28 julho 2005

Uma análise irónico-socrática lusitana

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Uma vez por outra, não tenho qualquer pudor em colocar aqui assuntos que digam respeito à política interna portuguesa, mesmo que eles tenham sido tratados por terceiros.
Se também aqui vivo devo, naturalmente, ter a minha quota-parte de participação na vida social portuguesa.
É aqui, que os meus impostos são pagos, logo, é aqui que devo verificar como eles são utilizados.
E foi por isso que tomei a liberdade de “roubar” esta excelente análise irónico-socrática, de Orlando Castro, na sua rubrica
Alto Hama, no NL.
Um mimo a não perder e ler na íntegra.
O NL que me perdoe em não endereçar para o sítio, como normalmente faço, mas creio que não sairia clara e escorreita a análise se fossem respigados só alguns trechos da mesma.

"Poderá o burro de Sócrates viver sem comer?


Numa coisa o governo português tem razão. O país vive uma séria crise. Para dar a volta ao problema é preciso fazer alguma coisa do tipo “para grandes males, grandes remédios”. Segundo Sócrates, os grandes remédios são, entre outros, a OTA e o TGV, investimentos bem superiores a 25 mil milhões de euros. Será mesmo assim? Ou, pelo contrário, vamos acabar por descobrir que quando o burro estava quase a aprender a viver sem comer... morreu?

É claro que, apesar dos maus exemplos que se (des)conhecem, fica bem dizer que pôr um burro a viver sem comer é, seria, um investimento estruturante. Então ressuscita-se a tese de que o segredo está em avultados investimentos públicos (ou seja, com grande parte do nosso dinheiro) que, como sempre, correm o risco de criar mais uma série de elefantes brancos.

Quando se deve pedir, e isso sim seriam grandes remédios, contenção orçamental, aposta clara e inequívoca nos sectores produtivos, e exemplar moderação nos gastos de todos nós (a começar por cima), José Sócrates joga em sentido contrário, ou não fosse ele dono da verdade.

Portugal pode avançar com o novo aeroporto da OTA, com o comboio de alta velocidade e coisas similares. Este governo está descansado, tal como esteve o de António Guterres, porque a factura será paga por outros. E se esses outros não tiveram como pagar, a falência é sempre uma solução.

Sócrates quer, de facto, ficar na história como o político que conseguiu pôr o burro a viver sem comer. Ninguém duvida que se tal for conseguido, o primeiro-ministro não ficará na história, será ele próprio a história. No entanto, (quase) todos sabem que tal não é possível.

É que, quer se queira quer não, ninguém demonstrou de forma credível, isenta e conhecida que o burro (OTA e TGV) tem alguma hipótese de sobreviver. Quanto o ex-ministro das Finanças, Campos e Cunha, levantou algumas dúvidas sobre o “animal”, foi pregar para outra freguesia."

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