco Benante, Artur Sanhá, laia Djaló, Zinha Vaz, Amine Saad, etc) e aos órgãos de comunicação social para que ajudem a pôr cobro a estes desmandos e actos de corrupção que, despudoradamente grassam neste Governo e que só precipitam o país para o abismo e a instabilidade total.
Senhor Presidente,
Como guineense que o apoiou convictamente e acreditou na sua recuperação e arrependimento, só lhe peço que pare, pense e poupe este povo de mais sofrimentos. Numa palavra: não deixe linchar o seu povo.
Será pedir muito?
Do seu velho e fiel amigo, hoje como reformado depois de tantos e muitos anos de docência, que começa a questionar se valerá a pena continuar com este tipo de preocupações em aconselhar que já deu sobejas mostras de não querer aprender com as lições do passado.
Creia-me sinceramente, senhor General-Presidente que continuo a pensar que nunca é tarde para corrigirmos os nossos erros ou defeitos, desde que não sejamos arrogantes e muito menos teimosos.
Do velho professor e amigo. Muito obrigado!
Bem-haja senhor General.
"Galo Garandi”
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