20 abril 2005

Entrou Prefeito saiu Papa

Sobre a precariedade económica do Continente Negro e sobre as críticas às atitudes e às responsabilidades do Ocidente, em especial do Banco Mundial e do FMI, não se pode atribuir apenas ao Ocidente a responsabilidade “pelo desnível económico entre o Norte e o Sul se ter tornado, não pequeno, mas maior”. Ainda de acordo com o novo Papa, Bento XIV, existem causas internas no Terceiro Mundo “ em especial a corrupção muitas vezes dominante e em não poucas regiões, também a falta do “ethos” (costume, moral, ética) do trabalho” ao que ainda se acresce a insalubridade da maioria da sua população.
Isto afirmava o então Cardeal Joseph Ratzinger, e a partir de hoje, Papa Bento (ou Benedito) XVI, em princípios dos anos 90, (citado na minha Dissertação Final para o Mestrado em Relações Internacionais, em Outubro de 2000).
Ratzinger achava que o Ocidente tinha prescindido completamente dos problemas éticos e pensou poder promover de modo puramente mecânico a criação de economias modernas, no que terá sido apoiado pelas próprias Igrejas que se tornaram defensoras desta ilusão materialista. Como Ratzinger afirmava aplicavam o princípio “pimum vivere, deinde philosophari” ou seja, era o primado dos benefícios do bem-estar e, só depois, se poderia falar de Deus.
Esta era a teoria mais inoportuna para o então prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé.
Daí que Ratzinger não se surpreendesse com a raiva que, na altura, o Terceiro Mundo nutria pela Europa e por América. Considerava que as civilizações e religiões africanas e as identidades latino-americanas sentiam as suas almas recalcadas, facto tanto mais evidente que após a saída de cena dos modela marxista da América Latina, a revolta vira-se contra a Europa e o cristianismo devido à repressão sofrida pelas civilizações ameríndas e pela escravatura africana deportada para a América e, subsequentemente, com perca da sua identidade cultural e religiosa.
Ou seja, segundo palavras de Ratzinger, para o pensamento dos latino-americanos a Europa e o cristianismo serão sinónimos de poder, domínio e produtores de alienação.
Afirma, também, que a África vê o Cristianismo sofrer dessa regressão com a acentuada tendência das grandes Igrejas em se fragmentarem em inúmeras seitas, com predominância em seitas de raiz norte-americana.
Estes eram alguns dos pensamentos do então Cardeal Joseph Ratzinger, em princípios dos anos 90. Sobre as ideias do novo Papa Bento XIV e se estiverem preparados para tal, proponho-vos a leitura da sua obra A Igreja e a Nova Europa, Lisboa, Editorial Verbo, 1993.

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