Quem não quer a Paz em Angola? e quando falo em Angola, falo de Cabinda ao Cunene e do Lobito ao Luao.
Já aqui há dias abordei esta matéria referente ao Compromisso de Paz para Cabinda. Tal como nessa altura, volto a reafirmar que Cabinda deve gozar de um estatuto especial, não só pela sua especificidade como, e aqui reportava a um interessante artigo de Joffre Justino, no Notícias Lusófonas “Cabinda necessita de solução urgente”, pela sua exiguidade territorial – apesar dos seus 7300 km2.
Depois de cerca de 30 anos de guerras e guerrilhas quase inúteis, angolanos e cabindenses apesar das dificuldades em encontrar interlocutores se têm sentado frente-a-frente e negociado uma Paz que possa satisfazer ambas as partes, onde o compromisso deve – tem de – ser o da equidade.
Parece que isso aconteceu em Chicamba (Chicamba e Simulambuco estão interligados), no passado dia 30 de Junho onde um Compromisso, nesse sentido, foi assinado entre os representantes de Luanda – Chefe Adjunto do Estado-Maior, General Nunda, acompanhado de vários Generais e outros Oficiais Superiores das Forças Armadas Angolanas (FAA) – e do Fórum Cabindês para o Diálogo (FCD) – António Bento Bembe, o mais contestado, pelo Secretário da Defesa da FLEC, o Chefe do Estado-Maior Adjunto das Forças Armadas de Cabinda (FAC Unificada) – embora Estanislau Boma, CEM da FACU, não reconheça o Compromisso –, assessorados por vários Oficiais Superiores desta organização paramilitar – e autenticado pela presença de países vizinhos e observadores internacionais “credíveis que trabalham para a pacificação de Cabinda”.
De, imediato, alguns quantos, contrariando a posição do Conselho Nacional do Povo de Cabinda (Nkoto Likanda), que reconheceu legitimidade a António Bento Bembe para negociar a resolução do conflito com o Governo de Angola, decidiram que o referido Compromisso estava inquinado e carecia de legitimação; ou porque Bento Bembe não estava legitimado para assinar qualquer documento fosse em nome da FCD ou da FLEC, segundo palavras de Nzita H. Tiago, presidente(?) desta última; ou porque o documento foi imposto pelo governo de Luanda, nas palavras da “Mpalabanda”; ou, segundo um padre da Diocese de Cabinda, porque é um compromisso obscuro onde não estão envolvidos todos os membros da FCD … enfim, houve quem, com ou sem razão, decidisse que tudo o que se estava a fazer, ou se tinha feito, não merecia qualquer credibilidade.
Mas o problema maior começa, precisamente, na credibilidade dos contestatários. Não esqueçamos que alguns dessas pessoas que vêem no Compromisso um documento do Diabo, estão ligados a organizações onde as diferenças e divergências internas têm sido tudo menos pacíficas e credibilizadoras.
Ou seja. Tal como no Memorandum de Entendimento de Luena, que trouxe a Paz a Angola – boa ou menos boa é a ainda possível –, não foram os políticos que negociaram o Compromisso, mas os militares. Resumindo, aqueles que, no terreno, melhor conhecem as dificuldades em fazer uma Paz credível.
Talvez seja por isso que a oposição (UNITA, FNLA, PLD, PDP- ANA, FpD, PAI e POC) embora sublinhando a natureza positiva do Compromisso e da paragem de actividade militar no enclave, criticam o facto de terem estado à margem do processo negocial e pedem que não se excluam outros elementos para que a Paz seja duradoira a fim de que haja uma maior abrangência no processo negocial a favor da Paz.
Aqui reside o problema. E saber quem, ou quais, ou quem são, os excluídos? uma presidência da FLEC que está no exterior que, além de não ser reconhecida pelos membros do Secretariado Executivo da FLEC, que estão no interior do enclave, têm no seu seio personalidades estrangeiras que tentam impor directrizes como o encerramento de um órgão informativo? alguns padres católicos, liderados pelo padre Congo, que, não raras vezes, contesta a hierarquia religiosa, assumindo-se quase como um “Ximenes Belo” cabindense?
O que interessa é que a Paz em toda Angola venha e que venha para ficar!!!
É que com ela ganharemos todos nós; os do enclave, os do quadrilátero, os militares cansados da guerra, os empresários, a economia, os políticos e – last but not least – o eleitorado angolano…
ADENDA: Esta análise foi publicada hoje, sob forma de Artigo de Opinião, no Africamente.com onde também pode lê-la.
1 comentário:
Embora quando falo em Angola não fale de Cabinda ao Cunene e do Lobito ao Luao, concordo com a sua análise. E se essa for a vontade, consciente e livre, de todos os Cabindas, não me custará passar a falar de Cabinda ao Cunene...
Kandando
Orlando Castro
Enviar um comentário